Pesquisa realizada pela ONG Plan International ouviu 26 mil participantes em 26 países. Conclusões mostram que os impactos para as meninas são devastadores; abaixo-assinado apela para a alfabetização digital no mundo todo. Evento de lançamento no Brasil será em 6/10
Mais
estressadas, ansiosas, preocupadas. Inseguras com as tensões sociais em suas
comunidades. Ameaçadas por riscos físicos e, principalmente, para a saúde.
Essas são algumas das consequências das fake news nas vidas das meninas que
participaram do estudo Verdades e Mentiras – As meninas na
era da desinformação e das fake news, realizado pela
ONG Plan International com 26 mil meninas e jovens mulheres de 15 a 24 anos em
26 países, incluindo o Brasil, onde 1 mil meninas participaram. No primeiro
estudo global em grande escala para entender o impacto da desinformação e das
fake news associado a um olhar de gênero, nove em cada dez meninas (87%)
disseram que as fake news afetaram negativamente suas vidas.
Em
um mundo tão impactado pela pandemia de COVID-19, as informações disseminadas
pela internet se tornaram ferramentas importantes para a conscientização sobre
medidas sanitárias, prevenção, vacinação. Mas, nesta mesma esteira o mundo todo
tem acompanhado um aumento significativo da disseminação de informações erradas
e fake news, o que se tornou um grande problema que afeta todas as pessoas.
Para as meninas, em especial, o impacto é devastador. No Brasil, a pesquisa
aponta que 72% das participantes receberam alguma fake news sobre a pandemia;
32% acreditaram em uma fake news sobre a COVID-19 e 22% questionaram a
necessidade de tomar a vacina. Não só no Brasil, mas nos países de baixa e
média renda que participaram da pesquisa as meninas e jovens mulheres tiveram
maior probabilidade de serem afetadas por fake news e informações erradas que
circulam na internet.
“Todos
os dias, meninas e jovens mulheres que navegam na internet são bombardeadas com
mentiras e estereótipos sobre seus corpos, sua identidade e como devem se
comportar. Imagens e vídeos são manipulados para objetificá-las e deixá-las
envergonhadas. As meninas têm um medo muito real de que eventos e perfis falsos
possam atraí-las e enganá-las, levando a situações perigosas também no mundo
físico”, afirma Bhagyashri Dengle, Diretora Executiva de Política
Transformativa de Gênero da Plan International.
Diante
deste cenário, o estudo procurou descobrir quais são as consequências das
desinformações e das fake news (informações errôneas) na vida das meninas e
jovens mulheres. A pesquisa classifica as desinformações como informações
falsas, enganosas e muitas vezes prejudiciais que as pessoas compartilham de
forma deliberada para causar danos e/ou obter lucro. Já as fake news ou
informações errôneas são as informações falsas, enganosas e muitas vezes
prejudiciais que as pessoas compartilham por equívoco. No Brasil, muitas vezes
é difícil diferenciar um grupo do outro.
Como
parte da campanha Meninas Pela Igualdade (Girls Get Equal), a Plan
International apoia meninas no mundo todo pedindo aos governos que tomem
medidas imediatas para aumentar a alfabetização digital de crianças e jovens. A
ideia é dar conhecimento e habilidades para que possam identificar informações
falsas e se envolverem com confiança em espaços on-line. Este é o segundo ano
consecutivo em que a Plan International se debruça em estudos globais sobre
temas que afetam as meninas no universo on-line. No ano passado, a pesquisa
Liberdade On-line? mostrou que 58% das meninas no mundo já sofreram assédio pela
internet e pelas redes sociais. No Brasil, o número chegou a 77%.
Destaques
da pesquisa
A
Plan International Brasil fará o lançamento oficial da pesquisa no dia 6 de
outubro, às 16 horas, em um debate com a jornalista Ana Paula Padrão,
embaixadora da Plan, Natália Leal, CEO da Agência Lupa, Dani Conegatti, doutor
em Educação pela UFRGS, professor e pesquisador de gênero, sexualidade e mídia,
e Raíla Alves, gerente de empoderamento econômico e gênero na Plan
International Brasil. A conversa será transmitida pelo canal da Plan no YouTube.
