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sexta-feira, 22 de setembro de 2023

Combater estigma associado a doença mental é imprescindível para prevenir suicídios

 De acordo com psicóloga Gislene Erbs, falar sobre o assunto de forma natural é a maneira mais eficaz de criar um ambiente mais acolhedor e informado sobre saúde mental e prevenção ao suicídio

 

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), mais de 700 mil pessoas no mundo todo morrem por ano devido ao suicídio. Na grande maioria dos casos, a falta de conhecimento ou o preconceito com relação ao tema é determinante para esse resultado. Nesse sentido surgiu a iniciativa brasileira do Setembro Amarelo, campanha para conscientizar a população sobre a importância da prevenção do suicídio e transtornos mentais que podem ser sua causa.

A psicóloga e autora do livro “Sim ou Não – A difícil arte de colocar-se em primeiro lugar na sua vida”, Gislene Erbs, comenta como o estigma associado a transtornos mentais contribui para que pessoas cometam suicídio, isto porque o medo de estarem doentes gera um desconforto, que pode piorar o quadro e até gerar a desistência do tratamento. “É comum as pessoas não saberem o motivo de estarem com dificuldades e transtornos. Quando entendem que estão doentes, o preconceito que sentem em relação a isso só piora o quadro, porque tendem a negar a doença”, diz.

Gislene explica que a psiquiatria é uma área da medicina e tem entre outras funções o tratamento por meio de medicação na reorganização fisiológica. Já a psicologia está relacionada à compreensão das dificuldades e à reorganização dos pensamentos e comportamentos.

A psicóloga destaca a importância da disseminação do conhecimento a respeito do tema para fazer com que mais pessoas busquem tratamento e melhorem sua condição. Conforme Gislene, falar sobre o assunto de forma natural é a maneira mais eficaz de criar um ambiente mais acolhedor e informado sobre saúde mental e prevenção ao suicídio. “Pessoas que já sofreram de alguma maneira com relação a isso deveriam relatar suas experiências, pois isso mostra que existe tratamento e melhora e desmistifica a doença mental, que ainda é vista como 'loucura' e um caso isolado”, afirma.

Além disso, segundo a psicóloga, campanhas como Setembro Amarelo e matérias jornalísticas abordando de maneira responsável o assunto são de grande ajuda para diminuir o preconceito e aumentar o conhecimento sobre os sintomas.

No que se refere ao papel dos governos para ajudar a prevenir o suicídio, Gislene afirma que mais acesso e agilidade no diagnóstico e tratamento das doenças psicológicas nas redes públicas são imprescindíveis. “A demora para as consultas e retorno com especialistas compromete a vida das pessoas que trabalham e necessitam ir várias vezes aos postos de saúde para conseguir uma única consulta”, diz.

 

Possíveis causas, sintomas e prevenção

São diversas as causas relacionadas aos transtornos mentais, desde fatores genéticos, psicológicos  a nutricionais. Gislene aponta a forma como a sociedade atual está estruturada como um dos aspectos causadores. Conforme a psicóloga, a velocidade e instantaneidade proporcionada pelas tecnologias existentes vem deixando o cérebro humano em estado de alerta, gerando nas pessoas sentimento de culpa, de insuficiência e de incapacidade, por não conseguirem atender a todas as demandas do dia a dia.

Gislene explica que este sentimento surge porque, diante da instantaneidade da comunicação e da rapidez e acúmulo das informações, as pessoas sentem a necessidade de estarem inteiradas o tempo todo sobre todas as coisas, seja no que diz respeito a aspectos da profissão, vida pessoal e até com relação às interações sociais. “Como é impossível acompanhar tudo, elas acabam por se sentirem inúteis, incompetentes e ineficientes, o que faz com que fiquem estressadas e ansiosas” diz.

Essas sensações despertadas por falharem no intuito de se manterem atualizadas a qualquer custo, explica a psicóloga, contribuem também para complicar a situação de pessoas depressivas, muitas vezes dando o gatilho para que cometam suicídio. “Isto porque em algumas ocasiões as atitudes suicidas não são premeditadas, mas tomadas por impulso, motivadas por um desespero momentâneo”, explica.

Já o uso excessivo das redes sociais e dos aparelhos eletrônicos, comenta Gislene, faz com que crianças, adolescentes e adultos se sintam mais solitários, o que aumenta as chances de desenvolverem transtornos mentais. A vida mostrada nas redes, comenta a psicóloga, é, na maioria das vezes, feliz, agitada, repleta de compromissos. “Ao verem que isso não está acontecendo com elas, as pessoas, principalmente jovens, tendem a aumentar o sentimento de falta e solidão”, explica.

Dessa forma, ressalta Gislene, o principal desafio da sociedade contemporânea é saber equilibrar a velocidade das informações com a saúde, o conhecimento profissional, habilidades sociais e os vínculos afetivos. “Todos somos responsáveis e temos de aprender a lidar com as novas demandas sem perder o foco na saúde”, declara.

Nesse sentido, a psicóloga sugere algumas ações preventivas que podemos incorporar no dia a dia visando promover e manter a boa saúde mental. De acordo com Gislene, com o objetivo de não sermos atropelados pelos afazeres cotidianos, evitando dessa forma, nos sentirmos impotentes, cansados e tristes, devemos estabelecer uma organização do tempo, das necessidades básicas, das metas e objetivos, separando um período do dia para descansarmos física e mentalmente, confraternizarmos com amigos e familiares, estudarmos e praticarmos o autoconhecimento.

Conforme a psicóloga, amigos e familiares são importantíssimos para prevenir o desenvolvimento de doenças mentais e para auxiliarem as pessoas que estiverem passando por dificuldades nesse sentido. O auxílio será mais eficaz, contudo, ressalta Gislene, se vier desprovido de julgamentos e conselhos. “Saber ouvir sem criticar ou responsabilizar é fundamental. Não há nada pior para quem está doente do que ouvir 'tudo depende de você'. Além de não ser verdade, o comentário só gera mais culpa e cobrança e contribui para o agravamento do quadro”, diz.

Para quem desconfia que está sofrendo de algum tipo de transtorno emocional, Gislene destaca alguns sintomas comuns que devem ser motivo atenção, tais como: insônia, tristeza, angústia, pensamento lento, dificuldade em tomar decisões, perda de interesse em atividade que antes eram prazerosas, irritação ou impaciência. A psicóloga ressalta, porém, que a intensidade dos sintomas é que definirá se a pessoa realmente está com algum problema ou não. Para isso, é de suma importância o auxílio de um profissional especializado: psicólogo ou psiquiatra, pois é ele que irá verificar o que realmente está acontecendo. “Quanto antes a pessoa buscar ajuda, mais rápido e mais simples será o tratamento da doença”, comenta.

Quanto a sinais e sintomas de pessoas em risco de suicídio, a psicóloga destaca que os mais evidentes, mas não tão comentados, são: revolta ou sentimento de injustiça, medo de ser rejeitado, de não ser compreendido, de ser ignorado e deixado de lado, sentimento de inutilidade e desesperança de mudança.

 

Gislene Erbs - Graduação em Psicologia pela Associação Catarinense de Ensino, graduação em Educação Artística Universidade da Região de Joinville e Mestrado em Saúde e Meio Ambiente pela Universidade da Região de Joinville. Tem experiência na área da Saúde e Educação, com ênfase em Avaliação. Psicológica. Atuando principalmente nos temas: Saúde, Qualidade de Vida, Hipnose, Liderança, Carreira, Avaliação Psicológica. Autora do livro “Sim ou Não – A difícil arte de colocar-se em primeiro lugar na sua vida”

 

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