Com curadoria de
Cauê Alves e Fábio Magalhães, a exposição Diálogos com cor e luz leva à Sala
Paulo Figueiredo mais de 70 obras de artistas como Abraham Palatnik, Alfredo
Volpi, Lygia Clark, Tomie Ohtake e Paulo Pasta. Na ocasião da abertura, o MAM
lança o catálogo da mostra
Lothar Charoux,
Círculos V, 1971. Guache e acrílica sobre papel colado sobre madeira. Coleção
MAM São Paulo. Prêmio Museu de Arte Moderna de São Paulo - Panorama 1971.
O Museu de Arte Moderna de São Paulo estreia
em 2 de março, na Sala Paulo Figueiredo, a exposição Diálogos
com cor e luz. Com curadoria de Cauê Alves
e Fábio Magalhães, a mostra traz um recorte da arte
abstrata na coleção do MAM, com foco nas relações entre cor e luz na pintura
brasileira da segunda metade do século 20.
O corpo da exposição é formado por pinturas dos
artistas Abraham Palatnik, Alfredo Volpi, Almir
Mavignier, Amelia Toledo, Arthur
Luiz Piza, Cássio Michalany, Hermelindo
Fiaminghi, Lothar Charoux, Luiz
Aquila, Lygia Clark, Manabu Mabe, Marco
Giannotti, Maria Leontina, Maurício
Nogueira Lima, Mira Schendel, Paulo Pasta, Rubem
Valentim, Sérgio Sister, Takashi
Fukushima, Thomaz Ianelli, Tomie
Ohtake, Wega Nery e Yolanda
Mohalyi.
“A exposição trata da sensibilidade cromática, dos
campos de vibração de luz e da temporalidade, assim como da construção de
espaços e atmosferas a partir da cor”, explica Cauê Alves,
curador-chefe do MAM. “Agrupamos no espaço várias gerações de artistas, sem
privilegiar tendências nem estabelecer ordem cronológica. Misturamos tempos e linguagens,
para incentivar nosso olhar à percepção de semelhanças e diferenças entre as
várias poéticas visuais nos diversos tratamentos da luz e da cor”, completa Fábio
Magalhães, membro do conselho do MAM São Paulo.
A expografia realizada pelo arquiteto Haron Cohen
dividiu a Sala Paulo Figueiredo com painéis radiais, em referência ao disco de
cores, um experimento óptico de Isaac Newton (1643-1727) publicado em 1707 em
seu livro Opticks. Na publicação, o matemático e físico inglês
demonstra, por meio de um disco de sete cores (vermelho, violeta, azul índigo,
azul ciano, verde, amarelo e laranja), sua teoria de que a luz branca do Sol é
formada pelos matizes do arco-íris.
A curadoria busca trazer ao público a cor e a
luz como expressões autônomas, como valores em si mesmas, e não como algo
que busca representar ou estabelecer relações de similitude com o mundo real –
o azul do céu, por exemplo.
“Na pintura abstrata, há múltiplas abordagens de
cor e luz como linguagem pictórica: de harmonia, ruptura, contraste,
continuidade, complementaridade, variação tonal e vibração, entre tantas outras
formas de expressão. A luz estabelece as tonalidades e atua nas relações
cromáticas e na construção do espaço”, explica Magalhães.
Abraham Palatnik, em seu Aparelho
Cinecromático (1969/86), apresenta cores-luzes em movimentos
construídos a partir de máquinas e lâmpadas, enquanto outros artistas mais
próximos da tradição construtiva e da op art, como Hermelindo Fiaminghi,
Lothar Charoux e Maurício Nogueira Lima, se valem de formas geométricas e cores
mais estáveis para estruturar suas composições. Com certa recorrência, Charoux
explora fundos escuros e sombras de onde surgem raios luminosos. Seja de modo
mais gráfico, como nos cartazes de Almir Mavignier, seja na simbologia de
matriz africana de Rubem Valentim, a cor estrutura a composição.
