“Corredor de fumaça” vai de Manaus a Porto Alegre, passando por países vizinhos; Fiocruz recomenda máscara com sistema de filtragem.
A fumaça dos incêndios na
Amazônia e no Pantanal já havia atingido o Sul e partes do Sudeste há cerca de
10 dias. O fenômeno foi interrompido pela massa de ar polar continental que
derrubou as temperaturas e trouxe alguma chuva ao Centro-Sul do país. O
“corredor” de poluição voltou a atacar agora, atingindo 10 estados e países
vizinhos.
Imagens de satélite da
Administração Oceânica e Atmosférica Nacional dos EUA (NOAA) e da NASA mostram
a fumaça avançando desde o norte do Brasil e da Bolívia para regiões do
Paraguai, Argentina, Mato Grosso do Sul, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. O
mapa da NOAA, reproduzido pela, mostra claramente a concentração de aerossóis – partículas na atmosfera
como poeira, fumaça e poluição, que podem bloquear a luz solar.
Em Manaus, o Sistema
Eletrônico de Vigilância Ambiental (SELVA), da Universidade do Estado do
Amazonas (UEA), apontou na 3ª feira (20/8) um nível de material particulado de
35,9 µg/m3 em partes da cidade, explica a Onda Digital. Segundo
o Selva, para ser considerado “bom”, o ar precisa estar até 25 µg/m3.
Como a qualidade ruim do ar
tem sido uma constante na capital amazonense, a Fiocruz chegou a recomendar o
uso de máscaras com sistema de filtragem especial (N95 ou PFF2) no "período
crítico de exposição à fumaça".
E Porto Velho, em Rondônia,
vem registrando também uma das piores qualidade do ar do país desde o início de agosto, mostra o IQAir. O aeroporto chegou a
fechar por falta de visibilidade.
E seguindo a tendência dos últimos anos, é quando a fumaça chega ao Sudeste e ao Sul que a sociedade brasileira se dá conta da dimensão dessas queimadas, destaca o O Globo. As cidades mais afetadas pela fumaça ficam no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, mas a neblina também chegou ao Rio de Janeiro e a São Paulo. O fenômeno é facilitado pela onda de calor e pode voltar a acontecer até a próxima 6ª feira (23), segundo O Globo.
Segundo Estael Sias,
meteorologista da MetSul, a fumaça se
espalha por meio do "rio atmosférico de fumaça" – um paralelo com os
"rios voadores", que são enormes corredores de umidade atmosférica da
Amazônia até o centro-sul do país. Nesse momento de seca, sem umidade, o que
está sendo carregado pelos ventos que vêm do Norte para o Sul é a fumaça.
"Este ano, especialmente, são muitos meses de escassez de chuva, o que
favoreceu as queimadas e resultou em muita fumaça na atmosfera", explicou.
O número de queimadas na
Amazônia e no Pantanal vem batendo recordes neste ano. De janeiro até o início
de agosto, mais de 1,2 milhão de hectares foram consumidos pelo fogo no Pantanal. A Amazônia acabou de ter
o seu pior resultado para um mês de julho desde 2005, com 11.145 focos de
queimadas no bioma, segundo dados do Sistema DETER, do INPE.
g1, Veja, O Globo, ICL Notícias, Folha e GZH também
repercutiram o “rio de fumaça” das queimadas na Amazônia e no Pantanal.
Em tempo: O retorno do calor e da baixa umidade do ar pioraram a situação
dos incêndios no Pantanal de Mato Grosso do Sul. Segundo o Corpo de Bombeiros,
além dos focos que já estavam ativos, um novo foi registrado em Porto Murtinho
na 2ª feira (19/8), informa o g1.
Seca faz rio Negro atingir nível crítico, e Solimões tem menor cota para
agosto da história
Imagem de ribeirinho salvando boto
em leito seco do rio Madeira viraliza e revive trauma da estiagem de 2023, que
pode ser pior este ano.
Um vídeo que viralizou nas redes sociais escancara a gravidade da seca na Amazônia.
Nele, um ribeirinho está com um boto nos braços. O animal ficou encalhado em um
banco de areia no leito seco do rio Madeira, e o homem corria para levá-lo para
um trecho ainda cheio do rio, mostra o Portal do Holanda. Inevitável não lembrar dos mais de 100 botos mortos no lago Tefé, no rio Solimões, pela estiagem extrema e o superaquecimento da
água em 2023.
