Muitas mulheres não sabem, mas miomas uterinos, endometriose, síndrome de ovários policísticos (SOP), ciclos menstruais irregulares e problemas na tireoide podem atrapalhar as chances de desenvolvimento de uma gravidez saudável. Grande parte delas suspende os métodos contraceptivos – pílulas, injeções e preservativo – e não se dão conta de que a dificuldade na fecundação pode estar ligada a outros fatores.
Para se ter ideia, alimentação, fatores
psicológicos e até climáticos podem influenciar nas chances de engravidar. Sem
contar o fato de a mulher nascer com uma reserva de óvulos pré-determinada, o
que tem a ver com suas chances, ao longo da vida, de desenvolver uma gravidez.
Em 2022, a Sociedade Europeia de Reprodução
Assistida (ESHRE) revisou os protocolos de diagnóstico e tratamento para
endometriose – uma das condições mais associadas à infertilidade feminina,
chegando a ser diagnosticada em mais de 30% das pacientes que não conseguem
engravidar. Fato é que não se sabe ainda se a endometriose é fruto de uma
questão genética, imunológica, metaplásica ou correlacionada a outras doenças O
que sabemos é que esta patologia é hormônio dependente, ou seja, sua atividade
responde à produção do estrogênio, hormônio feminino mais prevalente entre a
primeira menstruação e a menopausa.
Duas revisões interessantes no guia 2022 abordaram
o diagnóstico da endometriose: uma delas abrange dois grupos de mulheres cujas
faixas etárias não eram previstas antes - meninas que ainda não menstruaram e
mulheres pós-menopausa. Esse aspecto levou o médico a ter um olhar mais
ampliado do problema, que pode aparecer mais cedo do que imaginávamos e
persistir pós período fértil, afinal, esta é uma doença que impacta a vida da
mulher desde sempre. No caso das meninas
jovens nos deixa atentos, uma vez que um atraso no
diagnóstico e início do tratamento pode chegar a 12 anos – um tempo
inadmissível do ponto de vista de saúde pública.
Os casos de mulheres que apresentam miomas
intrauterinos podem ser acompanhados por anos, sem necessidade de intervenção
cirúrgica e sem afetar diretamente as tentativas de gravidez, mas cada caso é
individual e deve ser avaliado e acompanhado por médico ginecologista que
avaliará o que for melhor para sua paciente.
Já as mulheres que têm diagnóstico de SOP -
disfunção hormonal pode levar a uma não ovulação mensal, com chances de se
tornar crônica - merecem atenção, pois o problema afeta cerca de 20% das
mulheres em idade reprodutiva. A SOP pode surgir logo após a primeira
menstruação ou tardiamente, em resposta a algum gatilho hormonal relacionado
com aumento da insulina ou ganho de peso. Embora a medicina não tenha um
consenso sobre as causas da doença, nota-se que ela ocorre em maior frequência
quando já há um caso anterior na família.
Alimentação sem regras, a partir de alimentos
ultraprocessados, estilo de vida, sedentarismo, desenvolvimento de doenças como
hipertensão e diabetes na juventude e contato com muitos fatores poluentes também
podem impactar o organismo e dificultar as tentativas de gravidez.
Toda e qualquer mulher em idade reprodutiva que tem
o sonho de ter filhos ou pretende adiar a maternidade em função do momento de
vida em que se encontra deve estar atenta primeiramente ao seu bem-estar e à
manutenção da sua saúde reprodutiva. Algumas dicas são fazer um exame
ginecológico anual preventivo ao câncer de colo do útero; conversar com
seu(sua) médico(a) de confiança sobre o tema; e, em casos específicos, procurar
ajuda com especialistas em medicina reprodutiva, no caso de interesse por
congelamento de óvulos.
Tratar as questões da saúde reprodutiva feminina do
ponto de vista da prevenção e com informações qualificadas são pontos
relevantes para o sucesso dos tratamentos que se fizerem necessários e para que
as tentativas de gravidez tenham êxito quando assim a mulher achar que é o seu
momento.
Rodrigo Hurtado - médico ginecologista da clínica
Origen e professor do Departamento de Ginecologia da Faculdade de Medicina da
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
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