Os pais são a principal referência dos filhos e responsáveis por ajudar a criança a determinar quem se tornarão ao longo da vida, moldando seu coração, o caráter e as estruturas do cérebro. Se por um lado é um privilégio ensinar e preparar os filhos na tomada de boas decisões, na condução de um caminho bem-sucedido e no enfrentamento de situações desafiadoras; por outro pesa a responsabilidade de fazê-lo.
Compreender o comportamento inadequado pode ser
reconfortante e encorajador para pais e filhos, especialmente quando
desvinculamos o sentido de responsabilidade a culpa e vergonha. Com base na
disciplina positiva, é possível entender a responsabilidade como sendo
libertadora, a partir da consciência de que é possível fazer novas escolhas. A
boa notícia, é que quando os pais percebem que são partes integrantes desse
comportamento, são também responsáveis pelas mudanças desejadas.
Quando falamos em comportamento inadequado, nos
referimos aqueles comportamentos que as crianças expressam, muitas vezes por
ausência de conhecimento ou de habilidades e comportamentos adequados para
determinada situação. Porém, nos momentos mais desafiadores, os filhos não são
os únicos a sofrerem com a falta de habilidades para lidar com a situação. Os
pais também sofrem por não saberem como agir, falta repertório de habilidades
para lidar com a situação.
Devemos estar atentos para a fase de
desenvolvimento da criança, para não tratar um comportamento como inadequado,
quando na verdade esse comportamento é adequado para seu momento de
desenvolvimento. É preciso que a criança compreenda o que se espera dela.
Um bom começo para os pais refletirem sobre o
comportamento inadequado é se perguntar:
- Será
que meu filho (a) tem linguagem e habilidades sociais para expressar o que
quer?
- Será
que ele (a) está com sono?
- Será
que ele (a) está fome?
- Será
que ele (a) está com dor?
Uma estratégia eficiente e encorajadora é tratar
desse assunto, a partir da responsabilidade com foco na solução de problemas,
evitando a punição. O que quero dizer com isso, é que se os pais querem que o
filho mude o comportamento, é preciso se responsabilizar e se comprometer com
uma mudança de atitudes, incentivando e direcionando a criança a fazer o mesmo,
sem afetar o seu senso de autovalor.
Jane Nelsen (2015) em seu best-seller sobre
Disciplina Positiva, propõe um novo olhar sobre o mau comportamento e aborda
objetivos e crenças equivocados da criança:
1- Atenção indevida – crença equivocada:
“eu me sinto aceito apenas quando tenho sua atenção”;
2- Poder mal dirigido – crença equivocada: “Eu me
sinto aceito apenas quando sou o chefe, ou pelo menos quando não deixo você
mandar em mim”;
3- Vingança – crença equivocada: “eu não me
sinto aceito, mas pelo menos posso me vingar” e;
4- Inadequação Assumida – crença equivocada:
“É impossível ser aceito. Eu
desisto”.
Esses objetivos e crenças equivocados acontecem
porque as crianças precisam se sentir aceitas e importantes, ou mesmo porque se
sentem inadequados. Para lidar de forma eficaz nessas situações é necessária
análise do comportamento, métodos encorajadores e efetivos a longo prazo, e que
os pais assumam a responsabilidade em controlar o seu comportamento,
modificando-o se necessário e consciente que são espelhos para os filhos.
Um exemplo de estratégias eficientes para lidar com
situações desafiadoras:
- Redirecionar
a criança para que ela consiga atenção de forma mais adequada e produtiva,
utilizando seu poder de forma socialmente útil;
- O
adulto deve controlar o seu comportamento, caso se sinta magoado, evite
revidar e utilizar frases sem efeito, pense em formas de “resolver o
problema”;
- Sempre
valide o sentimento da criança, e diga que entende o que está sentido,
ainda que não seja possível ceder ou fazer à vontade;
- Separe
as atividades por etapas, garantindo que a criança tenha condições de
realizar;
- Não
faça pela criança o que ela pode fazer sozinha.
Se precisar, não hesite em buscar por um
profissional especializado para auxiliar a família em situações desafiadoras.
Luanda
Garcez - Psicóloga, psicopedagoga, coordenadora do grupo de
pais de crianças com TEA e supervisora certificada em Intervenção Precoce Para
Crianças com Autismo, profissional ao longo de 15 anos de formação e dedicação
ao desenvolvimento infantil. Mestranda em Educação na linha de pesquisa sobre
Práticas Educativas e Representações Sociais, pós-graduada em Terapia Cognitivo
Comportamental e Análise do Comportamento aplicada, com formação em Psicologia
Fenomenológico-Existencial, entre outras certificações nacionais e
internacionais, como estágio clínico e pedagógico em Avaliação e Intervenção
nas Dificuldades de Aprendizagem – certificado pela Qualconsoante – Disclínica
– Lisboa - Portugal. Autora do capítulo "Inclusão na escola: desafios e possibilidades
na educação infantil" no livro "Autsimo: integração e
diversidade", pela Literare Books International.
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