Há cinco tipos de hepatites virais, que
podem ser adquiridas de formas diferentes; entenda cada uma e veja como
prevenirSintomas iniciais de hepatites são comumente confundidos
com dengue e gripe e o diagnóstico acaba vindo tardiamente
Pexels
28 de julho é o Dia Mundial de Luta Contra as Hepatites Virais. E é importante alertar sobre os sintomas, facilmente confundidos com gripe, dengue e outras doenças. O atraso no diagnóstico tem levado pacientes a sofrer com sintomas, sem saber o que de fato os acometem. Enquanto alguns pacientes são assintomáticos ou possuem sintomas brandos, outros evoluem para casos graves. E em quadros crônicos, o diagnóstico tardio pode evoluir para uma fibrose hepática.
Conforme
a médica gastroenterologista Juliana Ayres de Alencar Arrais Guerra,
gastroenterologista do Centro de Cirurgia, Gastroenterologia e Hepatologia
(Cighep), que fica no Hospital Nossa Senhora das Graças, em Curitiba, as
hepatites virais são infecções que causam inflamação do fígado. As mais comuns
são as hepatites A, B e C. Além destas, existem as hepatites D e E, que ocorrem
em situações específicas.
Hepatite
A
Transmitida
via fecal-oral, a hepatite A pode ser contraída através de água e alimentos
contaminados. “Para pessoas infectadas é recomendável o uso de banheiros
separados e utensílios próprios para evitar a disseminação”, explica a Dra.
Juliana. Os sintomas incluem febre, mal-estar, cansaço, náuseas, vômitos,
diarreia e icterícia (pele e olhos amarelados). Embora seja raro, pode evoluir
para um quadro grave, necessitando até de transplante hepático ou levando a
óbito. A vacina contra hepatite A está disponível no SUS para crianças com
menos de 5 anos, pacientes imunossuprimidos ou portadores de outras doenças
hepáticas. Em Curitiba, por causa do surto, a prefeitura abriu a vacinação para
trabalhadores do sistema de educação. No sistema privado, a vacina está
disponível para todos.
Hepatite
B
A
hepatite B é principalmente transmitida por via sexual, contato com sangue
contaminado e de mãe para filho durante a gestação e o parto. Nos casos agudos,
os sintomas incluem mal-estar, náuseas, vômitos, inapetência e icterícia. A
maioria dos casos agudos resolve-se sozinho dentro de seis meses, mas o vírus
pode causar hepatite aguda fulminante. Em casos crônicos, os pacientes
geralmente são assintomáticos e diagnosticados em exames de rotina. Hepatite B
tem tratamento medicamentoso, porém, na sua forma crônica, as chances de cura são
mínimas. Há somente vacina, disponível para todas as idades, oferecida
gratuitamente pelo SUS.
Hepatite
C
Transmitida
principalmente por contato com sangue contaminado (transfusão de sangue,
tatuagem, uso drogas injetáveis, alicate de cutícula, etc.). A maioria dos
infectados cronifica e permanece assintomática, sendo diagnosticada em exames
de rotina. A doença tem medicamentos que proporcionam alta taxa de cura. Não há
vacina para Hepatite C.
Hepatite
D
A
hepatite D só ocorre em pacientes com hepatite B e não tem cura. As vias de
transmissão são as mesmas e a maioria dos casos são assintomáticos. E quando
apresentam sintomas, são inespecíficos, como mal estar, náusea, vômito,
icterícia, etc. “A prevenção é feita pela vacinação contra a hepatite B,”
enfatiza a Dra. Juliana.
Hepatite
E
A hepatite E é uma causa frequente de hepatite viral no mundo, mas no Brasil, os casos são raros. Transmitida via fecal-oral, geralmente apresenta um quadro agudo e autolimitado, com sintomas semelhantes aos da hepatite A e permanece entre duas a seis semanas. Em gestantes, especialmente no segundo e terceiro trimestres, pode evoluir para um quadro grave e fulminante. Pacientes imunossuprimidos (transplantados, em quimioterapia, portador de HIV, etc.) podem desenvolver hepatite E crônica. Não existe vacina contra hepatite E. A prevenção pode ser feita por meio de melhora do saneamento básico e medidas de higiene.
