Encerrando dezembro, tenho refletido bastante sobre como
será o mercado de trabalho em 2024. Que tipos de mudanças ocorrerão? Quais
habilidades terão maior demanda? Especificamente nas últimas semanas tenho
visitado e trabalhado com minhas equipes na América Latina, buscando acompanhar
as tendências na contratação regional e que tipos de talentos e habilidades as
indústrias necessitam. Abaixo estão algumas das minhas observações.
Papéis na área de tecnologia crescerão, mas soft skills
serão necessárias para o sucesso contínuo
O próximo ano
parece promissor para o setor de tecnologia. Segundo um relatório recente da
nossa equipe na divisão Grafton da Gi Group Holding, as empresas estarão
contratando para acompanhar as demandas por inovação e o desenvolvimento
contínuo de ferramentas de IA, integrando elementos da tecnologia em soluções
de ERP e gerenciamento de operações, projetando soluções de cibersegurança cada
vez mais resilientes e ferramentas aprimoradas para análise de big data. No
entanto, analistas na região da América Latina alertam que todo esse avanço
será em vão se o uso das soft skills não acompanhar a mudança constante da
tecnologia. De fato, relatórios da Deloitte mostram que até 2023, dois em cada
três empregos na área de tecnologia demandarão o domínio de habilidades
interpessoais, enquanto dados do The Enterprise Project apontam que 67% dos
empregadores recusaram ofertas para cargos na área de tecnologia porque o
candidato não possuía as habilidades interpessoais necessárias. Isso significa
que gerentes de projetos, designers, engenheiros de software e outros
precisarão de habilidades aprimoradas em colaboração e inovação. Além disso,
uma pesquisa do LinkedIn cita a gestão como a habilidade número 1 necessária
para o talento em tecnologia: a capacidade de guiar equipes de projeto de
maneira ágil, com um forte nível de empatia e resiliência comprovada. É
interessante notar que as investigações do LinkedIn mostram uma leve divisão na
perspectiva sobre essas duas últimas habilidades: a empatia é preferida pelos
funcionários e a resiliência é um requisito-chave dos empregadores.
Não esqueça as gerações mais jovens
Dados atuais da
ONU mostram que a geração de 15 a 24 anos na América Latina é o maior grupo
demográfico que a região já viu. No entanto, infelizmente, pesquisas da UNESCO
destacam que para este grupo, as estruturas de educação técnica e profissional
(TVET, da sigla em Inglês) na região não conseguem entregar as habilidades de
que os jovens precisam. Isso também é prejudicado pelo fato de que os mercados
globais estão mudando rapidamente (assim como as habilidades necessárias para
ter sucesso nas principais empresas). Questões como interrupção digital,
transição energética, ascensão da inteligência artificial (IA) e nearshoring
(terceirização de empregos para países vizinhos) estão impactando um mercado de
trabalho jovem onde as habilidades necessárias para lidar com esses fenômenos
não podem ser adquiridas rapidamente. O trabalho está se deslocando para a
supervisão de sistemas automatizados: tarefas rotineiras estão desaparecendo.
Candidatos mais jovens e qualificados precisam ter domínio do pensamento
crítico, gestão baseada em projetos, trabalho em equipe (colaboração) e
comunicação. Se essa necessidade puder ser atendida, a geração atual de jovens
na América Latina tem o potencial de proporcionar um crescimento econômico
massivo.
Acima de tudo, foque no fator HUMANO
À medida que
ocorrem mudanças ou transições geracionais, também ocorrem mudanças nas
atitudes em relação ao trabalho em equipe e no que os funcionários esperam dos
empregadores. Contratar talentos qualificados nos mercados globais, incluindo
nos países da América Latina, requer uma conscientização muito maior das
prioridades e necessidades geracionais. Isso inclui pensar de maneira
diferente, diante da escassez de habilidades em muitos mercados, sobre o que os
funcionários serão capazes de fazer no futuro, não tanto sobre o que podem
fazer no momento. Com a demanda crescente por habilidades interpessoais como
capacidade de liderança, comunicação, resolução de conflitos, solução de
problemas e habilidades de falar em público, os recrutadores na região da
América Latina precisarão ir além de apenas fazer correspondências entre os
candidatos nos currículos e passe a visualizar cenários futuros, ou seja, se
oferecidas oportunidades adicionais de treinamento e desenvolvimento, esse ou
aquele candidato poderia crescer em determinado cargo? Eles conseguem enxergar
além da necessidade clara atual e se envolver em blindar o negócio para o
futuro, solucionando problemas para vários cenários de mercado e possíveis
impactos no pessoal do escritório. Talentos gerenciais com um forte Quociente Emocional,
com paixão por ajudar as pessoas a crescer e ter sucesso, continuarão sendo
inestimáveis para qualquer empresa focada em sustentabilidade a longo prazo.
Esse foco nas pessoas também é o que impulsiona a atração de candidatos e a
retenção de trabalhadores, com até 80% dos trabalhadores recentemente
pesquisados dizendo que a cultura da empresa é um dos principais motivos pelos quais
aceitam e permanecem em um emprego.
Há um enorme
potencial a ser aproveitado entre a base de talentos dos funcionários na
América Latina. Se nós, como recrutadores, conseguirmos trabalhar com líderes
empresariais para focar na entrega de valor por meio de conexões humanas,
proporcionando equilíbrio entre vida profissional e pessoal, com culturas de
trabalho atraentes e centradas nas pessoas, podemos realizar coisas incríveis
em termos de prosperidade econômica e pessoal regional.
Rui Rocheta - Head Regional França, Iberia e LATAM da Gi
Group Holding, multinacional italiana reconhecida como uma das líderes globais
em soluções dedicadas ao desenvolvimento do mercado de trabalho.
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