Organizações de defesa animal e do clima alertam para ineficiência e impactos da produção atual de comida enquanto 50 milhões de brasileiros vivem em insegurança alimentar grave ou moderada
Criado
para refletir sobre a realidade da fome, da segurança alimentar e nutricional e
da necessidade de refeições saudáveis, o Dia Mundial da Alimentação, comemorado
em 16 de outubro, está na pauta de ONGs nacionais e internacionais que defendem
a mudança para um prato sem produtos de origem animal como forma de tornar o
sistema alimentar mais sustentável.
Neste ano, a Organização
das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), responsável pela
criação da data, aposta em uma campanha com o tema enfatizando que “as nossas
ações são o nosso futuro”, algo que vai ao encontro do que defendem a Sociedade
Vegetariana Brasileira (SVB), a ONG Fórum Nacional de Proteção e Defesa Animal,
a Sinergia Animal Brasil, a Million Dollar Vegan e o movimento Plant Based
Treaty.
“Repensar as cadeias de
produção de alimentos e nossas escolhas alimentares diárias é o primeiro e
importante passo para a transformação dos sistemas alimentares atuais em
sistemas mais eficientes que utilizem menos recursos naturais, produzindo mais
calorias e nutrientes que garantam segurança alimentar. Acreditamos que a
mudança de protagonismo da base proteica animal para a vegetal é o primeiro
grande passo para que isso aconteça”, destaca a nutricionista e diretora de
campanhas da SVB, Alessandra Luglio.
Para as ONGs
representantes da defesa animal, a agricultura próspera, inclusiva, sustentável
e com baixas emissões, como deseja a FAO, só será alcançada quando a indústria
tornar sua produção condizente com as necessidades do planeta.
O Fórum Animal, que atua
há mais de 20 anos na causa, alerta que a agropecuária é um dos principais
contribuintes para a mudança climática, com a destruição de florestas, poluição
de rios e mares.
“Estima-se que a
produção mundial de carne aumente acompanhando o crescimento populacional e,
para acompanhar essa demanda, a terra é desmatada. Mais de 50 mil hectares de
florestas são desmatados por agricultores e madeireiros por dia no mundo todo,
uma área que equivale a mais de 10 mil campos de futebol é destruída a cada dia
só na bacia amazônica. Este desmatamento intenso resulta na perda de habitat
para os animais, amplificação dos gases de efeito estufa e interrupção dos
ciclos da água”, alerta o gerente de campanhas do Fórum Animal, Taylison
Santos.
Só no Brasil, a FAO
estima que quase 50 milhões de pessoas vivem em situação de insegurança
alimentar grave ou moderada. A situação é agravada pela pandemia e ocorre ao
mesmo tempo em que a produção de carnes no país é gigantesca – segundo o IBGE,
só em 2020, a indústria abateu 29,7 milhões de bois, 49,3 milhões de suínos e 6
bilhões frangos no país. A diretora de campanhas da SVB observa que a conta não
está fechando e que é urgente a necessidade de mudança dos hábitos alimentares
de consumo.
Ao advertir que a
produção de carne e derivados de origem animal provoca emissões de dióxido de
carbono, metano e óxido nitroso, os três principais gases do efeito estufa, a
rede global de grupos de ativistas The Save Movement criou o Plant Based
Treaty, um tratado que incentiva as dietas a base de plantas, consideradas mais
saudáveis e sustentáveis.
Audacioso, o tratado
investe na ideia de acabar com a alteração do uso da terra, degradação de
ecossistemas ou desmatamento para fins de exploração animal; fazer uma
transição ativa dos sistemas agrícolas de base animal para sistemas alimentares
estritamente de vegetais; e recuperar ecossistemas e reflorestar a terra
danificada. Para os influenciadores e pessoas que endossam o tratado via site
da campanha, essa é a principal forma de frear o problema e evitar aumentos de
temperatura acima de 1,5°C, como busca o Acordo de Paris firmado em 2015.
A ONG Sinergia Animal
Brasil afirma que a produção atual de alimentos de origem animal é
insustentável, pois está entre as que mais emitem gases de estufa. Inserida em
um ciclo perigoso, onde as mudanças climáticas comprometerão a capacidade de
produzir alimentos, ela exacerba ainda mais a insegurança alimentar.
"Além disso, não
podemos mais ignorar o intenso sofrimento animal causado pela produção de
carne, laticínios e ovos", explica a presidente da Sinergia Animal,
Carolina Galvani.
A ONG Million Dollar
Vegan lembra que, segundo pesquisadores da Universidade de Oxford, a pecuária
ocupa cerca de 83% das terras agrícolas e fornece apenas 18% das calorias no
mundo todo. Além disso, a ONG destaca os impactos com desmatamento de florestas
para criar áreas de pastagem para o gado e a alta incidência de casos de
trabalho escravo no setor. Para a organização, o problema vai além do
sofrimento que o animal é submetido em toda cadeia para virar um produto, a
questão também é o sistema injusto de produção que explora pessoas, destrói o
meio ambiente e consome muito mais recursos do que oferece de retorno
nutricional para a sociedade.
“A
pecuária é a indústria que mais desmata no Brasil, segundo a ONU, e o setor que
registrou mais da metade dos casos de trabalho escravo no país entre 1995 e
2020, de acordo com dados do Governo Federal sistematizados pela Comissão
Pastoral da Terra. Para construir um futuro com um sistema alimentar justo,
precisamos escolher alimentos que não causem tantos danos ambientais e sociais”
afirma Isabel Siano, gerente de campanha da Million Dollar Vegan."
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