Dados divulgados pela Fundação Seade apontam que 77% das mulheres permanecem desempregadas durante toda a pandemia, apesar de serem 53% da população
Qual o impacto da pandemia na carreira?
Indagado por essa pergunta, é comum recorrermos às nossas
experiências e aos conhecidos para respondê-la. Para mim, a pandemia acelerou
inúmeras mudanças que já vínhamos observando na área em que atuo, consultoria e
educação. No meu pequeno universo, vi a educação a distância síncrona e
assíncrona dobrar de faturamento e a educação presencial reduzir-se para 10% do
volume do início de 2020.
Entre meus amigos, vi muitos perderem o emprego e terem
certa dificuldade para recolocação com o mesmo salário, mas não sendo necessários
mais do que 3 a 4 meses para tal. Já os colegas de TI foram assediados por
instituições no mundo todo, trocando várias vezes de empresa e dobrando seus
salários no período. Mas e os trabalhadores em geral? Qual foi o impacto?
Pensando em responder essa indagação, a Fundação
Seade (Sistema Estadual de Análise de Dados) divulgou, em abril
de 2022, uma pesquisa intitulada “Trajetórias Ocupacionais”, que buscou
caracterizar este processo no mercado de trabalho na Região Metropolitana de
São Paulo (RMSP). Para isso, entrevistou as mesmas pessoas em
três momentos diferentes – no último trimestre de 2019, antes da pandemia, e no
mesmo período de 2020 e de 2021, durante a pandemia. Este estudo analisa os
fluxos entre condições de atividade da população ativa de 18 anos e mais.
Só 45% da população se manteve ocupada durante o período
Entre 2019 a 2021, somente 45% das pessoas de 18 anos e
mais na RMSP permaneceram ocupadas em todo o período, um
contingente de 6,25 milhões de pessoas. Desse total, 75% não
mudaram de emprego.
Dos 13,88 milhões de trabalhadores,
apenas 4,69 milhões (ou 33%) passaram pela Covid sem
enfrentar uma mudança forçada - ou não - de emprego.
Um contingente
de 4,76 milhões, só na região metropolitana de São Paulo, passou
pelas situações de ocupação, desemprego e inatividade, e 2,84
milhões ou 21% permaneceram inativos durante todo o período.
Tais números são uma dimensão do quão dura a pandemia foi para a população da
RMSP. Infelizmente, não encontrei dados de outras regiões do Brasil; mas,
quando surgirem e forem compilados, serão interessantes para avaliar quais
políticas públicas aplicadas surtiram maior efeito para atenuar os impactos na
economia.
Quais foram as principais mudanças durante a pandemia?
Para entender as
mudanças durante a pandemia, monto uma tabela com as principais movimentações
dos trabalhadores:
Pela tabela, é possível identificarmos o impacto que a pandemia teve na RMSP ao notar que o saldo de empregos do período das pessoas analisadas continua negativo. O número que chama a atenção é de 1,2 milhões de profissionais que estavam empregados em 2019 e agora estão desempregados. Isso mostra que 2021, apesar de melhor do que 2020, ainda não rematou ao patamar de 2019.
A população foi afetada de maneira igualitária?
Segundo a Fundação
Seade, os fluxos entre condição de atividade de 2019 a 2021 afetaram de forma
diferenciada a população ativa de 18 anos ou mais, ampliando desigualdades de
gênero, raça e escolaridade, que historicamente marcam o mercado de trabalho
metropolitano de São Paulo. Para ilustrar essa desigualdade, estruturei os
dados a seguir:
Pelos dados, não fica claro se as populações foram afetadas de forma diferente durante a pandemia. O que está claro é a desigualdade de oportunidade existente entre as mulheres, já que 77% delas permanecem desempregadas durante todo o período, apesar de serem 53% da população. Pelos números, a coisa estava ruim antes e continuou ruim depois.
O mesmo se pode afirmar para as pessoas com
60 anos ou mais, que representaram 29% dos que estavam
desempregados antes e continuaram depois. Portanto, não podemos concluir muito
sobre o quão grande foi o impacto da Covid, visto que as faixas mais diferentes
da população em geral estão nas pessoas que estavam desempregadas ou inativas e
permaneceram.
Assim, pode-se concluir que apesar da piora, essa foi menos impactante nas já desiguais condições de gênero, raça, faixa etária e educação. Homem branco, entre 25 a 59 anos e com ensino superior completo, são muito menos suscetíveis a enfrentarem dificuldades no mercado de trabalho do que mulheres, com 60 ou mais e que estudaram até o nível fundamental. Apesar de ser difícil para todos, para alguns a coisa é pior ainda e políticas públicas deveriam preocupar-se mais com esses.
Como sugestão, é
de extrema importância pensar na educação de qualidade até
o nível médio, pelo menos. E o pensar deveria englobar as crianças e os
adultos, seja com EJA (Ensino de Jovens e Adultos) ou com cursos livres como os
da FM2S. Coisas simples, como o domínio no Excel, da Matemática
básica e da estruturação de um e-mail, por
exemplo, poderiam fazer uma enorme diferença na vida dessas pessoas. Com isso,
teríamos como prepará-las para um ingresso menos complicado ao mercado de
trabalho.
Virgilio
Marques dos Santos - CEO da FM2S Educação e Consultoria
Nenhum comentário:
Postar um comentário