A
pesquisa aponta que as descobertas revelam as consequências da desinformação e
das fake news no dia a dia de meninas e jovens mulheres. Uma a cada três (35%)
relata que as informações falsas estão afetando sua saúde mental, deixando-as
estressadas, preocupadas e ansiosas – no Brasil, esse número chegou a 46%. O
estudo descobriu que 20% das participantes se sentem fisicamente inseguras (25%
no Brasil). Aqui, 38% das meninas acabaram discutindo com familiares e
amigas/os e 30% ficaram menos confiantes para compartilhar suas opiniões. Elas
também ficaram tristes e deprimidas (29%). No mundo, 18% pararam de se envolver
na política ou em questões da atualidade e 19% afirmaram que sua confiança nos
resultados eleitorais foi abalada. Sem dúvida, é um fenômeno que mina a
confiança de meninas e jovens mulheres para participar da vida pública. O
fenômeno ainda é reforçado quando elas acompanham casos de lideranças femininas
que se veem alvo de rumores maldosos e teorias da conspiração criados para
minar sua credibilidade, envergonhá-las e silenciá-las. Isso prejudica as
ambições de liderança das meninas.
“A
internet molda as opiniões das meninas sobre si mesmas, os problemas com os
quais elas se importam e o mundo ao seu redor. Nossa pesquisa deixa claro que a
disseminação de informações falsas on-line tem consequências na vida real. É
perigoso, afeta a saúde mental das meninas e é outra coisa que as impede de se
engajar na vida pública”, diz Bhagyashri Dengle.
Mas,
afinal, como as meninas se informam e checam se as informações são verdadeiras?
A pesquisa aponta que a fonte mais confiável para as informações é a grande
mídia, selecionada por 65% das brasileiras, acima de instituições educacionais
(31%) e familiares (30%). O governo federal foi apontado como confiável por
apenas 17% das participantes nacionais.
“De
forma geral, a pesquisa aponta que o cenário no Brasil é ainda mais crítico do
que o observado em outros países, com efeitos cruéis sobre a vida, o
desenvolvimento e a saúde mental de meninas e jovens mulheres”, afirma Cynthia
Betti, Diretora Executiva da Plan International Brasil.
A
pesquisa descobriu que o Facebook é a plataforma de mídia social que as meninas
acreditam ter mais informações falsas e fake news, selecionada por 65% das
entrevistadas. No Brasil, o WhatsApp está logo atrás, com 61% - bem acima da
média mundial, de 27%.
Quase
todas as meninas e mulheres jovens que participaram da pesquisa (98%) usam
alguma estratégia para verificar se as informações que acessam on-line são
verdadeiras. O mais comum (67%) é cruzar as informações com outras fontes,
checar quem é o/a autor/a (53%) e se fornecem evidências (47%).
O
que as meninas pelo mundo afirmam
Camila,
de 20 anos, do Brasil, dá seu depoimento:
“Assim
que precisamos ficar de quarentena, nossa rotina mudou totalmente para o
virtual. Foi naquele momento que percebi o quão instantânea é a vida on-line e
como é fácil ficar imerso naquele universo. Para não perder nenhuma novidade,
acabamos não conferindo se a notícia é verdadeira ou falsa, nova ou antiga. A
gente só lê, e se for interessante, sai compartilhando com os outros.
Isso,
infelizmente, é fruto da cultura da desinformação no Brasil, que ficou mais
presente na pandemia com diversos tipos de afirmações – verdadeiras ou não –
sobre a vacina contra a COVID-19, sobre o como o governo está trabalhando para
ajudar a população e por aí vai.
Em
março de 2020, quando fiquei sabendo que o vírus havia chegado no Brasil, não
acreditei. Continuei fazendo o que precisava fazer e, ao olhar à minha volta,
percebi que as pessoas pensavam o mesmo que eu. Hoje penso ‘como isso
aconteceu? Por que eu não acreditei logo?’. E me questiono se isso não foi consequência
de estar em constante contato com fake news, e, ao ver uma notícia verdadeira,
descredibilizá-la por parecer algo muito absurdo.”
Charlotte,
de 23 anos, do País de Gales diz que a abundância de informações falsas na
internet pode deixar as pessoas “muito, muito vulneráveis”. “Acho que às vezes
há essa falta de responsabilidade no mundo on-line, onde as pessoas podem
simplesmente fazer as coisas sem ter repercussões”, explica.
Já Mia, de 20
anos, do Quênia, destacou o fato de vivermos on-line. “Estamos fazendo tudo
digitalmente. Então eu acho que [a alfabetização digital] deveria ser ensinada
nas escolas primárias, nas escolas secundárias, nas universidades. Para que,
quando crescermos, tenhamos uma visão melhor de como usar nossas plataformas
digitais”, diz Mia.
