Considerar o repertório dos alunos é um desafio para a docência. Paulista (PE) e Suzano (SP) são exemplos de redes municipais que conseguiram aproximar o método da vivência dos estudantes da educação infantil
Recentemente,
viralizou na internet o vídeo do professor de educação
infantil Allan de Souza, em que ele canta junto com os seus alunos
uma música composta a partir das características dos cabelos de cada um da sala
de aula. A canção colocou as crianças no centro da proposta pedagógica e ainda
trouxe uma importante mensagem antirracista e de empoderamento.
A
criança desempenhar um papel ativo, que considere suas experiências, é uma
vertente da BNCC (Base Nacional Comum Curricular), que tem por objetivo
aprimorar os processos de aprendizagem na educação básica. Transpor a diretriz
à prática, como fez o professor Allan, é o grande desafio para dar mais
significado às rotinas da vida escolar, ampliando o envolvimento dos alunos
desde a educação infantil.
Focar
mais nos saberes das crianças pode ser uma iniciativa de toda uma rede de
ensino. Em Suzano (SP), o município “virou a chave” na educação infantil. As
atividades do processo de alfabetização se apoiaram nas histórias dos nomes dos
alunos para apresentar a eles o mundo das letras. A turma da Escola Municipal
Antonio Carlos Mayer, da professora Dorisnilce Aparecida da Silva, por exemplo,
descobriu que o nome do Murilo era com M porque todos os irmãos também tinham
nomes começando com essa letra e também porque o pai do Maycon era fã de
Michael Jackson. Já o pai da Kyara gostou do som do nome da personagem do filme
Rei Leão.
“A
maneira como as crianças têm de fazer relações nunca cessa. Por esse motivo,
apenas levar conteúdo é bem menos interessante do que propor oportunidades de
experimentação e vivências”, explica a professora Carolina Barros Jatczak, da
rede pública municipal de Suzano.
Para
trilhar este caminho, o município implementou a tecnologia educacional
“Experiências formativas em cultura escrita com crianças de 4 a 6 anos”,
disponibilizada pelo programa Melhoria da Educação, do Itaú Social.
“O
nome é um texto e a informação que ele comunica é a própria criança, o próprio
ser que ele representa. O nome é livre de contextos e não possibilita a ambiguidade
de significado”, explica a formadora do Avisa Lá – parceira do Itaú Social na
implementação da tecnologia, Dami Cunha. Para a criança que está refletindo
sobre o sistema alfabético, o nome é fonte de informação das mais seguras — é
uma palavra estável, não tem plural e, sempre que a criança tiver que escrever
seu nome, vai usar aquelas letras, daquela forma.
Para
a coordenadora de implementação municipal do Itaú Social, Sonia Dias, é preciso
que as redes municipais invistam na formação dos professores que favoreçam o
processo de alfabetização por meio de propostas mais instigantes e
significativas para as crianças. “É importante propor intervenções de acordo
com suas necessidades, considerando suas experiências de vida e o que já sabem
sobre a linguagem escrita, leitura e oralidade”, explica. A ideia não é ferir a
identidade da educação infantil (que não tem como propósito alfabetizar), mas
sim buscar uma continuidade das investigações das crianças sobre a língua,
iniciadas muito cedo, e um processo de transição mais favorável às
aprendizagens.
Em Paulista (PE), a rede municipal também promoveu melhorias focadas na educação infantil, por meio da formação dos professores. “Antes, eu fazia meu planejamento baseado no que eu achava que o aluno deveria aprender. Agora escuto muito para desenvolver uma sequência didática. A aprendizagem acontece junto comigo, mas é centrada na criança”, contou a professora Simone Almeida.
O município implementa a tecnologia educacional “Gestão e formação
de equipes de educação infantil”, disponível para todas as redes de ensino no
site do programa Melhoria da Educação. “O
maior benefício para quem acessa essa tecnologia é poder implementar uma
formação continuada de gestores e professores alinhada com as políticas
nacionais da educação infantil, como a BNCC e as Diretrizes Curriculares
Nacionais para a Educação Infantil”, explica Sonia.
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