Nas últimas
semanas, vimos casos de etarismo ganharem repercussão e as pessoas começaram a
dar voz a um grupo que sofre há muito tempo com um preconceito velado, imposto
facilmente no dia a dia. Esse sofrimento, em sua maioria, está atrelado
principalmente à carreira profissional.
Conhecido
popularmente como etarismo, esse preconceito também pode ser chamado de
discriminação etária, idadismo ou ageismo - termo advindo de uma palavra já
muito conhecida no ramo empresarial, o “aging”. Dessa forma é chamado o tipo de
discriminação contra pessoas ou grupos baseado na idade.
Um bom exemplo foi
o caso da estudante Patrícia Linares, de 45 anos, que ganhou repercussão após
sofrer preconceito quando, duas colegas de classes mais jovens, gravaram vídeos
a ridicularizando por "acharem um absurdo ter uma colega de sala com 40
anos". Contudo, se verificarmos a nossa volta, facilmente iremos
encontrar depoimentos não só de pessoas +40, +50, como também de pessoas
consideradas jovens para o mercado de trabalho e que se viram sem credibilidade
tão somente pela idade que tinham ou aparentavam ter.
É importante
tirarmos um tempo para analisar essa realidade. Na sua empresa, termos como
“muito velho” ou “novo demais” são citados nos momentos de tomada de decisão?
Se sim, talvez seja a hora de ligar o alerta e recalcular a rota do que está
sendo normalizado.
O
primeiro sinal de etarismo na sua empresa
Um dos primeiros e
mais perceptíveis sinais de etarismo dentro de uma empresa, são frases como
“Ele não entende dessas coisas, pois já está velho”, ‘‘Ele está muito bem pra
idade dele” ou até mesmo “Eu acho que isso não combina com sua idade”. Muitas
vezes essas frases surgem como uma brincadeira, ou até mesmo a tentativa de um
elogio ou conselho, porém não são nada além de preconceito velado.
Traumas
e demissão marcam outra forma de etarismo
A exclusão de
funcionários de dinâmicas e conversas da equipe, devido a idade também é uma
prática etarista. Segundo estudo realizado pela Universidade Sauder School of
Business da Columbia Britânica, a exclusão pode gerar insatisfações maiores do
que a prática de bullying no ambiente de trabalho. Inclusive podendo acarretar
doenças psicológicas e constante vontade de demissão.
Desvalorizar
opiniões ou ideias de acordo com a idade do colaborador
A desvalorização
de opiniões, ideias e feedbacks é um assunto que já vem sendo trabalhado por
muitas frentes, sendo elas frentes femininas, antirracistas e LGBTQIA+, e agora
teremos também a frente contra o etarismo para endossar essa luta contra a
desvalorização empresarial. Isso acontece porque grupos específicos veem
constantemente suas ideias, falas e opiniões serem tratadas como irrelevantes
apenas por serem quem são. Precisamos entender que desconsiderar a fala de
alguém por ser muito jovem ou mais velho, coloca sua empresa em uma posição
etarista, e leva ao desperdício de boas ideias, networking e de uma interação
plural, que hoje é vista como cada vez mais agregadora.
Estacionar
a carreira do colaborador
A prática de
congelar um colaborador em um setor, levando em conta que ele é velho demais
para outros cargos, ou até mesmo novo demais para ser promovido trata-se de uma
ação preconceituosa. Imagine só, você sentir-se totalmente pronto para um novo
desafio, ter plena consciência de sua evolução e ainda sim ver sua carreira
estacionada pois estão levando em consideração somente a idade que possui.
Parece péssimo, não?!
Em momentos como
de promoção, considere outros pontos dos seus colaboradores. Avalie suas
qualidades, pontos a melhorar e não esqueça que o feedback é uma prática muito
importante, independente da decisão que for tomada.
Cuidado
com os pedidos de contratação para o RH
Usar a cultura
“jovem” da empresa como desculpa para não contratar pessoas mais velhas é mais
comum do que parece. Muitas vezes, o time de recursos humanos encontra o perfil
perfeito para aquela vaga, mas se vê impossibilitado de dar prosseguimento a
seleção, devido a pedidos feitos pelos contratantes.
Cultura jovem está
muito longe de ser relacionada tão somente com a idade, a experiência e o
aperfeiçoamento ao longo de uma carreira com certeza pode agregar muita
jovialidade a vaga. Ao tratar com pessoas, desculpas como essas serão
totalmente prejudiciais ao candidato e afastará bons perfis para a empresa.
Ouvir
é um caminho para a solução desses e outros problemas
Por fim, é
importante sempre estar disposto a escutar seus colaboradores. Aprendi, ao
longo da minha vida, que ouvir é um dos princípios do networking que mais
trazem resultados. Ao escutarmos o que os outros têm para nos dizer, iremos
enxergar além de nossos olhos, sentir além de nossas emoções.
Entendo que ainda
estamos com um longo caminho para percorrer em busca do mundo empresarial
equitativo, mas lembre-se que cada detalhe dessa jornada importa.
Mara
Lemes Martins - PhD. Psicóloga e VP da BNI Brasil -
Business Network International - a maior
e mais bem-sucedida organização de networking de negócios do mundo.
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