A
prevenção das hepatites inclui vacinação (para hepatites A e B), uso de
preservativos, não compartilhar objetos pessoais que possam ter contato com
sangue e garantir boas práticas de higiene. Entre elas, a de lavar as mãos
muito bem depois de ir ao banheiro, cozinhar bem os alimentos e higienizar bem
os alimentos crus.
Cansaço
extremo e diagnóstico errado
O consultor imobiliário Eric Schneider Zanfelice, 44 anos, e a orientadora educacional Rosane Vargas, 43 anos, estão se curando de hepatite A. Ambos relatam a demora no diagnóstico, que só conseguiram após insistir e buscar outros médicos.
Eric conta que começou a sentir-se mal após uma viagem no feriado de Corpus Christi, em maio. Pensou que estava com dengue, pois apresentava mal-estar, indisposição e calafrios, mesmo sem ter febre. Mas os exames de dengue e influenza deram negativo.
Logo surgiu amarelamento do corpo, urina escura (amarelo forte, quase laranja), enjoo com vários cheiros (comida e produtos de limpeza) e cansaço extremo. Após quase três semanas e quatro médicos diferentes, ele foi finalmente diagnosticado com hepatite A no Cighep e ficou internado por três dias.
“Os sintomas se manifestam entre 15 a 50 dias após infecção pelo vírus. Foi antes da minha viagem, não sei como peguei hepatite”, relata Eric, que só depois de 40 dias muito debilitado voltou às atividades do dia a dia, ainda com restrições.
Diferente
de Eric, Rosane teve como primeiro sintoma a febre. Por duas vezes tomou
paracetamol, ficou melhor e voltou à vida normal. Até que a urina dela começou
a ficar escura. Como não costuma tomar água, ignorou. Mas aí veio muita dor
abdominal, nas costas e indisposição. Seu marido pensou que era dengue. E numa
primeira consulta, o diagnóstico foi infecção urinária.
Rosane
não acreditou no diagnóstico e procurou outro hospital. Descobriu a hepatite A
e ficou uma semana internada com muita dor abdominal, ânsia e o corpo
amarelado. Os sintomas da orientadora educacional começaram dia 6 de maio e ela
não sabe onde pegou a doença, já que em sua casa e na escola onde trabalha,
ninguém teve hepatite A.
Hepatite
no Brasil
Segundo dados do Ministério da Saúde, o Brasil teve pouco mais de 28.500 novos diagnósticos de hepatites virais em 2023. E entre 2000 a 2022, foram 750.651 novos casos. Desse total, o maior percentual é de hepatite C (39,8%), seguido de hepatite B (36,9%) e hepatite A (22,5%). Porém estima-se que mais de 1,5 milhão de brasileiros convivam com hepatites sem saber, pela falta de diagnóstico correto. Em relação aos óbitos, foram 85.486 entre 2000 e 2021.
Novos
casos de hepatite no Brasil em 2023:
- Hepatite A - 2.080
- Hepatite B - 10.091
- Hepatite C - 16.173
- Hepatite D - 109
- Hepatite E - 59
Curitiba enfrenta
surto de Hepatite A. Conforme a prefeitura, nos seis primeiros meses de 2024, a
capital registrou 366 casos e cinco óbitos. A cidade não tinha mortes por
hepatite A desde 2012 e nem tantos casos. Em 2023, foram cinco casos de janeiro
a junho e, em 2022, quatro registros no ano todo. E antes, a doença acometia
crianças com sintomas leves. Agora, os casos estão vindo em adultos, com
quadros agravados: 60% dos infectados foram internados e 3,2% foram para a UTI.
Nenhum comentário:
Postar um comentário