Assim como ocorreu em 2023,
a estiagem chegou antes do tempo habitual, afetando comunidades e a vida selvagem.
E tudo indica que a tragédia será mesmo pior neste ano. Somente no Amazonas, 20
municípios estão em situação de emergência por conta da seca, informam CBN, A Crítica e Amazonas Atual, com 27
mil famílias afetadas – 111.959 mil pessoas, segundo a Defesa Civil do estado.
No domingo (18/8), o
Solimões atingiu, em Tabatinga (AM), uma cota de 2 centímetros, a menor para o
mês de agosto desde o início das medições. Antes disso, o nível mais baixo já
registrado havia sido de 8 centímetros em 2005, lembra o Poder 360. Para se ter
uma ideia da gravidade deste recorde, a média para o mês é de 4,45 metros,
segundo o Sistema Integrado de Monitoramento e Alerta Hidrometeorológico
(SipamHidro).
Na 2ª feira (19/8), o rio
Negro atingiu um nível crítico de vazante em Manaus, com 22,76 metros, informou
a Defesa Civil do Amazonas. Dados do Porto de Manaus mostram que, só em agosto,
o rio caiu 2,42 metros, totalizando uma redução de 4,09 metros desde o início
da vazante. A situação é a mesma nas bacias do Alto Solimões, Médio Solimões e
Médio Amazonas. Todas, segundo a Defesa Civil, estão em nível crítico de
vazante, relata o g1.
Em julho, por causa das
previsões de temperatura acima e das chuvas abaixo da média, o Centro Gestor e
Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (CENSIPAM) e o governo do
Amazonas alertaram para a possibilidade de seca severa na região. O pico da
vazante ainda é esperado para outubro, tanto no Solimões, como nos rios Negro e
Amazonas.
Polícia prende suspeitos por morte de líder indígena na Bahia
A Polícia Civil baiana prendeu oito
pessoas suspeitas de envolvimento na morte do indígena Lucas Kariri-Sapuyá em
dezembro de 2023, em Itaju do Colônia.
Depois de meses de
investigação, a Polícia Civil da Bahia prendeu na última 2ª feira (19/8) oito
pessoas suspeitas da morte do líder indígena Lucas Santos de Oliveira, também
conhecido como Lucas Kariri-Sapuyá. Ele era cacique de uma aldeia Pataxó
Hã-Hã-Hãe e um dos coordenadores do Movimento Unido dos Povos e Organizações
Indígenas da Bahia (MUPOIBA).
O crime ocorreu em dezembro
de 2023, quando a vítima foi alvejada por dois homens armados enquanto passava
pela estrada que dava acesso à comunidade em que vivia, no município de Itaju
do Colônia. De acordo com a Polícia Civil baiana, os suspeitos foram localizados
após um trabalho tático e de inteligência que envolveu cerca de 200 agentes.
Foram executados 27 mandados de prisão, busca e apreensão, que também
resultaram na captura de duas armas de fogo e munição, 11 celulares, pacotes de
drogas e uma balança de precisão. Os nomes dos suspeitos não foram divulgados.
Uma das principais frentes
de atuação do líder indígena era em defesa da Terra Caramuru-Catarina
Paraguassu, que possui um longo histórico de conflitos fundiários entre
indígenas e fazendeiros da região sul da Bahia.
Os investigadores não
confirmaram as possíveis motivações para o crime, mas representantes indígenas
acusam pistoleiros a mando de fazendeiros locais como responsáveis pela morte
de Lucas Kariri-Sapuyá. As tensões se intensificaram desde o ano passado por
conta de embates entre fazendeiros e indígenas pelo controle de fazendas dentro
do território indígena.
Em janeiro, uma ação ilegal
de retomada de uma fazenda dentro da reserva resultou na morte da líder
indígena Maria de Fátima Muniz, a Nega Pataxó. O suspeito, um homem de 19
anos que seria filho de um dos fazendeiros, foi preso em flagrante. A ação
teria sido orquestrada pelo grupo
miliciano “Invasão Zero”, que também está envolvido com episódios de violência
contra indígenas em outros estados.
A Tarde, CNN Brasil, Folha e g1, entre outros,
repercutiram as prisões dos suspeitos pela morte de Lucas Kariri-Sapuyá na
Bahia.
