Algumas mulheres têm mais dificuldade de manter uma gestação que as demais. Especialista explica como ainda é possível ter sucesso na gravidez
Imagine
tentar uma, duas, três vezes seguidas e, em todas as ocasiões, a gestação ser
interrompida em menos de três meses. Segundo a Sociedade Americana de Medicina
Reprodutiva (ASRM, na sigla em Inglês), essa situação acontece com cerca de 1%
da população e é chamada de aborto espontâneo de repetição. De acordo com a ASRM,
ele é definido pela ocorrência de três ou mais abortos consecutivos com perdas,
usualmente, no primeiro trimestre.
Segundo
a especialista em reprodução assistida, Cláudia Navarro, é possível identificar
e corrigir boa parte dos fatores que levam a essa situação. “Mas é preciso
avaliar. Em muitos casos, não há solução prática. Porém, existem possibilidades
de tratamento para que a gestação siga o curso normal até o fim”, explica.
Então,
o que acontece?
1.
Causa genética
As
alterações cromossômicas são as causas de abortamento mais comuns, ocorrendo em
cerca de 60% dos casos, segundo a ASRM. Nesses casos, uma saída possível é a
realização da Fertilização In Vitro
com o chamado teste genético pré-implantacional. “Realizamos uma biópsia
embrionária que possibilita analisar células do embrião e detectar alguma
anormalidade genética”, explica Cláudia Navarro.
Depois,
apenas o embrião saudável é transferido ao útero. “Vale lembrar que não existe
um consenso de que esses testes sejam capazes de melhorar as taxas de sucesso
nas gestações em todas as mulheres. Por isso, cada caso deve ser estudado
separadamente”, pondera a especialista.
2.
Questões endócrinas e/ou metabólicas
Alguns
distúrbios hormonais podem atrapalhar a evolução de uma gestação, como:
hipertireoidismo, hipotireoidismo, elevado nível de prolactina (hormônio
responsável pela estimulação da produção de leite pelas glândulas) e diabetes.
“Geralmente, o tratamento é realizado com medicamento e pode ser necessária a
supervisão de um endocrinologista. Se a paciente tiver ainda um quadro de
sobrepeso, a dieta também faz parte do tratamento”, comenta Cláudia.
3.
Causa anatômica
Existem
casos em que problemas com a formação do útero ou a presença de miomas podem
atrapalhar a implantação do embrião e consequentemente provocar um aborto. Se
não avaliada na primeira gravidez, essa situação será recorrente. “Nesses
casos, após a realização de exames, se houver indicação para tal, o médico pode
realizar intervenções cirúrgicas”, comenta a especialista.
4.
Questões imunológicas e hematológicas
Quando
uma mulher apresenta doenças autoimunes, como lúpus, esclerose múltipla e
hepatite autoimune, é possível que os abortos aconteçam com frequência. Nesses
casos, o sistema imunológico reage de maneira contrária ao embrião, como se
fosse um corpo estranho. “Aqui, novamente, cada caso deve ser identificado e
tratado de forma individualizada”, alerta.
Outras
doenças, que alteram a coagulação sanguínea da mulher, provocando tromboses
mínimas, podem impedir a implantação do embrião. “Quando isso acontece, após
identificar esse tipo de alteração na coagulação do sangue, o médico pode
iniciar o tratamento com uso de medicamentos específicos”, explica Cláudia
Navarro.
5.
Hábitos não saudáveis
O
uso de drogas ilícitas
ou a ingestão excessiva de café, álcool e cigarro pode aumentar as chances de
interrupção da gravidez. “Aqui, a melhor forma de buscar manter a gestação até
o fim é interromper o uso dessas substâncias”, sintetiza a especialista.
Cláudia Navarro - especialista em reprodução assistida.
Graduada em Medicina pela UFMG em 1988, titulou-se mestre e doutora em Medicina
(obstetrícia e ginecologia) pela instituição federal. Atualmente, atua na área
de reprodução humana, trabalhando principalmente os seguintes temas:
infertilidade, reprodução assistida, endocrinologia ginecológica, doação e
congelamento de gametas.
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