Opinião
Há quantos anos você ouve falar sobre globalização?
Esse conceito, que parecia distante no final do século passado, já é parte das
nossas vidas há tantos anos que fica fácil esquecer que ele está, hoje, em
grande parte do que fazemos, consumimos e aprendemos. O mundo é, atualmente,
como adiantaram muitos autores, uma “aldeia global”. E o mesmo deveria
acontecer com a educação.
Enquanto países como a Coreia do Sul já falam sobre
educação no metaverso, com soluções inteiramente voltadas ao ensino on-line, a
maior parte das escolas, em todo o mundo, teve dificuldades para lidar com as
aulas virtuais forçadas pela pandemia de covid-19. A verdade é que, apesar dos
muitos avanços, o conceito de educação global precisa se adaptar mais
rapidamente à realidade de nossas sociedades cada vez mais
interconectadas.
Crianças brincam e têm a oportunidade de contato
on-line com com pessoas ao redor do mundo. Eventos distantes podem afetar o que
acontece em nosso dia a dia e novos vizinhos podem falar uma língua que talvez
nunca tenhamos ouvido. A aproximação internacional não deve mais ser o
privilégio de poucos. Ela deve permear o currículo escolar para que diferentes
culturas e línguas não sejam mais “estrangeiras” aos nossos estudantes, mas os
fascinem e os entusiasmem.
Para quem ainda acha que na escola somente nos
concentramos em nosso próprio país e que o isolacionismo é mesmo uma opção,
basta considerar um exemplo muito atual. O conflito na Ucrânia teve uma ampla
gama de repercussões mundiais que, por sua vez, tiveram implicações para a vida
cotidiana ao redor do mundo. A dor ao abastecer nossos veículos e outros custos
aumentados pode ser a consequência mais óbvia das sanções contra a Rússia, mas
certamente não é a única.
O fluxo constante de refugiados ucranianos que
cruzam fronteiras também chega ao Brasil. Essas pessoas se comunicam em pelo
menos duas línguas: ucraniano e inglês, a língua franca que aproxima nações e,
nesse contexto, serve para acolher, entender e fazer planos. E, se isso não for
suficiente, há outros bons exemplos. Um deles é o maior desafio que os
estudantes de hoje enfrentarão: a estabilização e manutenção do nosso meio
ambiente. Como isso pode ser feito sem compreensão e compromisso com diferentes
culturas e sociedades? A resposta é uma só: não pode. Precisamos colaborar uns
com os outros.
Inicialmente, é comum pensar nos estudos no
exterior como o modo clássico da educação internacional, mas esse é apenas um
dos aspectos. A educação global pode começar na pré-escola ou até mais cedo,
com a introdução de palavras de diferentes línguas no cotidiano, apreciação de
alimentos e costumes internacionais e compreensão de diferentes culturas.
As escolas cosmopolitas têm a vantagem de que os
alunos podem compartilhar suas culturas, afinal escolas que trabalham com duas
ou mais línguas conseguem ensinar além da cultura nacional, o que é necessário
para ajudar as crianças a contextualizar seu aprendizado no mundo. Mas isso não
quer dizer que escolas mais monoculturais devam ficar de fora. Professores
precisam ser criativos para oferecer uma educação culturalmente mais
diversificada.
Ironicamente, o isolamento forçado pela pandemia
nos deu uma enorme oportunidade de globalizar nosso aprendizado por meio da
adoção repentina de práticas de aprendizagem remota. Agora, por meio do uso do
Zoom, Google Meet e outros programas cotidianos, parece completamente viável a
ideia de duas turmas de alunos do quarto ano, em lados opostos de um oceano,
colaborarem em um projeto enquanto aprendem sobre as culturas e idiomas um do
outro.
Tais projetos precisam deixar de ser exceção para
se tornarem a norma. Agora temos a tecnologia e as habilidades para globalizar
nossas salas de aula e currículos. Ensinar sobre tolerância não é suficiente,
mas felizmente nossas crianças podem aprender a entender, apreciar e valorizar
a diversidade deste mundo e seus povos antes que nossa falta de tolerância os
deixe sem reparos.
Luiz Fernando Schibelbain -
gerente de conteúdo no PES English
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