O anúncio recente de gravidez da atriz Cláudia Raia mexeu com as mídias sociais e com a cabeça de muitas mulheres que estão enfrentando problemas para engravidar ou que pensam em adiar a maternidade. Ter um filho quando desejado é um componente fundamental da vida de muitas pessoas. Os direitos dos indivíduos de constituir uma família e decidir livre e responsavelmente o número, o espaçamento e o tempo de seus filhos, de ter as informações e os meios para fazê-lo, constam em documentos internacionais de direitos humanos desde 1948.
Os avanços científicos e tecnológicos no campo da
Medicina Reprodutiva deram às mulheres novas perspectivas e a possibilidade de
controlar seu ciclo reprodutivo, escolher ou não a maternidade, o número de
filhos e de quando tê-los. O adiamento da maternidade, para idades cada vez
mais avançadas, é um fenômeno mundial que reflete as várias mudanças sociais e
econômicas registradas recentemente. A ocorrência de gestações naturais após os
50 anos, entretanto, é evento extremamente raro de modo que a gravidez de
Cláudia Raia não serve como exemplo para a esmagadora maioria das mulheres.
Na verdade, atrasos podem ser extremamente
deletérios para a fertilidade feminina. O relógio biológico feminino obedece a
mecanismos complexos e ainda pouco conhecidos. Há uma queda significativa da
capacidade reprodutiva feminina a partir dos 35 anos de idade e não há como
interromper nem reverter tal fenômeno. Com o passar dos anos, há redução da
qualidade e da quantidade dos óvulos até a ocorrência da última menstruação
(menopausa) que chega, em média, aos 51 anos para a maioria das mulheres, que é
precedida de alterações hormonais e reprodutivas que iniciam bem antes da
menopausa. Dessa forma, após os 40 anos de idade, as chances de engravidar
espontaneamente são reduzidas de maneira significativa e aumentam as chances de
abortamentos entre outras complicações.
É preciso ainda considerar que os riscos
gestacionais aumentam à medida que a idade materna avança, e que a gravidez não
pode ser postergada indefinidamente. O desenvolvimento de técnicas como o
congelamento de óvulos deu às mulheres o poder de escolher adiar a decisão da
maternidade, sem a pressão do relógio biológico. Idealmente, o congelamento de
óvulos deve ser feito até os 35 anos de idade em vista da queda natural da
qualidade e quantidade dos óvulos a partir daí. Outra vantagem é que se decidir
não usar os óvulos ou se engravidar espontaneamente, estes podem ser descartados.
Assim, como planejam sua educação e suas carreiras,
as mulheres precisam aprender a cuidar da sua saúde reprodutiva e, caso
queiram, podem planejar a maternidade. Além disso, crenças e a divulgação de
informações equivocadas atrasam o diagnóstico e a realização do tratamento
adequado. Até o momento, não há nenhum método capaz de medir nem a quantidade
nem a qualidade do pool de óvulos, a chamada reserva ovariana. Apesar de todo o
desenvolvimento tecnológico, não há como medir o tempo de vida fértil de uma
mulher nem meios eficazes para prolongá-lo naturalmente. Dessa forma, a decisão
de ser mãe não pode ser adiada indefinidamente. A maternidade, caso desejada,
deve ser discutida e planejada de modo a permitir uma gestação sem complicações
e o nascimento de crianças saudáveis. Cada mulher é única e como tal deve
ser avaliada e ter o direto de receber informações embasadas no melhor
conhecimento científico disponível.
Márcia Mendonça Carneiro - Diretora científica Clínica Origen, Professora Associada-
Departamento de Ginecologia e Obstetrícia – Faculdade de Medicina da UFMG.
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