Lilly,
de 23 anos, do Malawi, ressalta os riscos para a saúde mental. “Quando você usa
as redes sociais precisa estar psicologicamente apta e colocar sua mente no
lugar, porque há muitos comentários negativos e muitas coisas ruins acontecendo
na internet que podem fazer você ... não querer usar a internet.”
Rachel,
de 18 anos, dos Estados Unidos, aponta o papel das empresas de mídias sociais
no combate à desinformação. “Eu acho que elas [empresas de mídia social]
precisam fazer um trabalho melhor para impedir a disseminação de informações
falsas e fake news, sendo mais proativas para retirar posts denunciados,
garantindo que as coisas venham de uma fonte ou algum tipo de sistema de
checagem de fatos.”
Alfabetização
digital
Como
resultado da pesquisa, a Plan International está conclamando os governos a
educar crianças e jovens na alfabetização digital. O estudo revelou que 67% das
meninas e jovens mulheres nunca foram ensinadas a identificar informações
falsas ou fake news na escola. “Precisamos dar ferramentas para as meninas e
todas as crianças para um mundo cada vez mais digital. É por isso que estamos
apoiando os apelos das meninas para que a alfabetização digital seja incluída
em sua educação”, diz Bhagyashri Dengle.
A
Plan International lançou um abaixo-assinado global, que será encaminhado aos
governos defendendo a alfabetização digital de crianças e jovens. Todos e todas
podem fazer parte do movimento. O link para assinar é plan.org.br.
Dados
e metodologia da pesquisa mundial
A
pesquisa Verdades e Mentiras – As meninas na
era da desinformação e das fake news entrevistou
meninas e jovens mulheres em 33 países em duas fases. A quantitativa teve mais
de 26 mil adolescentes e jovens mulheres com idade entre 15 e 24 anos, em 26
países. Já a etapa qualitativa foi realizada com entrevistas aprofundadas em 18
países para investigar as experiências e opiniões de meninas e jovens mulheres.
Entre os países
do estudo quantitativo estão Alemanha, Austrália, Brasil, Burkina Faso, Canadá,
Colômbia, El Salvador, Equador, Espanha, Estados Unidos, Filipinas, Finlândia,
França, Holanda, Indonésia, Itália, Jordânia, Malaui, Nepal, Peru, Quênia,
Reino Unido, Suécia, Togo, Vietnã e Zâmbia. A coleta de dados foi feita por
duas empresas de pesquisa de marketing – Ipsos e GeoPoll – de 5 de fevereiro a
19 de março de 2021.
Plan
International
A
Plan International é uma organização humanitária, não-governamental e sem fins
lucrativos que promove os direitos das crianças e a igualdade para as meninas.
Acreditamos no potencial de todas as crianças, mas sabemos que isso é muitas
vezes reprimido por questões como pobreza, violência, exclusão e discriminação.
E as meninas são as maiores afetadas. Trabalhando em conjunto com uma rede de
parcerias, enfrentamos as causas dos desafios de meninas e crianças em situação
vulnerável. Impulsionamos mudanças na prática e na política nos níveis local,
nacional e global, utilizando o nosso alcance, a nossa experiência e o nosso
conhecimento. Construímos parcerias poderosas há mais de 80 anos e que se
encontram hoje ativas em mais de 70 países.
Sobre
a Plan International Brasil
A Plan
International chegou ao Brasil em 1997. Desde então, se dedica a garantir os
direitos e promover o protagonismo das crianças, adolescentes e jovens,
especialmente meninas, por meio de seus projetos, programas e ações de
incidência e de mobilização social. Tem também viabilizado condições de
subsistência em comunidades que sequer tinham acesso a recursos essenciais,
como a água. Implementamos projetos no Maranhão, no Piauí, na Bahia e em São
Paulo. Nossas estratégias, atuando em rede com outras organizações do terceiro
setor e movimentos sociais, têm pautado as demandas das meninas em novos
espaços do Legislativo, Executivo e na sociedade civil, alcançando todo o
território nacional. Considerada uma das organizações mais confiáveis do país,
a Plan International Brasil ficou entre as 100 Melhores ONGs do país em 2020 e
recebeu a certificação A+ no Selo Doar Gestão e Transparência. A Plan acredita
que um mundo melhor para as meninas é um mundo melhor para todas as pessoas. E,
para construir uma sociedade mais justa e igualitária, conta com o apoio de
embaixadoras como Ana Paula Padrão, Thainá Duarte, Joyce Ribeiro e Astrid
Fontenelle. Mais informações: www.plan.org.br
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