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segunda-feira, 6 de fevereiro de 2023

Como a crise na Americanas mexe com a concorrência

Pixabay
Relatório publicado pelo banco Citi aponta que Magalu, Mercado Livre e Via Varejo são as mais bem posicionadas para pegar espaço que a Americanas eventualmente deixe vago

 

A dívida de mais de R$ 40 bilhões que fez a Americanas entrar com pedido de recuperação judicial colocou a varejista no centro das atenções do mercado. Investidores, fornecedores e consumidores ainda tentam entender o que está por vir. Mas para além disso, essa desordem jogou luz também sobre outras empresas do mesmo segmento.

São muitas as perguntas. Entre elas, como ficam os lojistas cadastrados na plataforma? Tendo em vista que, para esses vendedores, fechar sua conta em um marketplace nem sempre é um processo rápido de ser realizado, a saída imediata para muitos deles foi aumentar (e muito) o valor dos produtos - praticamente, inviabilizando que qualquer consumidor optasse por comprar pela Americanas e buscasse outras opções. Isso foi feito pelo receio de não conseguirem o repasse pelos itens vendidos.

Outra questão é o comportamento da concorrência diante disso tudo. Pensando em consumo, haveria, de fato, uma brecha a ser preenchida? E como esses concorrentes passariam a ser vistos se a Americanas, considerada um modelo de negócio, chegou a um cenário de endividamento desse porte? Haveria outras empresas do setor com a saúde financeira comprometida?

Muitas dúvidas e nenhuma certeza, aponta Ricardo Rodil, especialista financeiro do Grupo Crowe Macro. Embora ainda seja cedo para afirmar, Rodil não ignora o fato de que com o enfraquecimento da Americanas, há uma fatia de mercado a ser suprida.

Trata-se da quarta maior recuperação judicial do país, e isso pode redesenhar o setor com a abertura de oportunidades para as concorrentes. Quando isso acontece, segundo Rodil, não é impossível imaginar um aumento de preços por parte da concorrência. Pois nomes de peso como Mercado Livre, Via e Magalu podem entender que em um mercado ainda mais concentrado conseguiriam vender por preços maiores.

"Mas não é o que deve acontecer. O comércio on-line é muito competitivo e o consumidor não vai deixar de comprar porque a Americanas 'quebrou'. Essa fatia maior de mercado na mão de poucos não significa, necessariamente, pressão para elevar preços".

E ao contrário do que ocorre no digital, Rodil acredita que, mais do que nunca, seria o momento ideal para a Americanas apostar em suas lojas físicas.

Conhecida principalmente por seus descontos em chocolates, produtos de beleza e salgadinhos, o especialista diz que o mais esperado é que as lojas da Americanas fiquem mais povoadas nas próximas semanas. Isso porque os consumidores têm ido às lojas curiosos para conferir itens em liquidação pensando na crise da companhia. Mas, por ora, nada mudou. Na verdade, muitos relatos contam que os descontos habituais até sumiram.

Para o especialista, o mais esperado é que esse tombo da Americanas tenha um impacto irreversível na preferência do consumidor, que vai se acostumar a comprar em outras lojas. Além disso, em cenário positivo, Rodil aponta que a recuperação da marca deverá perdurar por anos, com certa diminuição do seu porte estrutural e muitas demissões.

ABSORÇÃO NATURAL PELA CONCORRÊNCIA

Para Cleber Brandão, especialista em varejo, a absorção da clientela da varejista pela concorrência é mais do que natural, e já estaria acontecendo sem que essas empresas façam muito esforço. O movimento, segundo Brandão, ocorre por escolha do próprio consumidor, que não se sente seguro em comprar de uma empresa com problemas financeiros.

Nas palavras do especialista, embora e-commerces estrangeiros como Amazon, Shopee e Aliexpress tenham muito capital para investir no Brasil, nessa briga, os negócios locais têm vantagem.

A única exceção seria o Mercado Livre, que já tem significativa participação no Brasil, muitos fornecedores internos e um perfil de plataforma mais parecido com o da Americanas - mais diversificado e com tíquete menor. "Mesmo assim, todas as varejistas serão beneficiadas de certa forma, pois ganham mais espaço com fornecedores e com clientes."

Em relatório, o banco Citi indica que espera que a receita bruta das vendas on-line da Magazine Luiza cresça 18%, seguido por Via (+15%) e Mercado Livre (+11%). Assim, em termos de participação de mercado, o Citi espera que, em 2023, Mercado Livre fique com 40,3%, Magalu 19,4%, Via 9% e outros 31,3%.

Levantamento feito com base no ranking da consultoria Conversion destaca que o potencial dos concorrentes absorverem a fatia das Americanas no comércio on-line tem como referência o número de acessos do consumidor às plataformas.

No último trimestre do ano passado, o Mercado Livre teve 335 milhões de acessos, em média, por mês e liderou a lista das lojas on-line mais procuradas pelos brasileiros.

De acordo com a Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm), as vendas totais registradas no e-commerce brasileiro atingiram a marca de R$ 169,6 bilhões em 2022, 5% a mais do que no ano anterior. Foram cerca de 368,7 milhões de pedidos e um gasto médio de R$ 460 por cliente em 2022.

No último balanço divulgado pela Americanas, com dados referentes ao terceiro trimestre de 2022, a receita do varejo físico era de R$ 3,28 bilhões, enquanto a receita do comércio eletrônico era de R$ 3,09 bilhões. Ou seja, 51% do faturamento da Americanas veio das lojas físicas. Mas, no ano completo de 2021, o digital foi o principal canal de vendas. O faturamento do comércio eletrônico foi de R$ 19 bilhões, ante R$ 13 bilhões do físico.



Mariana Missiaggia
https://dcomercio.com.br/publicacao/s/como-a-crise-na-americanas-mexe-com-a-concorrencia

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