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quarta-feira, 21 de setembro de 2022

A idealização da perfeição e o impacto na saúde mental


Mais do que uma campanha de conscientização, o Setembro Amarelo também é um apelo para que repensemos a forma como nos relacionamos. A chegada das redes sociais mudou a dinâmica dos relacionamentos interpessoais. Estamos em contato com pessoas distantes, com nossa turma, pessoas que admiramos e nos inspiram. 

Mas o uso excessivo das redes acaba gerando uma série de problemas que afetam a saúde mental de milhares de pessoas, exacerbando a sensação de comparação extrema e de que as coisas não são tão perfeitas. 

Com o crescimento das mídias sociais, o ideal de perfeição passou a ser ditado pelos influenciadores digitais através da exposição diária das publicações. 

Hoje, dispomos de inúmeros recursos como iluminação, filtro e aplicativos que manipulam a imagem. Qualquer pessoa agora pode ter uma barriga mais sarada, um rosto lisinho e sem imperfeições, nariz fininho e empinado e lábios mais carnudos em poucos cliques. 

Sabemos que as redes sociais raramente são reais, especialmente quando há dinheiro envolvido. Isso não serve apenas para fotos de corpos “ideais”, serve para fotografias de viagens incríveis, pratos de comida ou alguma coisa bacana. 

A linha entre a motivação para uma vida melhor e a inferiorização é muito tênue. Mesmo sabendo que a vida na internet é apenas um trecho, nos deixamos enganar e acreditar que aquela perfeição exposta é real e acabamos definindo um ideal inalcançável. 

A estética tem os dois extremos. Ela possibilita corrigir imperfeições fazendo com que a pessoa tenha melhor autoestima, mas quando há uma distorção ou exagero, passa a ser prejudicial trazendo desconforto psicológico. 

O problema começa quando a busca se torna patológica. Essa busca incessante, que não é benéfica, se transforma em uma obsessão pela perfeição, causando a frustração e podendo desencadear o Transtorno Dismorfo corporal onde a pessoa não se enxerga como é, potencializando imperfeições imperceptíveis e levar a automutilação. 

Esse ideal inatingível pode levar a distúrbios alimentares, psicológicos e sociais podendo fazer com que as pessoas fiquem deprimidas. 

Como cirurgião plástico, muitas vezes atendo pessoas com expectativas de atingir determinado resultado irreal inspirado em alguma celebridade ou influenciador. 

O Código de ética Médica, age com o intuito de proteger o paciente, proibindo a divulgação de fotos de antes e depois. As transgressões em tal prática de alguns profissionais estimulam ao paciente um resultado que não pode ser replicado, um anseio por coisas que não estão de acordo com a sua realidade. 

Cada pessoa possui características únicas (tipo de pele, hábitos de vida, peso, altura e genética) e querer replicar um ponto físico de alguém também é muito complicado. A cirurgia plástica visa corrigir imperfeições, apresentando a melhor versão do paciente. 

Essa análise é necessária principalmente no caso da população brasileira, que tem uma origem através de uma miscigenação de povos; os indígenas, africanos e europeus. Com essa miscigenação é difícil estabelecer somente um padrão de beleza. 

Como médico, acredito que temos uma responsabilidade e um compromisso de mostrar o que é real e seus riscos e benefícios. 

E muitas vezes, ao tratar transtornos dismórficos e alimentares, depressão e tantos outros problemas do tipo, a vontade de fazer uma plástica pode desaparecer. 

Um bom cirurgião não se limita ao procedimento: é imprescindível entender as expectativas de cada paciente, suas motivações e o que está passando no momento. É fundamental a certeza do benefício que a cirurgia ou procedimento vai proporcionar de acordo com a realidade do corpo. 

Também é crucial informar sobre todos os riscos relacionados a qualquer tipo de procedimento de forma muito clara, explicando as intercorrências que podem acontecer. 

A atenção e o cuidado com os pacientes submetidos a qualquer procedimento precisa ser uma constante em todas as etapas do processo, especialmente no pós-cirúrgico, onde os pacientes se encontram mais vulneráveis. 

Exercitar a empatia e a solidariedade pelo sofrimento das pessoas à nossa volta é fundamental para que construamos uma sociedade mentalmente mais saudável. 

Como dizia Nietzsche: “as pessoas não querem ouvir a verdade porque não desejam que as suas ilusões sejam destruídas.”

 

Dr. Josué Montedonio Nascimento - possui graduação em Medicina pela Faculdade de Ciências Médicas de Santos (2004). É sócio da Associação Paulista de Medicina, da Sociedade Brasileira de Queimaduras, membro da Federación Latino Americana de Quemaduras, membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica e membro da American Society of Plastic Surgeons. Atualmente trabalha na Clínica de Cirurgia Plástica Dr. Esaú, localizada na cidade de Santos, com um dos nomes mais renomados da cirurgia plástica, o Dr. Antonio Esaú Ferraz.


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