Quando falamos em saúde cardíaca é muito comum relacionar a assuntos complexos, que envolvam diagnósticos difíceis, procedimentos delicados e risco de morte. Como profissional da saúde afirmo: é completamente o contrário.
Cuidar da saúde do coração é, claro, realizar anualmente exames preventivos — cardiológicos e gerais, mas vai muito além. Arrisco a dizer que exames preventivos te ajudam a chegar ao diagnóstico para que o tratamento tenha mais chances de sucesso, mas não impedem que você desenvolva qualquer tipo de diagnóstico. O que é, então, de fato funcional quando se fala em cuidado com a saúde? Tudo aquilo que você pratica — ou deixa de praticar — no seu dia a dia. Estudos que são conduzidos em diversas universidades renomadas ao redor do mundo já comprovaram o que muitos médicos já observavam na prática: o estilo de vida impacta diretamente na saúde física e mental de cada paciente.
Estilo de vida vai muito além dos seus padrões financeiros e hábitos de consumo, como muitos pensam. O termo “lifestyle” passou a ser usado erroneamente na definição de poder aquisitivo quando, na verdade, deveria se relacionar apenas aos seus hábitos. Na Medicina, o termo já vem sendo aplicado como Medicina do Estilo de Vida e baseia-se em seis diferentes pilares, coincidentemente (ou não), os mesmos que atuam diretamente na saúde do coração:
- Alimentação: “desembale menos,
descasque mais” é o lema a ser seguido por aqueles que desejam uma alimentação
saudável de fato. Inserir o máximo de alimentos in natura e deixar de
lado os ultraprocessados ou industrializados auxilia na manutenção do músculo
cardíaco e suas funções;
- Higiene do Sono: experimente deixar
uma máquina funcionando sem parar, sem descanso. Certamente, sua vida útil será
menor do que aquela que é desligada ao fim do dia. O mesmo vale para o nosso
organismo; o sono é o momento em que o corpo se recupera da correria do dia,
descansa a mente e se carrega para a jornada no dia seguinte. Uma higiene do
sono sem qualidade faz com que os sistemas não consigam o repouso que precisam
e isso pode afetar o coração;
- Manejo do estresse: o estresse é
inerente à vida moderna, mas pode ser controlado. Em excesso, afeta a pressão
arterial e os batimentos cardíacos, por isso é preciso cuidado. Evite se
colocar em situações de estresse extremo e quando elas acontecerem, respire
fundo e controle-se;
- Controle de tóxicos: tabaco e álcool
são inimigos da vida saudável, especialmente quando consumidos sem moderação.
Um cálice de vinho realmente não faz mal a ninguém, mas o mesmo não pode se
dizer sobre uma garrafa inteira. Parcimônia no consumo de álcool. O cigarro?
Você pode viver sem ele;
- Prática de atividade física: experimente
tentar ligar um carro que ficou por muitos meses parado. Certamente você não
conseguirá ou precisará de inúmeras tentativas. A bateria pode, por exemplo,
arriar. O mesmo acontece com o nosso corpo. Precisamos de movimento, de
atividade. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda 150 minutos de
atividade física semanal. Divida pelos sete dias da semana e temos pouco mais
de 21 minutos de atividade por dia. Vinte minutos a menos na televisão podem
impedir que você sofra um infarto no futuro;
- Relacionamentos interpessoais: “é impossível ser feliz sozinho”, diz a música. Realmente. Solidão já é comprovadamente tão nociva à saúde quanto fumar 15 cigarros em um único dia, revelou um estudo conduzido pela Harvard Medical School. Precisamos, portanto, dar atenção aos nossos relacionamentos e criar laços verdadeiros. Saber que temos com quem contar é,sim, saudável para o nosso coração.
Não é difícil, portanto, cuidar do
coração. É preciso fazer da manutenção da saúde um hábito. Tão comum e essencial
quanto escovar os dentes três vezes ao dia.
Dr. Jeffer de Morais - diretor de Cardiologia Clínica do Grupo Sirius
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