Mira Schendel utiliza elementos gráficos em sua
composição, mas, como explica Alves em seu texto curatorial, não renuncia ao
ecoline nem à luz da folha de ouro para tratar de questões metafísicas. Já a
tela Branco (1995), de Amélia Toledo, traz uma luz que emana do
encontro da tinta com a textura da tela. Arthur Luiz Piza obtém a luz em suas
gravuras por meio de incisões geométricas em placas de metal; algumas se
assemelham a mosaicos e transbordam para o espaço tridimensional. Alfredo
Volpi, o mestre da cor, principalmente com seus mastros e quadriculados,
insinua movimentos e veladuras sobre a tela, fazendo com que quadrados ou
retângulos se deformem. O verde luminoso de Composição (1953), de Lygia Clark – do
momento inicial de sua trajetória, quando ela se dedicou à pintura –, contrasta
com as linhas e as formas claras e escuras que flutuam na tela.
Ainda segundo o curador, Maria Leontina e
Tomie Ohtake também se aproximam de modo sensorial da geometria, e a cor é um
dos fundamentos de suas pinturas. Leontina se vale de planos de cor e
movimentos para imprimir uma dimensão temporal a seu trabalho. Já Ohtake, em
especial na grande tela de 1989, usa contornos irregulares para dar forma a um
círculo iluminado que pulsa de um fundo azul profundo, indicando um movimento
de expansão de um possível corpo celeste. Manabu Mabe, Takashi Fukushima, Luiz
Aquila e Thomaz Ianelli se aproximam do informe, de um universo da caligrafia,
numa abstração ora mais espontânea, ora mais controlada. Os movimentos e gestos
evidentes em seus trabalhos guardam a cor e a luz como alicerces que sustentam
o conjunto. Wega Nery e Yolanda Mohalyi se aproximam de uma abstração
expressionista, lírica e gestual, mesmo que possa existir uma dimensão
projetual em suas telas, com manchas mais retangulares.
Cássio Michalany, em vez de pintar formas, faz com
que o chassi de sua pintura indique o formato da tela. Com poucos elementos,
uma única cor homogênea assume o protagonismo de seu trabalho. Sérgio Sister
chama atenção para o plano, e sua pintura explora texturas, brilhos e
luminosidades que guiam o olhar do observador. Paulo Pasta trabalha as relações
entre tons, cores e luzes a partir de formas recorrentes em sua obra, uma espécie
de colunas. Por meio de composições equilibradas, é como se o tempo fosse
momentaneamente suspenso até que a espessura das cores e das luzes seja
efetivamente percebida. As pinturas de Marco Giannotti, um estudioso da cor,
ficam entre a figuração e a abstração e exploram imagens de janelas, grades e
estruturas das quais emanam luzes que parecem vir do interior da tela.
“Em uma época em que os discursos e as
narrativas estão entranhados no interior da produção artística, em que
inclusive as cores parecem ser dominadas por sentidos objetivos que a
determinam tanto política quanto simbolicamente, reafirmar sua autonomia pode
parecer algo retrógrado. Entretanto, os diálogos com a cor e a luz, assim como
com os vínculos da cor com o espaço, a estrutura e o tempo, podem ampliar as
possibilidades de compreensão da arte além do aqui e agora e recolocar a
ambiguidade e a abertura de sentidos da arte”, reflete Cauê Alves.
Magalhães relembra ainda que, no século
passado, o MAM São Paulo desempenhou um papel significativo na introdução e na
difusão das tendências abstracionistas no Brasil. “Dois exemplos merecem ser
citados: a mostra inaugural do museu, Do Figurativismo ao Abstracionismo,
realizada em março de 1949 por Léon Degand (1907-1958) – que contrariou o próprio
título ao reunir apenas obras abstratas, entre elas cinco telas de W. Kandinsky
–, e a exposição Ruptura, em dezembro de 1952, que deu início ao movimento
concretista na arte brasileira, com a publicação de seu manifesto”, ele conta.
