A Inteligência Artificial (IA) tem roubado a cena nas empresas, nas escolas, nas rodas de conversa e na mídia do mundo inteiro. Apesar de os primeiros passos da IA terem sido dados ainda na década de 1940, a febre atual foi desencadeada pelo lançamento do ChatGPT. E é preciso admitir que mesmo os profissionais experientes do universo da tecnologia se surpreenderam com as respostas dadas pelo robô da OpenAI.
A adoção da IA generativa parece inescapável
em todos os setores do conhecimento e, consequentemente, da economia. Na área
de educação e, especialmente, da educação corporativa, a AI deve ter um enorme
poder de transformação. É sempre importante lembrar que uma ferramenta de IA é
tão eficaz e benéfica quanto a qualidade de dados da qual ela se alimenta. Ou
seja, é preciso ter critério e segurança sobre fontes de conhecimento de onde
os robôs extraem informações e dos modelos em que são treinados.
Um dos aspectos mais extraordinários da IA na
educação é a possibilidade de termos, em um futuro não muito distante, uma
espécie de “super professores”. Eles não só dominarão a área de conhecimento
que ensinam, mas também terão uma capacidade incansável de trabalho e, o
melhor, serão capazes de identificar precisamente as deficiências que travam o
aprendizado de cada um de seus alunos.
A combinação de especialistas em educação com a
capacidade de processamento incansável das máquinas de IA – munidas de bancos
de dados gigantescos, com todo tipo de conhecimento, e treinadas em modelos
relativos ao aprendizado humano – deve abrir caminho para um ensino realmente
personalizado, como se cada aluno tivesse um “professor particular”
especialista em cada curso que faz.
Imagine que este tipo de professor, além de
diagnosticar os problemas de cada um de seus alunos, seja capaz de sugerir
conteúdos e em diferentes formatos: vídeos, textos, fotos, podcasts, jogos,
tudo pensado para que eles possam entender e superar exatamente os pontos que
têm dificuldade. Sem contar que o professor fará isso tudo sem alardes
constrangedores na frente de outros colegas da turma.
Hoje, a tecnologia já vem revolucionando a educação
na forma e no conteúdo, o que inclui o treinamento e desenvolvimento (T&D)
profissional. Muitas empresas já descobriram que o ensino a distância (EaD, ou
o T&D online, pode ter muito mais qualidade e eficácia do que o presencial.
A constatação surpreendeu muitos diretores de gestão de pessoas que, durante a
pandemia, foram forçados a treinar remotamente contingentes inteiros de
colaboradores. Eles descobriram que inúmeras ferramentas, muitas já
disponíveis, mas pouco usadas, são capazes de potencializar o treinamento e
aumentar a eficiência de suas empresas.
A possibilidade de colocar o melhor especialista
para falar com funcionários do país inteiro ao vivo, em um vídeo gravado, em um
podcast ou ainda transformar esse conteúdo em um game, deixou muitos
profissionais de RH maravilhados. Sem contar que o emprego de recursos como a
realidade virtual, que permite que um trabalhador rural faça um treinamento
imersivo de manutenção de trator com óculos 3D, também vêm ajudando a
democratizar a qualificação, quebrando barreiras geográficas.
Considerando que isso tudo já é possível, a adição
da IA à educação corporativa vai provocar um salto extraordinário de
produtividade e competitividade dentro das empresas. Os debates sobre a
utilização da IA são legítimos e necessários, mas, pelo histórico da
humanidade, não há como deter o avanço da tecnologia e da engenhosidade
humana.
Assim como a popularização da internet ao redor do
planeta nos anos 2000 transformou o mundo em poucos anos, mudando a maneira
como as pessoas produzem bens e serviços, como se comunicam, consomem,
divertem-se e trabalham, a aposta é que a chegada da IA nas mãos dos indivíduos
e das organizações vai desencadear uma nova onda de transformações econômicas,
comportamentais e sociais em escala igual ou ainda maior.
Diante disso, o melhor a fazer é acompanhar de
perto não só a evolução da tecnologia, mas as possibilidades de sua aplicação e
seus consequentes efeitos positivos e negativos nas diversas áreas do
conhecimento. Não é uma tarefa fácil e, para alívio de engenheiros, educadores,
médicos, psicólogos, matemáticos e outros inúmeros tipos de profissionais,
exige estudo, pesquisa, análise e reflexão de humanos. Sim, nós, profissionais
humanos, teremos muito trabalho para aproveitar as maravilhas propiciadas por
essa tecnologia e também criar os remédios para os efeitos colaterais que ela
pode provocar.
Será preciso acompanhar e avaliar, por exemplo,
como o cérebro humano se comportará ao longo do tempo ao receber respostas de
maneira tão instantânea. Pode ser um alívio pensar que não precisamos mais guardar
fórmulas aparentemente inúteis para chegar a respostas que, de fato, nos
interessam. Mas será que não foi justamente o processo de elaboração dessas
fórmulas, pesquisas, observações, tentativas e erros que treinaram
o cérebro humano a funcionar de maneira capaz de resolver problemas e,
por fim, ajudou a elevar o conhecimento humano? E será que o uso inadequado da
tecnologia e, especialmente da IA, não tornará nossos cérebros preguiçosos e
sedentários, provocando um efeito limitador diametralmente oposto à expansão da
inteligência humana?
Ainda não há respostas para todas as perguntas, mas
os profissionais, as empresas e até os governos que estiverem mais atentos e
souberem aproveitar os benefícios da IA se tornarão mais competitivos.
Luiz Alberto Ferla -
engenheiro, administrador de empresas, fundador e CEO do DOT Digital Group, edtech líder nacional no mercado de educação corporativa digital.
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