É
inadmissível a onda de ataques internacionais contra a agropecuária brasileira,
cuja qualidade é inquestionável e que tem papel decisivo, em âmbito global, no
atendimento às demandas relativas à segurança alimentar e ao fornecimento de
matérias-primas e energia renovável. Há de se destacar, ainda, o aspecto
sanitário e os cuidados exemplares com os rebanhos. Sem querer cogitar qualquer
teoria da conspiração, mas a verdade é que parece haver uma orquestração
internacional, bem engendrada, com alegações injustificadas e sem embasamento
técnico plausível.
Os problemas
começaram com o embargo chinês à importação da carne bovina brasileira, devido
ao aparecimento de dois casos isolados e atípicos de vaca louca, que acometeram
animais velhos, que sequer haviam sido encaminhados à produção. As compras já
deveriam ter sido restabelecidas, pois é eficaz o trabalho de vigilância
conduzido pelo serviço veterinário oficial brasileiro, que constatou não haver
quaisquer riscos, corroborado pela Organização Mundial da Saúde Animal (OIE),
que concluiu rapidamente relatório sobre a questão.
Considerando essa
questão técnica irrefutável e reconhecendo os esforços de nosso governo,
enviamos ofício ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e
ao das Relações Exteriores, pedindo esforço diplomático ainda maior para
restabelecer os embarques para o país asiático, hoje o maior comprador da carne
brasileira. A demanda crescente dos chineses foi determinante para o
investimento de muitos produtores. Assim, haverá significativos prejuízos com a
manutenção do embargo, responsável por acentuar a queda no preço dos animais de
abate e com poucas perspectivas de solução em curto prazo, considerando que o
ambiente de especulação ganha força e pressiona os pecuaristas. O preço da
arroba do boi, por conta da suspensão das vendas, já caiu de R$ 315,00 para R$
265,00.
Pela mesma razão
alegada por Pequim, assistimos à forte pressão nos Estados Unidos - marcada
pelo projeto de um senador e pelo lobby da National Cattlemen’s Beef
Association (NCBA), entidade representativa da pecuária de corte - pela
paralisação das importações da carne brasileira. Trata-se, do mesmo modo, de um
movimento absolutamente desprovido de lógica. Não bastasse essa questão da
carne, deparamo-nos com a absurda proposta da União Europeia de restringir a
importação de produtos agropecuários brasileiros, sob a alegação de supostos
problemas ambientais. Repudiamos tal atitude, que viola normas de recentes
acordos internacionais, incluindo o de Paris. Temos uma das mais avançadas
legislações ambientais do mundo, o que torna incompreensível e inaceitável a
justificativa de que hoje o Brasil apresenta alto risco de desmatamento.
A proposta é
injustificável, porque não diferencia as práticas legais, adotadas pela imensa
maioria dos produtores, das ilegais desenvolvidas por uma minoria, que deverá
responder por seus atos nos termos da lei. Temos um Código Florestal que é
modelo para o mundo. Não é certo os europeus usarem um argumento prejudicial à
expressiva maioria de produtores de nosso país, que agem de maneira
absolutamente correta. Consideramos acertada e estamos apoiando a posição do
Ministério do Meio Ambiente, de questionar a proposição.
Seria mais adequado
que esses países, em vez de usarem argumentos inconsistentes para depreciar
nossa agropecuária, adotassem posturas mais práticas e assertivas, como
formalizar o mercado de créditos de carbono, o pagamento de serviços ambientais
e valorização de nossas florestas em pé, que geraria renda e ajudaria a
conservá-las. Cabe questionar por que não fazem isso. Nesse aspecto, foi falha
a COP 26 (26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima).
Governos, políticos e
entidades que conspiram contra a agropecuária brasileira poderão estar dando um
tiro de canhão nos próprios pés. Afinal, nossa produção tem volume muito
elevado e participação significativa na cadeia global de suprimentos. Uma
prolongada ausência de nossos alimentos e commodities agrícolas nos principais
mercados consumidores mundiais certamente provocaria uma crise na oferta, com
risco de desabastecimento de alguns países e aumento dos preços. A questão,
portanto, vai muito além do jogo de cena que se faz com os temas da
sustentabilidade e saúde animal, pois
as implicações desses ataques têm alcance social e econômico e ultrapassam as
fronteiras do Brasil.
Fábio de Salles
Meirelles - presidente da Federação da Agricultura e
Pecuária do Estado de São Paulo (Faesp).
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