A conceito VUCA (Volatility – volatilidade, Uncertainty – incerteza, Complexity – complexidade e Ambiguity – ambiguidade), desenvolvido pelo exército americano nos anos 90, descreve um mundo cercado por incertezas, em constante mudanças, com questões complexas a serem resolvidas. Neste contexto, a tomada de decisão e o planejamento estratégico das empresas tornou-se bastante mais complexo, exigindo capacidade de adaptabilidade muito mais apurada dos gestores empresariais.
A pandemia do Covid19 acelerou a evolução do mundo
VUCA para o mundo BANI (Brittle – frágil, Anxious – ansioso, Nonlinear – não
linear e Incomprehensible – Incompreensível). O conceito passou a ser usado
para descrever o mundo pós-pandemia, desenvolvido pelo antropólogo, autor e futurista
norte-americano Jamais Cascio. Enquanto VUCA foi utilizado para nortear
empresas em cenários de volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade,
atuando como uma estrutura dar sentido às incertezas, a pandemia descortinou
temas ainda mais complexos e com contingências mais dramáticas, demonstrando a
fragilidade da estratégia VUCA. Um percentual muito pequeno das empresas estava
preparado para enfrentar o que aconteceu, no mundo todo.
BANI busca endereçar contextos em que as condições
são instáveis, mas também caóticas, em que os resultados são completamente
imprevisíveis, situações em que o desfecho não é simplesmente ambíguo, mas
totalmente é incompreensível.
Frágil – mundo sujeito a catástrofes a qualquer
momento, mas com a maioria das empresas ainda construída sobre bases
quebradiças, que podem desmoronar repentinamente. A volatilidade do VUCA chega
ao seu extremo no BANI. Nada tem solidez, e a impermanência é marcante.
Gestores precisam compreender que seus negócios podem ruir a qualquer momento,
pessoas podem perder o emprego de súbito. Exige-se a migração de planejamentos
robustos de longo prazo planos de contenção de rápida implementação.
Ansioso – incerteza e fragilidade causam ansiedade
nas pessoas. Esse sentimento ocasiona senso de urgência, e acaba influenciando
no processo de tomada de decisões. As incertezas VUCA, no pós-pandemia, se
exponencializaram, gerando insegurança e sensação de impotência. O desconhecido
passou a predominar para a maior parte dos empresários, que estão se sentindo
perdidos. Isso acarreta receio em tomadas de decisão, barreiras psicológicas à
nova iniciativas e impactando negativo na busca por novas soluções.
Não Linear – no BANI planejamentos detalhados de
longo prazo não fazem mais sentido, a complexidade do VUCA virou a não
linearidade, com a desconexão entre causas e efeitos, evidenciados pela crise
do Covid19 e mudanças climáticas. Estamos num momento em que pequenas decisões
podem trazer grandes resultados, enquanto um admirável número de recursos
alocados em variáveis importantes pode gerar zero resultado.
Incompreensível – no BANI, são tantas informações,
tão frequentes e rápidas, que o desafio é saber como agir frente a elas. O
excesso de informação gera incompreensão. As “fakenews” contribuem
negativamente para isso. Empresários buscam respostas, mas elas não fazem
sentido. O mito de que mais dados são necessários pode ser contraproducente,
sobrecarregando a capacidade de processamento intelectual.
Como sobreviver no mundo BANI?
Enfrentar a fragilidade com resiliência,
colaboração (cooperação entre concorrentes), diversidade de capacidades (time,
portfólio de serviços e produtos ou modelos de negócios), e estruturas menos
rígidas (gestão do tempo, liderança remota e autonomia).
Enfrentar a ansiedade com empatia (dos gestores
empresários e demais stakeholders), passando segurança dentro das organizações,
escutando os anseios dos colaboradores, com inteligência emocional, pensando em
conjunto sobre cenários mais positivos.
Enfrentar a não linearidade precisa ser combatida com flexibilidade e capacidades adaptativas. Estar preparado para cenários totalmente desconhecidos e ter agilidade para realizar mudanças rápidas e profundas, com tomada de decisão just in time. No contexto atual, não há mais começo, meio e fim. Você deve estar preparado para avançar e recuar, a qualquer momento.
Enfrentar a incompreensibilidade com transparência
e intuição, ética, experimentação e facilidade de aprender a aprender.Portanto,
se a única opção é seguir em frente, cabe a cada um de nós estudar e ganhar
força, como uma preparação para a imprevisibilidade que está por vir.
Estevão Secatto Rocha - professor de Turnaround na FIA Business
School. Engenheiro naval (Poli/USP), extensão em economia (Harvard), finanças e
marketing (FEA/USP), tecnologia (Singularty University), mestrando (University
of Liverpool). Foi head global de M&A da Atento (NYSE), reestruturador de
empresas pela KPMG e IVIX , diretor da G4S (LSE) e associado no private equity
Artesia. Assessorou mais de uma centena de empresas.
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