Na ocasião da abertura (02/03), o MAM lança o
catálogo bilíngue da exposição, com textos em português e inglês, e a
reprodução integral de imagens das 73 obras. A publicação reúne textos
assinados por Elizabeth Machado, presidente do MAM, Cauê Alves, curador-chefe
do museu, e Fábio Magalhães, conselheiro do museu e curador da exposição. Além
das imagens e textos, o catálogo também apresenta a reprodução de um desenho do
arquiteto Haron Cohen, referente ao projeto expográfico que desenvolveu para a
exposição.
Diálogos com cor e luz integra uma programação de comemorações do MAM, com os 75 anos do museu
e os 30 anos de seu Jardim de Esculturas.
Sobre o MAM São Paulo
Fundado em 1948, o Museu de Arte Moderna de São
Paulo é uma sociedade civil de interesse público, sem fins lucrativos. Sua
coleção conta com mais de 5 mil obras produzidas pelos mais representativos
nomes da arte moderna e contemporânea, principalmente brasileira. Tanto o
acervo quanto as exposições privilegiam o experimentalismo, abrindo-se para a
pluralidade da produção artística mundial e a diversidade de interesses das
sociedades contemporâneas.
O Museu mantém uma ampla grade de atividades que
inclui cursos, seminários, palestras, performances, espetáculos musicais,
sessões de vídeo e práticas artísticas. O conteúdo das exposições e das
atividades é acessível a todos os públicos por meio de visitas mediadas em
libras, audiodescrição das obras e videoguias em Libras. O acervo de livros,
periódicos, documentos e material audiovisual é formado por 65 mil títulos. O
intercâmbio com bibliotecas de museus de vários países mantém o acervo vivo.
Localizado no Parque Ibirapuera, a mais importante
área verde de São Paulo, o edifício do MAM foi adaptado por Lina Bo Bardi e
conta, além das salas de exposição, com ateliê, biblioteca, auditório,
restaurante e uma loja onde os visitantes encontram produtos de design, livros
de arte e uma linha de objetos com a marca MAM. Os espaços do Museu se integram
visualmente ao Jardim de Esculturas, projetado por Roberto Burle Marx e Haruyoshi
Ono para abrigar obras da coleção. Todas as dependências são acessíveis a
visitantes com necessidades especiais.
Serviço
Diálogos com cor e luz [coletiva com Abraham Palatnik, Alfredo Volpi, Almir Mavignier,
Amelia Toledo, Arthur Luiz Piza, Cássio Michalany, Hermelindo Fiaminghi,
Lothar Charoux, Luiz Aquila, Lygia Clark, Manabu Mabe, Marco Giannotti,
Maria Leontina, Maurício Nogueira Lima, Mira Schendel, Paulo Pasta, Rubem
Valentim, Sérgio Sister, Takashi Fukushima, Thomaz Ianelli, Tomie Ohtake, Wega
Nery e Yolanda Mohalyi]
Abertura: 2 de março, quinta-feira, às 19h
Período expositivo: 2 de março a 28 de maio de 2023
Curadoria: Cauê Alves e Fábio Magalhães
Local: Museu de Arte Moderna de São Paulo, Sala Paulo Figueiredo
Endereço: Parque Ibirapuera (Av. Pedro Álvares Cabral, s/nº - Portões 1 e 3)
www.mam.org.br/
www.instagram.com/MAMoficial
www.twitter.com/MAMoficial
www.facebook.com/MAMoficial
www.youtube.com/MAMoficial
Horários: terça a domingo, das 10h às 18h (com a última entrada às 17h30)
Ingressos: R$25,00 inteira e R$12,50 meia-entrada. Aos domingos, a entrada é
gratuita e o visitante pode contribuir com o valor que quiser.
*Meia-entrada para estudantes, com identificação;
jovens de baixa renda e idosos (+60). Gratuidade para crianças menores de 10
anos; pessoas com deficiência e acompanhante; professores e diretores da rede
pública estadual e municipal de São Paulo, com identificação; sócios e alunos
do MAM; funcionários das empresas parceiras e museus; membros do ICOM, AICA e
ABCA, com identificação; funcionários da SPTuris e funcionários da Secretaria
Municipal de Cultura.
Acesso para pessoas com deficiência
Restaurante/café
Ar-condicionado
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