Estudo brasileiro sugere
nova conduta mundial: cirurgia em idade gestacional precoce aumenta
significativamente a possibilidade do bebê andar
Todos os meses há cerca de 250 casos no Brasil. Agora, existe esperança
maior para essas crianças e seus familiares
Pesquisa da equipe do Centro de Medicina Fetal
Gestar (GMFG), juntamente com os grupos Hcor-Associação Sanatório Sírio e Santa
Joana, coordenada pelo dr. Fábio Peralta, demonstra o impacto da idade
gestacional no momento do reparo do disrafismo espinhal fetal – ou seja de
mielomeningocele. Os operados no início do intervalo gestacional de 19,7 a 26,9
semanas apresentaram maior probabilidade de caminhar com ou sem órtese. O dado
impressiona: são 63,76% as estatísticas de sucesso.
O estudo engloba um grupo de 69 bebês submetidos
à intervenção intraútero com avaliação neurológica formal após 2,5 anos de
idade. Veja o paper na íntegra em https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/34583428/.
Em trabalho anterior do GMFG (https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/32112579/) , houve a
comprovação de que a chance de a criança com Espinha Bífida Aberta ter de
colocar o dreno ventrículo peritoneal cai em caso de cirurgia mais precoce.
“É uma evidência científica de enorme relevância
para essas crianças, para seus familiares, além de para a saúde e a Medicina”,
pondera Fábio Peralta. “Digo também com orgulho que um momento de muita
importância para nossa equipe que investe suas vidas e conhecimento nessa área.
De 2015 até agora, chegamos à marca de 400 bebês com mielomeningocele operados
intraútero, provavelmente uma das maiores do mundo”.
A expertise e excelência advindas dessas
cirurgias propiciaram ao Centro de Medicina Fetal Gestar desenvolver técnicas
novas e adaptáveis a diferentes tipos de mielomeningocele e à idade gestacional
da operação. Foram elas a base de minuciosa construção científica com resultados
expressivos, como a confirmação de que é essencial eliminar a agressão à coluna
do bebê o mais cedo durante a gestação.
“Faz um ano publiquei artigo sobre essa questão,
demonstrando que no período de 19 a 26 semanas, quanto mais cedo corrigirmos a
mielomeningocele menores são as chances de essa criança ter que realizar
tratamento para a hidrocefalia, ou seja, colocar um dreno no cérebro. Pois, ao
se colocar o dreno, atrapalha-se o desenvolvimento cognitivo dessa criança.
Agora, chegamos à confirmação de que a operação no início desse intervalo
gestacional redunda em maior probabilidade de caminhar com ou sem órtese.”
Devido ao avanço representado pelo resultado da pesquisa, Fábio Peralta
compreende ser indispensável propagar amplamente a influência da idade
gestacional na chance de uma criança conseguir se locomover, com ou sem o uso
de qualquer auxílio. Afinal, trata-se de um alento e esperança para bebês, pais
e mães de todo o mundo: “Quanto mais precoce a cirurgia, melhor o prognóstico
de andar”.
Espinha Bífida Aberta
Mais conhecida como mielomeningocele, a Espinha
Bífida Aberta é a mais comum anomalia congênita do sistema nervoso
central. No Brasil, temos uma incidência aproximada de 1/1000 nascidos
vivos. É causa de paralisia dos membros inferiores, atraso no desenvolvimento
intelectual, alterações intestinais, urinárias e ortopédicas.
Até há alguns anos, a correção da espinha bífida só
era feita após o nascimento. Cerca de 80% dos bebês operados necessitavam da
colocação de drenos no cérebro. Grande parte desses bebês, precisava de
cirurgias repetidas que redundava em progressiva redução da capacidade
intelectual e altas taxas de óbito: 15% dessas até o quinto ano de vida.
Em 2011, resultados de trabalho científico elaborado
nos EUA, denominado de MOMs trial - Management of Myelomeningocele study (https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/21306277/)
demostraram que os bebês com espinha bífida poderiam ser tratados ainda no
útero por cirurgia aberta. Isso com significativo aumento na chance de
deambular, melhora no desenvolvimento intelectual e menor necessidade de
colocação de drenos cerebrais após o nascimento.
Desde então, o tratamento intrauterino por cirurgia
aberta no útero tem sido o tratamento de escolha para fetos selecionados com
espinha bífida. Porém, nem todos os bebês podem ser operados durante a
gestação. Existem indicações específicas. Por exemplo, a idade gestacional
entre 19 e 26 semanas.
O grupo de cirurgia fetal do Centro de Medicina
Fetal Gestar e da Rede Gestar de Medicina Materno-Fetal, coordenado pelo
dr. Fábio Peralta, é referência na utilização de técnica semelhante à descrita
pelo MOMS trial, mas aprimorada de forma a diminuir os riscos maternos e o
parto prematuro.
A técnica tradicional consiste em uma cirurgia
aberta com uma incisão no útero de 6-8 cm de extensão. A técnica da
Gestar modificada e publicada internacionalmente, denominada correção da
mielomeningocele fetal por mini-histerotomia, reduz a extensão da incisão
uterina para 2,5 cm, o que consequentemente diminui os riscos maternos da
cirurgia, mantendo os benefícios para o feto - https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/27656888/.
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