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sexta-feira, 5 de maio de 2023

Você tem alguma condição clínica que pode dificultar seu sonho de engravidar?

Muitas mulheres não sabem, mas miomas uterinos, endometriose, síndrome de ovários policísticos (SOP), ciclos menstruais irregulares e problemas na tireoide podem atrapalhar as chances de desenvolvimento de uma gravidez saudável. Grande parte delas suspende os métodos contraceptivos – pílulas, injeções e preservativo – e não se dão conta de que a dificuldade na fecundação pode estar ligada a outros fatores.

Para se ter ideia, alimentação, fatores psicológicos e até climáticos podem influenciar nas chances de engravidar. Sem contar o fato de a mulher nascer com uma reserva de óvulos pré-determinada, o que tem a ver com suas chances, ao longo da vida, de desenvolver uma gravidez.

Em 2022, a Sociedade Europeia de Reprodução Assistida (ESHRE) revisou os protocolos de diagnóstico e tratamento para endometriose – uma das condições mais associadas à infertilidade feminina, chegando a ser diagnosticada em mais de 30% das pacientes que não conseguem engravidar. Fato é que não se sabe ainda se a endometriose é fruto de uma questão genética, imunológica, metaplásica ou correlacionada a outras doenças O que sabemos é que esta patologia é hormônio dependente, ou seja, sua atividade responde à produção do estrogênio, hormônio feminino mais prevalente entre a primeira menstruação e a menopausa.

Duas revisões interessantes no guia 2022 abordaram o diagnóstico da endometriose: uma delas abrange dois grupos de mulheres cujas faixas etárias não eram previstas antes - meninas que ainda não menstruaram e mulheres pós-menopausa. Esse aspecto levou o médico a ter um olhar mais ampliado do problema, que pode aparecer mais cedo do que imaginávamos e persistir pós período fértil, afinal, esta é uma doença que impacta a vida da mulher desde sempre. No caso das meninas

jovens nos deixa atentos, uma vez que um atraso no diagnóstico e início do tratamento pode chegar a 12 anos – um tempo inadmissível do ponto de vista de saúde pública.

Os casos de mulheres que apresentam miomas intrauterinos podem ser acompanhados por anos, sem necessidade de intervenção cirúrgica e sem afetar diretamente as tentativas de gravidez, mas cada caso é individual e deve ser avaliado e acompanhado por médico ginecologista que avaliará o que for melhor para sua paciente.

Já as mulheres que têm diagnóstico de SOP - disfunção hormonal pode levar a uma não ovulação mensal, com chances de se tornar crônica - merecem atenção, pois o problema afeta cerca de 20% das mulheres em idade reprodutiva. A SOP pode surgir logo após a primeira menstruação ou tardiamente, em resposta a algum gatilho hormonal relacionado com aumento da insulina ou ganho de peso. Embora a medicina não tenha um consenso sobre as causas da doença, nota-se que ela ocorre em maior frequência quando já há um caso anterior na família.

Alimentação sem regras, a partir de alimentos ultraprocessados, estilo de vida, sedentarismo, desenvolvimento de doenças como hipertensão e diabetes na juventude e contato com muitos fatores poluentes também podem impactar o organismo e dificultar as tentativas de gravidez.

Toda e qualquer mulher em idade reprodutiva que tem o sonho de ter filhos ou pretende adiar a maternidade em função do momento de vida em que se encontra deve estar atenta primeiramente ao seu bem-estar e à manutenção da sua saúde reprodutiva. Algumas dicas são fazer um exame ginecológico anual preventivo ao câncer de colo do útero; conversar com seu(sua) médico(a) de confiança sobre o tema; e, em casos específicos, procurar ajuda com especialistas em medicina reprodutiva, no caso de interesse por congelamento de óvulos.

Tratar as questões da saúde reprodutiva feminina do ponto de vista da prevenção e com informações qualificadas são pontos relevantes para o sucesso dos tratamentos que se fizerem necessários e para que as tentativas de gravidez tenham êxito quando assim a mulher achar que é o seu momento.

 

Rodrigo Hurtado - médico ginecologista da clínica Origen e professor do Departamento de Ginecologia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)

 

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