A transição profissional é uma prática muito presente na
sociedade, a advogada Mayra
Cardozo lista dicas para realizar esse
processo de uma forma mais leve e responsável
Apesar
de serem sempre necessárias, as mudanças causam incômodo e muitas dúvidas nas
pessoas durante a transição de um cargo. Segundo pesquisa da Pagegroup,
cerca de 27% dos entrevistados que possuem mais experiência e 22% dos que
apresentam menos experiência responderam como motivo para uma possível
transição de carreira a falta de crescimento/oportunidade naquela empresa.
Outro ponto levantado na pesquisa é que 23% dos entrevistados, reclamaram da
sua insatisfação salarial.
Além
disso, uma pesquisa divulgada pela Catho em 2018 mostrou que 30% das mulheres
deixam o mercado de trabalho para cuidar dos filhos e, para os homens que são
pais, essa proporção é quatro vezes menor, de 7%. A pandemia ainda trouxe mais
impactos sobre essa perspectiva e, segundo o estudo “Women in the Workplace 2020”, feito
pela McKinsey e LeanIn.Org, uma
em cada quatro mulheres, considerou mudar de carreira ou deixar o mercado de trabalho
nos últimos meses.
De
acordo com a advogada Mayra Cardozo,
especialista em Direitos Humanos, em muitas situações, a transição de carreira
essencialmente com as mulheres acontecem por meio de frustrações. “Grande parte
das mulheres hoje se sentem frustradas em seus empregos, porque são empregos
que valorizam uma produtividade linear onde não é levado em conta a ciclicidade
das mulheres, o ato de maternar, a sua multipotencialidade e sua energia
criativa. Não é à toa que muitas mulheres estão buscando novos horizontes,
largando empregos tradicionais para apostarem em novos rumos profissionais em
que possam ser elas mesmas e desenhar novos espaços de poder, por meio do
empreendedorismo”, explica a especialista que também trabalha com
Empoderamento feminino e tem mais de 17 mil seguidores no seu Instagram.
Com
este cenário, uma questão importantíssima levantada pela especialista é que as
mulheres são socializadas para serem “escolhidas” ao invés de “escolherem”.
"Essa socialização patriarcal faz com que muitas fiquem insatisfeitas com
os seus próprios empregos, isso porque, muitas vezes, esses empregos não foram
escolhidos por elas mesmas ou porque atuam sobre a perspectiva de uma liderança
patriarcal, onde as mulheres têm que se “masculinizar” para ocupar postos de
liderança para não serem constantemente violadas e assediadas nos seus valores
e princípios, sendo tratadas como objeto de decoração e não sentindo que sua
voz é ouvido", complementa.
A
especialista listou 10 dicas para fazer uma transição de carreira responsável e
confiante. Confira:
1.
“Faça uma lista de coisas que você gosta X coisas que não gosta no seu emprego
atual. Essa descoberta é de extrema importância para enxergar
o cenário como ele realmente é no papel", diz Mayra.
2.
"Descubra quais são os seus valores. São
aquilo que é mais importante para você na vida e que não deve abrir mão por
nada. Passamos grande parte do dia trabalhando, por isso o seu trabalho deve
ser um lugar em que você sinta que os seus valores são constantemente respeitados.
Não adianta sair de um lugar e ir para outro sabendo que nesse novo emprego
aquilo que mais importa para você não será respeitado", salienta.
3.
"Descubra quais são as suas forças, o que você faz muito bem. Fomos
socializadas para respondermos a um padrão de perfeição inexistente, somos
constantemente cobradas para olhar para aquilo que não somos boas e, tentar
mitigar essa perspectiva, faz com que deixemos de valorizar nossas habilidades.
A ideia é que você pare de olhar para as suas debilidades e se torne muito boa
naquilo que você já faz bem e explore isso na sua carreira profissional",
explica a especialista.
4.
"Estabeleça uma política de limites. Fomos
socializadas para ter dificuldade em “dizer não” e “não agradar”, por isso,
temos problemas em nos posicionar e colocar limites. Ao escolher uma nova
carreira é importante que você defina quais são suas políticas, o que você não
vai tolerar. É importante que você deixe isso bem claro na construção do seu
próprio negócio ou até mesmo nas suas entrevistas de emprego. Por exemplo: se
para você trabalhar aos sábado é algo inconcebível, isso deve estar na sua
política e, ao transacionar, você não deve considerar opções em que você
trabalhe de segunda a sábado", conta.
5.
"Não tenha medo de sonhar alto e ser ambiciosa. Percebo
uma grande tendência das mulheres em se desvalorizarem e se diminuírem - seja
em entrevista de empregos ou em momentos de feedback. Isso porque, a
socialização patriarcal coloca para as meninas que quando temos posturas ativas
somos vistas como “mimadas”, enquanto homens com as mesmas posturas são tidos
como “líderes”. E para não sermos rotuladas como mimadas ou metidas, nos
diminuímos para que os outros se sintam melhor. Por isso, valorize e reconheça
a grande profissional que você é, se você não se der o seu devido valor,
ninguém vai fazer por você", complementa Mayra.
6.
"Desenhe qual seria a sua rotina perfeita, abrangendo todas suas fontes de
amor e atividades que você gosta. Defina a maneira que você quer
viver o seu dia a dia. Diante disso, busque por lugares e opções que respeitem
esse estilo de vida", explica.
7.
"A sua principal conselheira é sempre você. Pessoas
vão tentar te desestimular nesse processo, entenda que esse desestímulo não é
sobre você, mas sobre elas mesmas. Se empodere da sua própria voz, da sua
opinião e se torne sua própria conselheira, afinal é a sua vida",
esclarece a advogada.
8.
"Verifique suas finanças e garanta que você tenha guardado um dinheiro
para que você possa se sustentar, sem gerar ansiedade no processo. Além
disso, verifique um valor ideal de salário que mantenha o seu padrão de vida e
vá em busca apenas por opções que viabilizem isso. Se você estiver
empreendendo, construa o seu negócio com base naquilo que você consiga se
sustentar", aconselha.
9.
"Transacione com segurança - para muitas mulheres segurança é um valor,
por isso para que você não desista desse sonho, é importante que você desenhe
esse processo de transição com calma e que se sinta segura. Por
isso, no início, se você tiver um emprego convencional o ideal é que não se
desvincule desse seu emprego de imediato, que use o sustento desse emprego como
um “banco de financiamento” para o seu projeto futuro", comenta.
10.
"Entenda como as coisas demoram para acontecer, não desista nas primeiras
dificuldades. Uma transição de carreira como tudo na
vida é um processo, por isso, celebre suas pequenas vitórias e tenha calma que
as coisas demoram mesmo para “vingar” e não avançam conforme a velocidade que
queremos. O fato das coisas não darem certo de primeira não significa que você
não está no caminho certo. Insista em você.”, finaliza Mayra Cardozo
Mayra Cardozo - Advogada especialista em Direitos
Humanos pela Universidade Pablo de Olavide (UPO) – Sevilha. A professora de
Direitos Humanos da pós-graduação do Uniceub - DF, é palestrista, mentora de
Feminismo e Inclusão e Coach de Empoderamento Feminino. Membro permanente do
Conselho Nacional de Direitos Humanos da OAB e do Comitê Nacional de Combate à
Tortura do Ministério da Mulher e dos Direitos Humanos.
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