Em tempo: O ministro Ricardo Lewandowski (Justiça e Segurança Pública)
instituiu uma sala de situação para acompanhar as ações de segurança na região
da Terra Indígena Panambi-Lagoa Rica, no Mato Grosso do Sul. A região foi
tomada por episódios de violência contra indígenas no último mês, o que forçou
o retorno da Força Nacional de Segurança Pública. De acordo com a CNN Brasil, o governo
federal também trabalha junto ao Supremo Tribunal Federal (STF) para destravar
o processo de demarcação do território, prejudicado pelo inconstitucional marco
temporal, aprovado para restringir os Direitos dos Indígenas às suas terras
ancestrais. Correio Braziliense e Valor também
abordaram a notícia.
Grileiro lucra R$ 780 milhões com venda de créditos de carbono e madeira
Suspeito que participou da COP28 criou esquema para tomar uma área pública do tamanho Distrito Federal no Amazonas e desmatá-la.
O Fantástico (TV Globo) deu
destaque à história de um médico do interior de São Paulo que comandou um
megaesquema de fraude de créditos de carbono gerados em Terras Públicas
invadidas no Amazonas. Ricardo Stoppe Júnior teria lucrado R$ 180 milhões com a
venda desses créditos de carbono certificados e mais de R$ 600 milhões com a
extração ilegal de madeira.
O esquema fraudulento
envolvia a duplicação e a falsificação de títulos de propriedade, o que
resultou no roubo de cerca de 538 mil hectares de Terras Públicas na região de
Lábrea (AM). Os crimes ocorriam há mais de uma década, mas se intensificaram
nos últimos três anos, com certidões falsas emitidas por um servidor da
Secretaria de Terras do Amazonas (SECT/AM).
Segundo a PF, o esquema
também envolvia funcionários de cartórios da região e do INCRA. Os policiais
conseguiram gravar conversas telefônicas que comprovam a negociação e o
pagamento de propinas.
O Fantástico também mostrou
como Stoppe se promovia publicamente como um grande player do mercado de carbono brasileiro. Ele participou
da última Conferência da ONU sobre o Clima (COP28), realizada em novembro de
2023 em Dubai, nos Emirados Árabes, como o “rei do crédito de carbono” no
Brasil.
Em junho, a PF começou a
desbaratar o esquema criminoso por meio da Operação Greenwashing, que cumpriu mandados de prisão preventiva, inclusive contra
Stoppe, e busca e apreensão em seis estados. Além do empreendimento ilegal em
Lábrea, o grupo também operava dois projetos
de geração e venda de créditos de carbono no sul do Amazonas, em um esquema que
pretendia utilizar mais de 3,5 milhões de hectares de área grilada.
Em tempo: O governador do Pará, Helder Barbalho, confirmou que o estado
pretende fazer sua primeira emissão de créditos de carbono durante a Semana do
Clima de Nova York, que acontecerá em paralelo à reunião da Assembleia Geral da
ONU no final de setembro. De acordo com Barbalho, a comercialização será feita
pelo valor de US$ 15 por tonelada, acima da média do mercado. “Isso [acontece]
pela qualidade do crédito, pela comprovação da redução das emissões do estado”,
disse o governador. A Folha deu mais
informações.
Energia solar ultrapassa a marca de 46 GW de capacidade instalada no
Brasil
Mais de 4 milhões de imóveis já são abastecidos pela geração própria solar em telhados, fachadas e pequenos terrenos; residências lideram o uso.
A geração de energia solar
ultrapassou a marca de 46 gigawatts (GW) de potência instalada em todo o país.
Somente neste ano foram instalados mais de 9 GW fotovoltaicos, somando os
segmentos de geração centralizada [projetos contratados em leilões do governo]
e distribuída [produção de eletricidade pelo consumidor]. A fonte já representa
19,4% da matriz elétrica brasileira.
Na geração distribuída [GD]
já são mais de 4 milhões de unidades consumidoras abastecidas por painéis
solares instalados em telhados, fachadas e pequenos terrenos, destaca Míriam
Leitão n’O Globo. Apenas em
julho houve a instalação de novos 100.000 sistemas nessa modalidade, que
totaliza 31 GW de capacidade instalada, destaca o Jornal do Comércio.
De acordo com a ABSOLAR, as
residências lideram o uso da tecnologia na GD, com mais de 2,8 milhões de
imóveis abastecidos – 70% do total de unidades consumidoras. O segmento é
seguido pelos estabelecimentos comerciais e de serviços, com mais de 674,4 mil
locais (16,8%). Logo depois vêm propriedades rurais, com 410,4 mil (10,2%),
indústrias, com 97,4 mil (2,4%), e prédios do poder público, com 12,1 mil
(0,5%). Os demais tipos de consumidores, como serviços públicos e iluminação
pública, somam cerca de 1,7 mil (0,1%).
