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quinta-feira, 4 de maio de 2023

Fibromialgia: uma dor de abalo físico, psicológico e social

Inserida no rol de distúrbios reumáticos, suas causas ainda são desconhecidas e seus tratamentos paliativos


A fibromialgia, doença crônica que acomete anualmente cerca de 2 milhões de brasileiros, principalmente mulheres, é conhecida por provocar dor em pontos distribuídos por todo o corpo, além de distúrbios do sono, fadiga constante e quadros de depressão, com impacto de ordem física e emocional. 

 

Embora a comunidade médica estude os casos de dor difusa característica da fibromialgia desde o início do século XX, a doença só foi classificada e reconhecida em 1990, quando pesquisadores dos EUA estabeleceram métodos para seu diagnóstico e a batizaram de fibromialgia — uma junção de termos em latim e grego que integram a dor muscular, no tecido conjuntivo e nos tendões. No Brasil, tais critérios foram reconhecidos em 1999.

 

A fibromialgia está inserida no campo da reumatologia, especialidade médica responsável pelo sistema musculoesquelético (relação do tecido muscular com os ossos) e tecido conjuntivo (tendões, ligamentos, articulações), mas como mobiliza outros aspectos da vida do paciente requer atenção multidisciplinar.

 

Ainda não se sabe qual é a causa do da doença, mas alguns estudos apontam predisposição genética, disfunções neurológicas, infecções, entre outros.

 

A fibromialgia não se resume na dor crônica

Segundo a Drª Atsuko Nakagami Cetl, anestesiologista especializada em dor pela Associação Médica Brasileira (AMB), “o principal quadro sintomático da fibromialgia, e um dos mais incapacitantes, é a dor crônica difusa e generalizada, especialmente na estrutura musculoesquelética do corpo, que surge em crises recorrentes e de duração variável em forma de pontadas, fisgadas ou de machucadura”. 

 

No entanto, a fibromialgia não é sinônimo apenas de dor e os demais sintomas incluem:

 

●       Fadiga e cansaço, que podem ser tão intensos a ponto de interferir nas atividades cotidianas;


●       Distúrbios do sono, principalmente insônia e agitação ao dormir;


●       Rigidez muscular e dificuldade de se movimentar pela manhã;


●       Sensibilidade excessiva ao toque ou à pressão, o que pode gerar dor;


●       Distúrbios cognitivos afetando a capacidade de concentração e a memória;


●       Depressão e ansiedade, associadas a alterações de humor e comportamento;


●       Síndrome do intestino irritável, um distúrbio que altera o funcionamento do trato intestinal.

 

Os 18 pontos de dor da fibromialgia

Ao se investigar o quadro de dor nas doenças em geral, além da anamnese, geralmente busca-se uma atividade aparente: uma lesão, inflamação ou infeção, por exemplo, passíveis de identificação pela obervação de exames de imagem ou laboratoriais.

 

Este não é o caso da fibromialgia. “Nela há dor física, mas não há estruturas lesadas ou inflamadas, e seus sintomas secundários, quando analisados individualmente, podem indicar outras condições”, afirma Drª Atsuko.

 

Por isso, não existe um exame capaz de identificá-la e o diagnóstico é dado a partir de relatos do paciente. No entanto, um dos principais métodos para a confirmação do quadro se dá pela análise da incidência de dor em 11  de 18 pontos de dor, regiões sensíveis ao toque e pressão, distribuídos simetricamente pelo corpo nas áreas do pescoço, peito, costas; glúteos; cotovelos e joelhos. 

 

Uma dor invisível só para quem não a sente

Os desafios das pessoas que convivem com a fibromialgia podem ultrapassar o desconforto físico e emocional da doença, manifestando-se também no âmbito social.

 

Frequentemente, os pacientes são descredibilizados por familiares e amigos que não entendem ser possível a existência de uma doença que não se atesta em imagens ou outros exames, que conferem ao indivíduo fibromiálgico somatizações emocionais passiveis de serem sanadas pontualmente. 

 

Sendo uma doença crônica influenciada por aspectos psicológicos, a falta de apoio emocional pode agravar as crises e afastar por completo o individuo de seus relacionamentos e do convívio social em geral.

 

A importância de saber tratar a fibromialgia  

Em relação ao tratamento, o fato de não ter causa identificada, impossibilita o desenvolvimento da cura para a fibromialgia. Contudo, a adesão a uma estratégia terapêutica multidisciplinar proporciona bons resultados na condução do alívio das crises dolorosas e controle dos demais sintomas.

 

Para a diminuição da frequência e intensidade das crises de dor são indicados medicamentos analgésicos em dosagens específicas para cada pessoa, considerando sua percepção individual da dor. Os antidepressivos, ansiolíticos e neuromoduladores também podem ser indicados, mesmo sem a ocorrência da depressão, em virtude de sua capacidade de inibir a percepção de dor pelo cérebro.

 

Além disso, os procedimentos analgésicos não invasivos ou minimamente invasivos são excelentes aliados no tratamento das crises dolorosas, tais como a magnetoterapia, as ondas de choque, laserterapia e o agulhamento a seco. “Em uma porção significativa dos pacientes os medicamentos não surtem o efeito esperado e podem gerar efeitos colaterais a longo prazo e por isso este arsenal de procedimentos são de grande valia.” declara a anestesiologista.

 

Ela declara ainda que os casos mais críticos e resistentes podem receber a indicação de bomba de Infusão Intratecal”, um implante de reservatório de medicações sob a pele do abdômen que libera a substância diretamente na corrente sanguínea de forma periódica, conforme a prescrição médica.

 

Ainda, terapias complementares podem não só diversificar as estratégias de tratamento, potencializando os resultados, como também contemplar as especificidades e abrangência dos sintomas. Sendo assim, a psicoterapia, fisioterapia, terapia ocupacional, dentre muitas outras, são importantes para o paciente fibromialgico e, é claro, a alimentação balanceada e prática de atividades físicas também se fazem indispensáveis, para auxiliar a condução de todos os gêneros de sintomas. 

Por fim, é preciso frisar a importância do apoio de amigos e familiares para o processo terapêutico de quem convive com fibromialgia, ajudando a evitar o despertar e agravamento das crises, que podem ocorrer mais facilmente em momentos de estresse, ansiedade e depressão.


Dra. Atsuko Nakagami Cetl - Médica Anestesiologista, graduada pela Escola Paulista de Medicina (UNIFESP), mestre em ciências com pós-graduação em neurologia/ neurociências e possui certificação de especialização em dor pela Associação Médica Brasileira (AMB).


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