A própolis é uma resina utilizada na entrada das colmeias pelas abelhas.
Sua ação antimicrobiana é testada para diversos fins terapêuticos
(foto: Chandlervid85/Freepik)
“Apesar de as pessoas que vivem com o HIV apresentarem excelente
expectativa de vida com as atuais terapias, um dos problemas ainda enfrentados
é a questão do envelhecimento precoce – de aproximadamente dez a 20 anos, em
comparação à população não infectada. Há uma deterioração da imunidade
[imunossenescência] acelerada nessa população e o desenvolvimento precoce de
comorbidades como diabetes, hipertensão e neoplasias”, aponta a bióloga Karen Ingrid Tasca,
que desenvolveu seu pós-doutorado no Instituto de Biociências de Botucatu, da
Universidade Estadual Paulista (IBB-Unesp), com apoio da
FAPESP.
Esse
processo de envelhecimento precoce é decorrente da constante ativação do
sistema imunológico e da inflamação crônica apresentadas por esses pacientes e,
segundo Tasca, o estresse oxidativo “anda de mãos dadas” com essas duas vias,
por isso é importante que seja controlado. “O estresse oxidativo causado pelo
vírus e pelos próprios antirretrovirais possui grande impacto nesses pacientes.
Na tentativa de reduzir esses processos patológicos e melhorar a qualidade de
vida e a sobrevida, há necessidade de intervenções que minimizem esses efeitos.
Entre os diversos produtos naturais existentes, a própolis, que é uma resina,
possui esse potencial, pois apresenta propriedades antioxidante, antiviral e
anti-inflamatória reconhecidas”, explica a pesquisadora.
Líder do grupo que publicou o artigo, o biólogo e professor José Maurício Sforcin estuda
os efeitos da própolis há quase 30 anos no Instituto de Biociências de
Botucatu. “Tenho investigado a ação imunomoduladora da própolis para ampliar o
conhecimento sobre seus mecanismos de ação em células envolvidas na imunidade.
Muitos trabalhos já foram realizados sobre as ações biológicas desse
produto in vitro, em cultura de células, bem como in vivo, em modelos com animais de experimentação,
principalmente camundongos. As pesquisas com ensaios clínicos precisam se
expandir e revelar o potencial desse produto apícola para a saúde”, destaca
Sforcin.
Apesar dos indícios de benefícios para a saúde, os estudos sobre
própolis não abrangiam a população de infectados pelo HIV. “Havia achados in vitro que mostravam o potencial de inibição da
carga de replicação do vírus por alguns componentes contidos na própolis. E
também estudos em pessoas que apresentavam alguma condição crônica, como
diabetes, então percebemos a urgência da nossa pesquisa, pois no momento em que
delineamos nosso estudo não havia na literatura dados sobre os efeitos da
própolis para esse grupo específico”, pondera Tasca.
Além da atenuação no estresse oxidativo, os pesquisadores já haviam
demonstrado diminuição de parâmetros inflamatórios nesse mesmo grupo de
pacientes. A publicação,
também feita na Biomedicine & Pharmacotherapy,
evidenciou o aumento na proliferação de linfócitos T CD4+, células que são
consideradas alvo principal do vírus. Houve, ainda, maior expressão do fator de
transcrição Foxp3, um marcador de células “T regulatórias” (outro tipo de
linfócito), responsáveis por modular a inflamação.
“Os resultados indicam que a própolis pode ser uma alternativa para
melhorar a resposta imune e reduzir a inflamação nos pacientes assintomáticos.
A infecção pelo HIV induz intensa desregulação do sistema imunológico, gerando
perda da função celular e inflamação crônica. As persistentes ativação imune e
inflamação merecem atenção, pois são fatores potencialmente determinantes de
morbidade e mortalidade não associadas à Aids, mesmo nos indivíduos sob
tratamento e que apresentam supressão viral adequada”, diz uma das autoras do
estudo, a biomédica Fernanda Lopes Conte,
cujo doutorado na Faculdade de Medicina da Unesp, em Botucatu, foi realizado
com apoio da
FAPESP.
Para garantir a fidelidade dos dados obtidos, o grupo acompanhou a dieta
e os hábitos de saúde dos 40 participantes (20 que receberam própolis e 20 que
receberam placebo) durante os 90 dias da intervenção, para que possíveis
mudanças comportamentais não influenciassem os resultados. Esse contexto foi
estudado por Ana Claudia de Moura Moreira Alves com auxílio de uma Bolsa de Iniciação Científica.
Nessa pesquisa, os autores observaram a ausência de eventos adversos no grupo
que recebeu a própolis e o aumento nos níveis séricos de magnésio, um elemento
que contribui com a homeostase do organismo. Durante o período, não houve
mudanças no perfil nutricional, metabólico ou bioquímico dos participantes,
após análises sucessivas de registro alimentar e bioimpedância.
Priorizando
a saúde e segurança dos participantes, foram incluídos no estudo apenas aqueles
que estavam sob terapia antirretroviral, apresentavam carga viral indetectável
e contagem ideal de células imunológicas do tipo T CD4+. Agora, os
pesquisadores destacam que novas pesquisas são necessárias para a adoção da
própolis como intervenção efetiva também para pacientes com comorbidades ou
falha terapêutica.
O artigo Propolis consumption by asymptomatic
HIV-individuals: Better redox state? A prospective, randomized, double-blind,
placebo-controlled trial pode ser lido em: www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0753332223004146.
Agência FAPESP
https://agencia.fapesp.br/propolis-melhora-imunidade-reduz-radicais-livres-e-ameniza-inflamacao-cronica-em-pessoas-com-hiv/41392/
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