Apesar do Metaverso e dos NFTs terem ganhado bastante espaço na mídia tradicional nos últimos tempos, os termos ainda não fazem parte do cotidiano da maioria das pessoas. Afinal, é natural que essas buzzwords como Blockchain, NFTs, IAs, levem parte da população - em especial no Brasil - a pensar que os assuntos envolvendo inovação pareçam ser restritos ao mundo das startups, sendo algo muito fora de suas alçadas. O que definitivamente não é verdade.
No entanto, existem poucos cursos brasileiros
quando se trata da formação de profissionais para entender a nova geração de
tecnologias e o mindset da Web3. As tecnologias não se resolvem sozinhas, sendo
necessário desenvolver uma cultura baseada na identificação de problemas para
então observar quais tecnologias - e suas respectivas combinações - nos ajudam
a resolvê-los. A própria Web3 nasce a partir dos desafios da Web2: comunidades,
propriedade, soberania de identidade, descentralização, entre outros.
O problema da capacitação no Brasil passa por um
histórico do mercado, não sendo apenas uma questão relevante para a Web3.
Estamos falando da escassez de desenvolvedores nas mais diversas áreas e também
do movimento do quite quitting. Soma-se a isso a relutância das pessoas em
pensarem sobre "tecnologia" para além de alguns setores. Os cursos
atuais que abordam a temática da Web3 possuem o desafio da atualização, já que
de forma geral, tecnologias estão sempre em expansão e a Web3 segue se
desenvolvendo.
Por isso que quando falamos sobre capacitação
tecnológica e, em especial, inovação a partir de ferramentas Web3, os Estados
Unidos continuam sendo uma boa referência. O que não significa que o Brasil não
seja um dos países mais avançados com suas bases tecnológicas e pautas sobre
regulação e sandboxes como, por exemplo, o pioneirismo do nosso Banco Central
nestas pautas. Ainda como referência nos Estados Unidos, por lá, as comunidades
de Web3 já estão mais maduras, bem como os próprios cases de aplicação de Web3
por parte das grandes empresas nas áreas de Blockchain, Inteligência Artificial
e até mesmo as propostas de regulamentação de ativos digitais por parte da SEC
(CVM americana).
De um lado, tem o Congresso Americano discutindo
pautas de regulamentação e, do outro, o mercado financeiro com ventures
capitals dedicando boa parte dos seus investimentos para startups que trabalhem
com tecnologias disruptivas. Este casamento movimenta o espaço de capacitação,
aliados às universidades americanas que estão sempre tentando buscar
alinhamento mercadológico com as tendências ditadas pelo Vale do Silício.
Por ser uma revolução de mindset que impacta a
maneira com que vivemos e trabalhamos, acredito que os cursos universitários no
geral deverão se adequar para incorporar conceitos da descentralização. Afinal,
a temática Web3 é transversal, não se trata de especialização única. Assim, por
se tratar de um ambiente propício ao conhecimento e à inovação, as
universidades devem ser o lugar para o debate saudável da construção da
Web3.
Mas como a Web3 é um desejo que nasce da
descentralização e da soberania dos dados do usuário, também existem movimentos
independentes de comunidades dedicadas a expandir esse conhecimento. Como por
exemplo, a Bankless, que é uma DAO dedicada à discussão das finanças
descentralizadas e que possui o objetivo de empoderar sua comunidade a partir
de conteúdos e encontros sobre o assunto.
Nesse sentido, o Brasil não está tão atrás, com
várias comunidades que se dedicam a capacitar pessoas, seja por meio de talks
no Discord, encontros no Twitter Spaces e eventos. Fora da bolha, centros de
educação mais tradicionais também estão cada vez mais atentos à disrupção da
Web3. A tendência no curto prazo é que cada vez mais universidades e demais
instituições de ensino promovam esses encontros, tanto para atualizar seus alunos,
quanto para testar a temática em suas ementas acadêmicas.
É por isso que grandes empresas já estão
impulsionando experiências com Web3 e criando novos produtos. Algumas já até
criaram produtos dedicados a projetos em Web3. Assim, essas mesmas empresas
buscam profissionais que tenham conhecimento em determinados campos da Web3,
para assim gerar uma capacitação interna. Até agora, a capacitação para Web3
fora da bolha tem sido uma ação top-down: empresas promovem o conhecimento
entre seus funcionários.
A boa notícia é que a própria comunidade da Web3
está se esforçando para atrair mais pessoas para este universo. A meu ver, não
entender a Web3 seria como chegar em qualquer empresa e não saber utilizar a
internet para enviar e-mails, por exemplo. Por isso, destaco o papel da
literacia digital como o modo de sobrevivência no mercado de trabalho. Para não
soar tão apocalíptica, friso que a Web3 é um espaço democrático de conhecimento
e está mais ligada aos princípios de comunidade e desejos dos consumidores do
que a um mundo de programação com zeros e uns.
Por outro lado, o assunto Web3 ainda é bastante
recente e precisamos entender que todas as revoluções tecnológicas possuem seu
próprio ciclo. Além de estarmos conscientes de que as tecnologias avançam mais
rápido do que nossa capacidade de absorvê-las e aplicá-las. É nesse momento que
surge a responsabilidade para promovermos capacitação e tornar o acesso à
internet e às informações um bem para todos.
Adriana Molha - fundadora da Go Digital Factory, empresa
que desenvolve soluções para educar pessoas sobre Web3, Metaverso e a Nova
Geração de Tecnologias. Empreendedora serial e consultora de negócios,
possui 4 empresas é host do Podcast Amanhã Já Foi | Web3 for Business. Adriana
é graduada em Marketing pela Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) e
especialista em negócios, com MBA em Gestão Empresarial pela Business School
São Paulo e MBA em Inovação e Capacidades Tecnológicas pela Fundação Getúlio
Vargas.
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