Um outro indicativo de
expansão é a plataforma Meu Financiamento Solar, especializada em financiamento
para projetos de energia solar. Segundo o Portal Solar, o
volume de recursos cresceu 41% no 2º trimestre do ano em comparação com igual
período de 2023. A maior parte do crédito liberado foi destinada a projetos de
residências e empresas no estado de São Paulo. Logo depois vem Pará, Bahia,
Mato Grosso e Pernambuco.
Segundo a ABSOLAR, o setor
fotovoltaico nacional já atraiu mais de R$ 214,9 bilhões em investimentos,
gerou mais de 1,38 milhão de empregos no país e evitou a emissão de 55,6
milhões de toneladas de CO2 na geração de eletricidade, informa o Canal Solar. Os negócios no
setor fotovoltaico também garantiram mais de R$ 66 bilhões em arrecadação aos
cofres públicos.
Petróleo da morte: como a indústria de combustíveis fósseis alimenta a
guerra em Gaza
Nova análise revela como empresas e governos petrolíferos estão apoiando o esforço de guerra de Israel em Gaza, que matou mais de 40 mil pessoas.
Governos e empresas de
países signatários da Convenção da ONU sobre o Genocídio estão alimentando o
esforço de guerra de Israel na Faixa de Gaza, inclusive com o fornecimento de
combustíveis fósseis para essa operação de destruição. A conclusão é de uma
nova pesquisa divulgada nesta 3ª feira pela Oil Change International.
De acordo com a análise,
empresas petrolíferas privadas e de capital aberto forneceram coletivamente
mais de 2/3 de todo o petróleo consumido por Israel em março passado. Desse
total, metade foi vendida pelas grandes empresas do setor fóssil, vulgo Big Oil
- Chevron, BP, ExxonMobil, Shell, Eni e TotalEnergies.
Entre 21 de outubro de 2023
e 12 de julho de 2024, a pesquisa identificou 65 remessas de petróleo bruto e
produtos petrolíferos refinados a Israel. Mais da metade dessas remessas (54%)
partiram de seus portos de origem, depois de 26 de janeiro passado, quando o
Tribunal Internacional de Justiça (TIJ) opinou que Israel pode estar cometendo
crime de genocídio em Gaza.
Entre os países fornecedores
de petróleo a Israel, está o Azerbaijão, futuro anfitrião da COP29 de Baku,
responsável por 28% do suprimento de petróleo bruto por meio do oleoduto
Baku-Tbilisi-Ceyhan (BTC), operado pela BP. Itália, Albânia, Grécia e Gabão
também se destacam entre os principais vendedores de petróleo a Israel.
Outro fornecedor é o Brasil,
responsável por 9% do suprimento desde o início da guerra, o 4º maior de
Israel. A maior parte do fornecimento, no entanto, é feita por meio de Shell e
TotalEnergies. Um dos apelos da Oil Change International é de que o governo
brasileiro restrinja a comercialização de combustíveis com Israel.
Ao Guardian, um porta-voz
da Presidência da República afirmou que as negociações de combustíveis fósseis
são realizadas diretamente pelo setor privado, de acordo com as regras do
mercado. “Embora a posição do governo sobre a atual ação militar de Israel em
Gaza seja bem conhecida, a posição tradicional do Brasil sobre sanções é não
aplicá-las ou apoiá-las unilateralmente”, explicou.
Em tempo: Mais de mil sobreviventes de desastres climáticos nos EUA
ingressaram com um pedido conjunto de investigação contra as grandes empresas
de combustíveis fósseis do país por conta de crimes cometidos contra o clima
global. A carta, organizada
pelos grupos Chesapeake Climate Action e Public Citizen, pede ao Departamento
de Justiça norte-americano que averigue a responsabilidade do Big Oil por ações
de desinformação pública e pressão política sobre agentes governamentais para
evitar restrições ao setor.
“Sobrevivemos a furacões, inundações,
calor extremo, incêndios e outros perigos que impactam nossas vidas com mais
frequência e intensidade devido às mudanças climáticas”, destacou a carta.
“Embora nossas histórias e experiências sejam diversas, a má conduta da
indústria de combustíveis fósseis é uma linha consistente”.
Euronews e Guardian deram mais detalhes.
www.climainfo.org.br
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