Pesquisar no Blog

segunda-feira, 23 de maio de 2022

Carreira e pandemia: desiguais condições de gênero, raça, faixa etária e educação - já existentes - só aumentaram

Dados divulgados pela Fundação Seade apontam que 77% das mulheres permanecem desempregadas durante toda a pandemia, apesar de serem 53% da população

 

Qual o impacto da pandemia na carreira?

 

Indagado por essa pergunta, é comum recorrermos às nossas experiências e aos conhecidos para respondê-la. Para mim, a pandemia acelerou inúmeras mudanças que já vínhamos observando na área em que atuo, consultoria e educação. No meu pequeno universo, vi a educação a distância síncrona e assíncrona dobrar de faturamento e a educação presencial reduzir-se para 10% do volume do início de 2020.

 

Entre meus amigos, vi muitos perderem o emprego e terem certa dificuldade para recolocação com o mesmo salário, mas não sendo necessários mais do que 3 a 4 meses para tal. Já os colegas de TI foram assediados por instituições no mundo todo, trocando várias vezes de empresa e dobrando seus salários no período. Mas e os trabalhadores em geral? Qual foi o impacto?

 

Pensando em responder essa indagação, a Fundação Seade (Sistema Estadual de Análise de Dados) divulgou, em abril de 2022, uma pesquisa intitulada “Trajetórias Ocupacionais”, que buscou caracterizar este processo no mercado de trabalho na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP). Para isso, entrevistou as mesmas pessoas em três momentos diferentes – no último trimestre de 2019, antes da pandemia, e no mesmo período de 2020 e de 2021, durante a pandemia. Este estudo analisa os fluxos entre condições de atividade da população ativa de 18 anos e mais.

 

Só 45% da população se manteve ocupada durante o período

Entre 2019 a 2021, somente 45% das pessoas de 18 anos e mais na RMSP permaneceram ocupadas em todo o período, um contingente de 6,25 milhões de pessoas. Desse total, 75% não mudaram de emprego.

 

Dos 13,88 milhões de trabalhadores, apenas 4,69 milhões (ou 33%) passaram pela Covid sem enfrentar uma mudança forçada - ou não - de emprego.

 

Um contingente de 4,76 milhões, só na região metropolitana de São Paulo, passou pelas situações de ocupação, desemprego e inatividade, e 2,84 milhões ou 21% permaneceram inativos durante todo o período. Tais números são uma dimensão do quão dura a pandemia foi para a população da RMSP. Infelizmente, não encontrei dados de outras regiões do Brasil; mas, quando surgirem e forem compilados, serão interessantes para avaliar quais políticas públicas aplicadas surtiram maior efeito para atenuar os impactos na economia.

 

Quais foram as principais mudanças durante a pandemia?

 

Para entender as mudanças durante a pandemia, monto uma tabela com as principais movimentações dos trabalhadores:

Pela tabela, é possível identificarmos o impacto que a pandemia teve na RMSP ao notar que o saldo de empregos do período das pessoas analisadas continua negativo. O número que chama a atenção é de 1,2 milhões de profissionais que estavam empregados em 2019 e agora estão desempregados. Isso mostra que 2021, apesar de melhor do que 2020, ainda não rematou ao patamar de 2019.

 

A população foi afetada de maneira igualitária?

Segundo a Fundação Seade, os fluxos entre condição de atividade de 2019 a 2021 afetaram de forma diferenciada a população ativa de 18 anos ou mais, ampliando desigualdades de gênero, raça e escolaridade, que historicamente marcam o mercado de trabalho metropolitano de São Paulo. Para ilustrar essa desigualdade, estruturei os dados a seguir:


Pelos dados, não fica claro se as populações foram afetadas de forma diferente durante a pandemia. O que está claro é a desigualdade de oportunidade existente entre as mulheres, já que 77% delas permanecem desempregadas durante todo o período, apesar de serem 53% da população. Pelos números, a coisa estava ruim antes e continuou ruim depois. 

O mesmo se pode afirmar para as pessoas com 60 anos ou mais, que representaram 29% dos que estavam desempregados antes e continuaram depois. Portanto, não podemos concluir muito sobre o quão grande foi o impacto da Covid, visto que as faixas mais diferentes da população em geral estão nas pessoas que estavam desempregadas ou inativas e permaneceram.

 

Assim, pode-se concluir que apesar da piora, essa foi menos impactante nas já desiguais condições de gênero, raça, faixa etária e educação. Homem branco, entre 25 a 59 anos e com ensino superior completo, são muito menos suscetíveis a enfrentarem dificuldades no mercado de trabalho do que mulheres, com 60 ou mais e que estudaram até o nível fundamental. Apesar de ser difícil para todos, para alguns a coisa é pior ainda e políticas públicas deveriam preocupar-se mais com esses. 

Como sugestão, é de extrema importância pensar na educação de qualidade até o nível médio, pelo menos. E o pensar deveria englobar as crianças e os adultos, seja com EJA (Ensino de Jovens e Adultos) ou com cursos livres como os da FM2S. Coisas simples, como o domínio no Excel, da Matemática básica e da estruturação de um e-mail, por exemplo, poderiam fazer uma enorme diferença na vida dessas pessoas. Com isso, teríamos como prepará-las para um ingresso menos complicado ao mercado de trabalho.

 

Virgilio Marques dos Santos - CEO da FM2S Educação e Consultoria


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Posts mais acessados