Fatores como a baixa quantidade de matéria orgânica, pouca retenção de água, entre outros, podem comprometer a produtividade em solos arenosos de uma das culturas com mais alto custo de produção
O algodão é uma cultura de ciclo longo, que
necessita de boa quantidade de água e sol até a metade do seu ciclo de
produção, e ausência de chuva na outra metade. Ou seja, o fator preponderante
para o seu sucesso em solos arenosos é a água. Por outro lado, esses ambientes
possuem, por natureza, menor quantidade de retenção dela devido à proporção
inferior de microporos e ausência de cargas, comparado aos solos com maior teor
de argila. Essa condição favorece uma alta taxa de drenagem, baixa quantidade
de matéria orgânica, acúmulo e armazenamento de nutrientes e susceptibilidade à
erosão hídrica.
Consequentemente, tudo isso gera limitações ao
fornecimento de água e nutrientes para o desenvolvimento da cultura. Por isso,
é necessário que os cotonicultores de regiões com esse perfil de área realizem
ajustes no sistema de produção para alcançar maior produtividade frente a um
cultivo que tem elevado custo de produção.
Durante o XIV Encontro Técnico Algodão da Fundação
de Apoio à Pesquisa Agropecuária de Mato Grosso (Fundação MT), realizado em
Cuiabá/MT, especialistas debateram os principais pontos a respeito desse
assunto. Conforme o pesquisador da instituição, engenheiro agrônomo e mestre em
Ciência do Solo, Felipe Bertol, há alguns ajustes que podem ser realizados para
que esse ambiente impacte menos no final da safra como, por exemplo, a época de
semeadura e o aporte de matéria orgânica.
“A época de semeadura aumenta a pluviosidade
acumulada no ciclo da cultura, diminuindo os riscos por déficit hídrico. Já o
aporte de matéria seca, em quantidade e qualidade, pode aumentar a matéria
orgânica e consequentemente elevar a retenção de água e nutrientes”, explica o
pesquisador.
Ainda segundo o especialista, o atual cenário ideal
para a cotonicultura em ambientes arenosos é caracterizado por algodão verão,
aquele semeado no mês de dezembro e precedido, quando possível, por uma planta
de cobertura com aporte de massa suficiente para proteger o solo, não afetar a
plantabilidade e também fornecer nutrientes ao algodoeiro.
Que ferramentas adotar?
A principal ferramenta que o agricultor tem hoje nestes ambientes com solos arenosos e no objetivo de produzir mais pluma, é a adequação do manejo com o conhecimento técnico adaptado para cada situação. Para Bertol, deve-se ter em mente:
- O
sistema de produção pode definir o sucesso econômico e sustentável do
ambiente;
- O
cultivo de duas culturas comerciais na mesma safra tem um risco muito
elevado, sobretudo quando uma das culturas é o algodoeiro;
- O
aporte de matéria orgânica de forma racional (quantidade e qualidade)
define a plantabilidade, disponibilidade de nutrientes, retenção de solo e
água e, por fim, o sucesso econômico;
- A
agricultura em solos arenosos deve ser embasada em processos e não em
insumos.
Durante o Encontro Técnico Algodão, especialistas
debateram sobre como é possível ter sucesso na cotonicultura em solos arenosos.
Bertol conta quais são algumas das medidas que podem ser adotadas nesses casos.
“A primeira está relacionada ao sistema de produção, que deve falar mais alto:
preconizar matéria orgânica, aporte de nitrogênio via planta, rotação de
culturas, aprofundamento do sistema radicular, evitar descompactação e perda de
água e solo”, diz.
Além disso, é recomendado realizar um manejo
nutricional adequado, trabalhando com doses e parcelamentos. A janela de
semeadura adequada ao sistema de produção também é importante, seguida pela
observação periódica do campo e tomada de decisão em tempo real com ação em
curto espaço de tempo.
O pesquisador alerta que mesmo fazendo tudo o que
foi sugerido, o cultivo de algodão em solos arenosos não garante produtividades
elevadas, visto que o discurso “cada ano é um ano” é muito aplicável para estas
condições. “Nesses ambientes, todo impacto negativo é maximizado e pode gerar
perdas significativas. As principais perdas são por déficits hídricos em
momentos chaves da cultura, excesso hídrico, podridão e aborto de maçãs,
nematoides e outros”, complementa.
Atenção regional
Cada região produtora tem sua especificidade, tanto
ambiental quanto de manejo. Isso é difícil de ser mapeado, até porque há
diferenças entre solos arenosos (por exemplo, proporção de areia fina e areia
grossa). Mas, para fomentar a discussão e mostrar diferenças e semelhanças
entre as regiões, profissionais das principais regiões produtoras de Mato
Grosso e da Bahia participaram do XIV Encontro Técnico Algodão da Fundação MT.
O cotonicultor da Bahia, Paulo Schmidt, da Schmidt
Agrícola, conta que em suas fazendas cultiva em dois tipos de solo: arenoso e o
mais argiloso. A área de algodão é mantida em oito mil hectares e é feita
rotação. Diz, ainda, que às vezes, dentro da propriedade e num raio de quatro
ou cinco quilômetros, é possível encontrar talhão mais arenoso, passando por um
mediano e terminando em um argiloso. “Isso dá um impacto muito grande na
produção, quanto mais argila, nós temos visto que as produções sempre são
melhores. E na nossa região, que há uma tendência de ser bem mais arenoso do
que algumas outras partes do País, com o teor de argila acima de 35%, já é
muito argiloso”, descreve.
O produtor explica que o solo arenoso é um pouco
mais trabalhoso em termos de fertilidade, mas que para executar as operações de
plantio e maquinário é melhor. No entanto, “a adubação é feita especificamente
para cada área, realizamos análises química, física, junto com o corpo técnico,
e aí vem as recomendações. Normalmente, solos mais arenosos necessitam de menos
calcário do que os mais argilosos e outros detalhes referente a fósforo”.
Para melhorar, Schmidt, em áreas arenosas e também
nas demais, realiza o plantio de coberturas, reforçando o que o pesquisador da
Fundação MT orientou, visando melhorar a matéria orgânica. “São essas plantas
de cobertura que vão dar uma estabilidade melhor nesse solo e vai com certeza
melhorar a capacidade dele em termos de produtividade”, destaca.
Tempo de cultivo
O cotonicultor aponta como o tempo é um grande
personagem para o sucesso do plantio de algodão em solo arenoso. Segundo ele, é
preciso e benéfico que o solo envelheça. “Para cultivar a pluma na Bahia, nesse
tipo de área, tem que ter pelo menos 10 anos de cultivo de soja, milho e outras
culturas, para que o algodão possa realmente ter uma boa produtividade”,
finaliza.
Fundação MT
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