Sabemos que o big data e a inteligência artificial podem transformar a maneira que o sistema de saúde privado funciona, mas antes precisamos entender como usar esses dados.
Na
obra de Machado de Assis, o Alienista, o protagonista desenvolve uma obsessão
por internar as pessoas que viviam em um manicômio desenvolvido por ele. A
princípio, as internações eram justificadas e aceitas pela sociedade. Em certo
momento, Dr. Bacamarte passou a enxergar enfermidades em todos, e a internar
pessoas que lhe causavam espanto, deixando o local cada vez mais cheio. Quando
a cidade encontrava-se com 75% da população internada, o alienista, percebendo
que sua teoria estava errada, resolve libertar todos os internos e refazer sua
hipótese.
Usando
o conto de Machado de Assis para embasar a discussão, continuo com o
questionamento: como o uso de dados pode auxiliar a decifrar a necessidade de
infraestrutura médica hospitalar e hoteleira? Como a tecnologia pode reduzir a
quantidade de exames mensais e semestrais, e prescrevê-los com mais
assertividade?
Vieram
a público alguns casos em que médicos, clínicas, hospitais e outros serviços
médicos especializados geraram a própria demanda, utilizada para oferecer
soluções próprias. Por isso, antes de usar os dados que esses estabelecimentos
possuem, precisamos nos questionar: essas informações são realmente
utilizáveis? Como saber a veracidade dos dados para implantar em plataformas de
ingestão, engenharia, ciência e visualização de dados para assim gerar novas
práticas para o segmento? Nas soluções baseadas em dados na saúde, precisamos
nos preocupar com o enviesamento que pode prejudicar o diagnóstico e tratamento
de outros pacientes. Aqui vale a conhecida frase do “pai da medicina ocidental”
Hipócrates, “Primeiro, não prejudicar”.
O
setor de saúde é retardatário em relação à digitalização, é o 8º depois de
mídia, varejo, telecom, financeiro, produtos embalados e logística. Por isso,
surgiram diversas health techs nos últimos anos. Segundo a Distrito, de 2018 a
2021 o número de startups focadas no segmento de saúde praticamente triplicou,
de 248 a 945 em setembro de 2021.
Que
a saúde é um setor robusto e poderoso, ninguém tem dúvidas, mas quando falamos
de big data e inteligência artificial é preciso ter cuidado. Checar, verificar,
apurar, entender e interpretar são os verbos ideais para atuar nesse campo, e
dessa forma ter dados de qualidade para assim gerar as melhores soluções.
Jorge Carvalho -é
Head de Health na Semantix
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