Inserida no rol de distúrbios reumáticos, suas causas ainda são desconhecidas e seus tratamentos paliativos
A fibromialgia,
doença crônica que acomete anualmente cerca de 2 milhões de brasileiros, principalmente
mulheres, é conhecida por provocar dor em pontos distribuídos
por todo o corpo, além de distúrbios do sono, fadiga constante e quadros de
depressão, com impacto de ordem física e emocional.
Embora a
comunidade médica estude os casos de dor difusa característica da fibromialgia
desde o início do século XX, a doença só foi classificada e reconhecida em 1990,
quando pesquisadores dos EUA estabeleceram métodos para seu diagnóstico e
a batizaram de fibromialgia — uma junção de termos em latim e grego que
integram a dor muscular, no tecido conjuntivo e nos tendões. No Brasil,
tais critérios foram reconhecidos em 1999.
A fibromialgia
está inserida no campo da reumatologia, especialidade médica responsável pelo
sistema musculoesquelético (relação do tecido muscular com os ossos) e tecido conjuntivo
(tendões, ligamentos, articulações), mas como mobiliza outros aspectos da vida
do paciente requer atenção multidisciplinar.
Ainda não se sabe
qual é a causa do da doença, mas alguns estudos apontam predisposição genética,
disfunções neurológicas, infecções, entre outros.
A
fibromialgia não se resume na dor crônica
Segundo a Drª
Atsuko Nakagami Cetl, anestesiologista especializada em dor pela Associação
Médica Brasileira (AMB), “o principal quadro sintomático da fibromialgia, e um
dos mais incapacitantes, é a dor crônica difusa e
generalizada, especialmente na estrutura musculoesquelética do
corpo, que surge em crises recorrentes e de duração variável em forma de
pontadas, fisgadas ou de machucadura”.
No entanto, a
fibromialgia não é sinônimo apenas de dor e os demais sintomas incluem:
●
Fadiga e cansaço, que podem ser tão intensos a ponto de interferir nas
atividades cotidianas;
● Distúrbios do sono, principalmente insônia e agitação ao dormir;
●
Rigidez muscular e dificuldade de se movimentar pela manhã;
●
Sensibilidade excessiva ao toque ou à pressão, o que pode gerar dor;
●
Distúrbios cognitivos afetando a capacidade de concentração e a memória;
● Depressão e ansiedade,
associadas a alterações de humor e comportamento;
●
Síndrome do intestino irritável, um distúrbio que altera o funcionamento
do trato intestinal.
Os
18 pontos de dor da fibromialgia
Ao se investigar o
quadro de dor nas doenças em geral, além da anamnese, geralmente busca-se uma
atividade aparente: uma lesão, inflamação ou infeção, por exemplo, passíveis de
identificação pela obervação de exames de imagem ou laboratoriais.
Este não é o caso
da fibromialgia. “Nela há dor física, mas não há estruturas lesadas ou
inflamadas, e seus sintomas secundários, quando analisados individualmente,
podem indicar outras condições”, afirma Drª Atsuko.
Por isso, não
existe um exame capaz de identificá-la e o diagnóstico é dado a partir de
relatos do paciente. No entanto, um dos principais métodos para a confirmação
do quadro se dá pela análise da incidência de dor em 11 de 18 pontos de dor, regiões sensíveis ao toque e pressão,
distribuídos simetricamente pelo corpo nas áreas do pescoço, peito, costas;
glúteos; cotovelos e joelhos.
Uma
dor invisível só para quem não a sente
Os desafios das
pessoas que convivem com a fibromialgia podem ultrapassar o desconforto
físico e emocional da doença, manifestando-se também no âmbito social.
Frequentemente, os
pacientes são descredibilizados por familiares e amigos que não entendem ser possível
a existência de uma doença que não se atesta em imagens ou outros exames, que
conferem ao indivíduo fibromiálgico somatizações emocionais passiveis de serem
sanadas pontualmente.
Sendo uma doença
crônica influenciada por aspectos psicológicos, a falta de apoio emocional pode
agravar as crises e afastar por completo o individuo de seus relacionamentos e
do convívio social em geral.
A
importância de saber tratar a fibromialgia
Em relação ao
tratamento, o fato de não ter causa identificada, impossibilita o
desenvolvimento da cura para a fibromialgia. Contudo, a adesão a uma estratégia
terapêutica multidisciplinar proporciona bons resultados na condução do alívio
das crises dolorosas e controle dos demais sintomas.
Para a diminuição
da frequência e intensidade das crises de dor são indicados medicamentos
analgésicos em dosagens específicas para cada pessoa, considerando sua
percepção individual da dor. Os antidepressivos, ansiolíticos e
neuromoduladores também podem ser indicados, mesmo sem a ocorrência da
depressão, em virtude de sua capacidade de inibir a percepção de dor pelo cérebro.
Além disso, os procedimentos analgésicos não invasivos
ou minimamente invasivos são excelentes aliados no
tratamento das crises dolorosas, tais como a magnetoterapia, as
ondas de choque, laserterapia e o agulhamento a seco. “Em
uma porção significativa dos pacientes os medicamentos não surtem o efeito
esperado e podem gerar efeitos colaterais a longo prazo e por isso este arsenal
de procedimentos são de grande valia.” declara a anestesiologista.
Ela declara ainda
que os casos mais críticos e resistentes podem receber a indicação de bomba de Infusão Intratecal”,
um implante de reservatório de medicações sob a pele do abdômen que libera a
substância diretamente na corrente sanguínea de forma periódica, conforme a
prescrição médica.
Ainda, terapias complementares podem não só diversificar as estratégias de tratamento, potencializando os resultados, como também contemplar as especificidades e abrangência dos sintomas. Sendo assim, a psicoterapia, fisioterapia, terapia ocupacional, dentre muitas outras, são importantes para o paciente fibromialgico e, é claro, a alimentação balanceada e prática de atividades físicas também se fazem indispensáveis, para auxiliar a condução de todos os gêneros de sintomas.
Por fim, é preciso frisar a importância do apoio de amigos e familiares
para o processo terapêutico de quem convive com fibromialgia, ajudando a evitar
o despertar e agravamento das crises, que podem ocorrer mais facilmente em
momentos de estresse, ansiedade e depressão.
Dra. Atsuko Nakagami Cetl - Médica Anestesiologista, graduada pela Escola Paulista de Medicina (UNIFESP), mestre em ciências com pós-graduação em neurologia/ neurociências e possui certificação de especialização em dor pela Associação Médica Brasileira (AMB).
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