Relatório publicado pelo banco Citi
aponta que Magalu, Mercado Livre e Via Varejo são as mais bem posicionadas para
pegar espaço que a Americanas eventualmente deixe vagoPixabay
A dívida de mais de R$ 40 bilhões que
fez a Americanas entrar com pedido de recuperação judicial colocou a varejista
no centro das atenções do mercado. Investidores, fornecedores e consumidores
ainda tentam entender o que está por vir. Mas para além disso, essa desordem
jogou luz também sobre outras empresas do mesmo segmento.
São muitas as perguntas. Entre elas,
como ficam os lojistas cadastrados na plataforma? Tendo em vista que, para
esses vendedores, fechar sua conta em um marketplace nem sempre é um processo
rápido de ser realizado, a saída imediata para muitos deles foi aumentar (e
muito) o valor dos produtos - praticamente, inviabilizando que qualquer
consumidor optasse por comprar pela Americanas e buscasse outras opções. Isso
foi feito pelo receio de não conseguirem o repasse pelos itens vendidos.
Outra questão é o comportamento da
concorrência diante disso tudo. Pensando em consumo, haveria, de fato, uma
brecha a ser preenchida? E como esses concorrentes passariam a ser vistos se a
Americanas, considerada um modelo de negócio, chegou a um cenário de
endividamento desse porte? Haveria outras empresas do setor com a saúde
financeira comprometida?
Muitas dúvidas e nenhuma certeza,
aponta Ricardo Rodil, especialista financeiro do Grupo Crowe Macro. Embora
ainda seja cedo para afirmar, Rodil não ignora o fato de que com o
enfraquecimento da Americanas, há uma fatia de mercado a ser suprida.
Trata-se da quarta maior recuperação
judicial do país, e isso pode redesenhar o setor com a abertura de
oportunidades para as concorrentes. Quando isso acontece, segundo Rodil, não é
impossível imaginar um aumento de preços por parte da concorrência. Pois nomes
de peso como Mercado Livre, Via e Magalu podem entender que em um mercado ainda
mais concentrado conseguiriam vender por preços maiores.
"Mas não é o que deve acontecer. O
comércio on-line é muito competitivo e o consumidor não vai deixar de comprar
porque a Americanas 'quebrou'. Essa fatia maior de mercado na mão de poucos não
significa, necessariamente, pressão para elevar preços".
E ao contrário do que ocorre no
digital, Rodil acredita que, mais do que nunca, seria o momento ideal para a
Americanas apostar em suas lojas físicas.
Conhecida principalmente por seus
descontos em chocolates, produtos de beleza e salgadinhos, o especialista diz
que o mais esperado é que as lojas da Americanas fiquem mais povoadas nas
próximas semanas. Isso porque os consumidores têm ido às lojas curiosos para
conferir itens em liquidação pensando na crise da companhia. Mas, por ora, nada
mudou. Na verdade, muitos relatos contam que os descontos habituais até
sumiram.
Para o especialista, o mais esperado é
que esse tombo da Americanas tenha um impacto irreversível na preferência do
consumidor, que vai se acostumar a comprar em outras lojas. Além disso, em
cenário positivo, Rodil aponta que a recuperação da marca deverá perdurar por
anos, com certa diminuição do seu porte estrutural e muitas demissões.
ABSORÇÃO NATURAL PELA CONCORRÊNCIA
Para Cleber Brandão, especialista em
varejo, a absorção da clientela da varejista pela concorrência é mais do que
natural, e já estaria acontecendo sem que essas empresas façam muito esforço. O
movimento, segundo Brandão, ocorre por escolha do próprio consumidor, que não
se sente seguro em comprar de uma empresa com problemas financeiros.
Nas palavras do especialista, embora
e-commerces estrangeiros como Amazon, Shopee e Aliexpress tenham muito capital
para investir no Brasil, nessa briga, os negócios locais têm vantagem.
A única exceção seria o Mercado Livre,
que já tem significativa participação no Brasil, muitos fornecedores internos e
um perfil de plataforma mais parecido com o da Americanas - mais diversificado
e com tíquete menor. "Mesmo assim, todas as varejistas serão beneficiadas
de certa forma, pois ganham mais espaço com fornecedores e com clientes."
Em relatório, o banco Citi indica que
espera que a receita bruta das vendas on-line da Magazine Luiza cresça 18%,
seguido por Via (+15%) e Mercado Livre (+11%). Assim, em termos de participação
de mercado, o Citi espera que, em 2023, Mercado Livre fique com 40,3%, Magalu
19,4%, Via 9% e outros 31,3%.
Levantamento feito com base no ranking
da consultoria Conversion destaca que o potencial dos concorrentes absorverem a
fatia das Americanas no comércio on-line tem como referência o número de
acessos do consumidor às plataformas.
No último trimestre do ano passado, o
Mercado Livre teve 335 milhões de acessos, em média, por mês e liderou a lista
das lojas on-line mais procuradas pelos brasileiros.
De acordo com a Associação Brasileira
de Comércio Eletrônico (ABComm), as vendas totais registradas no e-commerce
brasileiro atingiram a marca de R$ 169,6 bilhões em 2022, 5% a mais do que no
ano anterior. Foram cerca de 368,7 milhões de pedidos e um gasto médio de R$
460 por cliente em 2022.
No último balanço divulgado pela Americanas, com dados referentes ao terceiro trimestre de 2022, a receita do varejo físico era de R$ 3,28 bilhões, enquanto a receita do comércio eletrônico era de R$ 3,09 bilhões. Ou seja, 51% do faturamento da Americanas veio das lojas físicas. Mas, no ano completo de 2021, o digital foi o principal canal de vendas. O faturamento do comércio eletrônico foi de R$ 19 bilhões, ante R$ 13 bilhões do físico.
Mariana Missiaggia
https://dcomercio.com.br/publicacao/s/como-a-crise-na-americanas-mexe-com-a-concorrencia
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