As tecnologias evoluem e são utilizadas nos diversos
segmentos nos seus setores produtivos. A referência da criação da prensa, das
máquinas a vapor, do sistema móvel biela/manivela, os motores e geradores
elétricos movidos a fluido em movimento, desde a água até combustíveis mais
eficientes e mais caros. Sempre vemos a substituição de uma tecnologia por
outra, a exemplo das linguagens de programação: já vivemos a fase do FORTRAN (representada
no filme Hidden Figure – lançamento dos foguetes peal NASA), do BASIC, do C++,
do Java e agora do Phyton.
Referente a evolução dos sistemas de gestão para
acompanhar as evoluções tecnológicas dos sistemas produtivos, podemos dar
destaque aos controles básicos de estoques, os controles de fluxos de produção
e armazenagem, a organização a partir dos ERPs (sistemas de gestão com controle
de todas as etapas produtivas) e, mais recentemente com a evolução da
inteligência artificial, o conhecimento dos desejos, dos interesses dos
cidadãos que são os clientes a serem atendidos pelos serviços e pelos bens.
Na educação, setor fundamental para movimentar a economia
do País e estimular o movimento social pela modificação do cidadão e da
sociedade pelo cidadão, o cliente se mistura com o produto e a sua produção é
denominada “um bem social” (destacada na LDB – Lei de Diretrizes e Bases de
1996). Mas, apesar de ser tão importante e transformador, o setor educacional
tem uma enorme dificuldade em implantar reformas até com a aplicação da
tecnologia no seu sistema produtivo e na estrutura das atividades de aulas.
A resistência à inovação é refletida em debates
infindáveis quanto à qualidade, defendida como importante em todas as esferas e
graus de discussão, mas que não se encontra a partir de resultados decorrentes
de avaliações e de etapas de medição. A educação é um dos segmentos onde a
participação do ser humano é mais intensa, mais essencial, pois é ele a
matéria-prima, o produto final nas etapas do ensino e um dos fatores de
produção mais importantes de todos os ciclos do processo.
Desta forma, por que mapear interesses, mapear satisfação
com o processo e mapear satisfação com o resultado são ações vistas como
assustadoras e pouco utilizadas efetivamente?
O SINAES, Sistema de Nacional de Avaliação do Ensino
Superior, criado pela Lei n° 10.861, de 14 de abril de 2004 traz um tripé
(qualquer analogia com a estabilidade física não é mera coincidência) de
elementos de avaliação. A Instituição, os cursos e os estudantes. O grande
valor dos SINAES foi destrinchar em eixos (cinco) e dimensões (10) as variáveis
importantes e que precisam ser medidas, avaliadas em cada etapa do processo
avaliativo.
Dando destaque ao processo avaliativo institucional, que é
onde os cursos são ofertados e os alunos estão associados, são 50 itens de
avaliação que, se acompanhados de maneira precisa e eficiente, é possível ter
um diagnóstico claro do andamento institucional, dos cursos com suas
dificuldades e desafios e também da satisfação do estudante em todas as etapas
de sua formação no curso dentro da instituição chamada de IES (Instituição de
Ensino Superior).
A análise dos indicadores institucionais é como se fosse
feita a leitura de um checkup de um organismo. Alguns indicadores
institucionais ou de exames são claros em si, mas é preciso fazer um mapeamento
mais preciso de falhas de processo a associação de resultados e valores dos
indicadores.
Na era da inteligência de dados, em um dos setores de mais
sensibilidade social e que mais tem seres humanos participando, não ter um
diagnóstico claro dos principais órgãos (IESs) que fazem parte deste
ecossistema caracteriza a realidade de um setor onde são oferecidas quase 30
milhões de vagas em cursos de graduação por ano e somente 10% são preenchidas.
Junto a este fato, não se pode deixar de mencionar que os valores de
mensalidades caem junto com o preço das ações dos grupos educacionais listados
em bolsa.
Governança e sustentabilidade são resultados inerentes de
um sistema bem gerido, que conhece os seus clientes (candidatos, leads, os
milhões de não matriculados), que ouve e dá participação no processo aos seus
alunos (medindo e aferindo em tempo real a satisfação do cliente-produto) e que
se sintoniza com os segmentos e setores que demandam este aluno formado
(aferindo a satisfação dos outros segmentos durante a etapa de formação,
trilhas de estágios, programas de traines).
Não aplicar os SINAES adequadamente é não querer conhecer
os sinais da qualidade do seu serviço realizado, e não usar o que tem mais
valor neste período da história do homem, os dados.
Não são só carreiras que vão desaparecer e não são só
profissionais que ficarão obsoletos, mas também as organizações que ignoram a
importância do acompanhamento contínuo de uma avaliação de processo, que temem
o que será resultado de um ciclo de realimentação contínuo perderão o seu valor
e colocarão a sua existência em cheque.
O valor de uma instituição não está no custo de uma
mensalidade proposta e sim no valor que o aluno, o cliente e o mercado têm
interesse em pagar pelo serviço prestado. Conhecer o custo é parte inerente do
processo de gestão e que é considerado superado com a profissionalização do
setor (espero que isto seja verdade...), mas saber quanto vale o que se oferece
e se disponibiliza é o real valor do bem social que está sendo entregue.
Não usar gestão de dados mantendo um ciclo avaliativo
contínuo é a grande causa da falta de sustentabilidade dos negócios
educacionais que estão esgotando as carreiras e perdendo o seu valor intrínseco
de segmento de transformação, de motivação e inspiração social.
Está na mão dos gestores o papel de salvar as suas instituições,
com a aplicação de sistemas de inteligência de dados no acompanhamento dos
processos e na melhoria contínua essencial para o setor educacional, em
especial no Ensino Superior. Ao Gestor Educacional: não tenha medo dos
indicadores e dos resultados, a partir deles a verdade se apresenta e sua ação
será mais eficiente, precisa e sustentável.
César Silva - diretor Presidente da Fundação de Apoio à
Tecnologia (FAT) e docente da Faculdade de Tecnologia de São Paulo –
FATEC-SP há mais de 30 anos. Foi vice-diretor superintendente do Centro
Paula Souza. É formado em Administração de Empresas, com especialização em
Gestão de Projetos, Processos Organizacionais e Sistemas de Informação.
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