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sexta-feira, 24 de dezembro de 2021

Mulheres vítimas de violência doméstica não têm Natal

A violência doméstica gera grandes impactos na vida da mulher, principalmente, depois que ela consegue romper o ciclo de abusos. Muitos detalhes da vida privada mudam. As datas comemorativas como Natal e Ano Novo, por exemplo, que carregam a tradição de ser um evento em família, ficam abaladas pela violência, e já não podem ser comemoradas como antes.

 A psicóloga, pós-doutora em Direitos Humanos e especialista em violência contra a mulher, Dra. Artenira Silva, já ouviu centenas de vítimas e tem a própria experiência para comprovar o efeito danoso da violência doméstica sobre os rituais familiares. Um dos principais danos é a violência psicológica, quando a mulher se sente excluída, somando mais perdas, especialmente, afetivas.

 

“Basta chegar Natal e Ano Novo para acirrar toda a necessidade de controle e posse do agressor. Se eu estiver na mesma cidade onde mora o agressor e a maior parte da minha família, ele vai fazer de tudo para impedir que eu passe Natal ou Réveillon com os meus. Mais um dano ao meu projeto de vida, ou seja, dano existencial”, relata Artenira.

 

Após a denúncia contra o agressor, as mulheres são vítimas de mais crimes, desde o stalker, perseguição, até o feminicídio. Na proximidade das festas de fim de ano, o “espírito natalino” faz muita mulher, vítima de violência, baixar a guarda com o agressor, o que também gera risco de morte para ela.

 

Basta lembrar do feminicídio da juíza Viviane Vieira do Amaral, morta em 2020 pelo agressor na véspera de Natal na frente das filhas. Ela, simplesmente, baixou a guarda, e foi levar as filhas para verem o pai em razão da data comemorativa. Fatalmente, foi recebida a facadas. 

“O caso resultou em um prêmio de boas práticas e um novo protocolo para julgamento, mas ainda não gerou melhoria na aplicação da lei, pois não houve qualificação do sistema de justiça”, avalia Dra. Artenira Silva. No judiciário, vítimas ainda sofrem violência institucional que, tem por trás, problemas estruturais como o machismo e falta de conhecimento técnico sobre a legislação e tratados internacionais.


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