Entre 2000 e 2018, 670 mil brasileiros morreram em decorrência da doença
Em 2017, aos 45 anos,
Paula Lopes se assustou ao descobrir que portava o vírus da hepatite C.
"Não sei como me contaminei. Sempre me cuidei e nunca apresentei nenhum
sintoma. Soube que estava com hepatite C durante exames de sangue de
rotina", conta.
O tratamento da
empresária demorou um pouco para acontecer, pois, na época, o governo só
disponibilizava o tratamento para pessoas com doença mais avançada. Após a
mudança na legislação, porém, o medicamento passou a ser oferecido
gratuitamente para todas as pessoas com a enfermidade, e Paula pôde dar início
ao tratamento.
Depois de dois anos de
acompanhamento médico, ela finalmente poderá seguir uma vida normal.
"Foram três meses de tratamento com o remédio oral, fornecido pela farmácia
de alto custo, e mais dois anos de monitoramento. No final do ano terei
alta", relata, já aliviada.
As hepatites virais
são doenças inflamatórias do fígado. Julho Amarelo, como é chamado o mês
dedicado à luta e à prevenção da doença, teve o dia 28 instituído pela
Organização Mundial da Saúde como o Dia Mundial de Luta Contra as Hepatites
Virais.
Entre as hepatites, as
do tipo C estão entre as que mais preocupam, por não terem vacinas para
prevenção e sua prevalência ( 3% da população). De acordo com o Boletim
Epidemiológico de Hepatites Virais da Secretaria de Vigilância em Saúde, entre
os anos 2000 e 2018, aproximadamente 74,8 mil pessoas morreram da doença. Um
total de 76% das 670 mil vítimas de hepatite no país. De acordo com a Dra. Vera
Rufeisen, por ter sintomas inespecíficos, ela pode se desenvolver por anos e
levar à morte se não tratada. "Algumas pessoas apresentam cansaço,
indisposição, fraqueza, mas isso não é regra. Por ser silenciosa, a doença pode
evoluir sem ser percebida e levar a complicações graves, como cirrose hepática
ou câncer de fígado", alerta.
No Brasil, as
principais hepatites são classificadas como A, B, C, D e E, e podem ser
divididas em dois grupos: agudas ou crônicas. As agudas são causadas pelos
vírus A e E, e o contágio acontece pelo consumo de água ou alimentos
contaminados. Entre os sintomas estão dor abdominal, febre, calafrios,
indisposição, olhos e pele amarelados (também chamados de icterícia). Nestes
casos, não há tratamento específico, e o próprio corpo, com repouso e
hidratação, consegue combater a infecção. A infectologista Vera Rufeisen, do
Vera Cruz Hospital, esclarece que a vacinação é a melhor forma de prevenção das
hepatites A e B. "As vacinas são eficazes, seguras e estão disponíveis no
programa nacional de vacinação. É importante que todos mantenham a imunização
em dia para combater o vírus".
Já as hepatites
crônicas são causadas pelos grupos B, C e D. O vírus é transmitido pelo contato
com sangue. Não apenas em transfusões, como também pelo manuseio de objetos
cortantes, tais como alicates de manicures, objetos perfurocortantes não
descartados adequadamente, piercing, tatuagem e relações sexuais desprotegidas.
"Além da recomendação de não compartilhar agulhas e seringas e da
utilização de preservativos em relações sexuais, também orientamos às grávidas
a aderirem ao pré-natal, pois também pode haver a transmissão vertical, que é
quando a doença da mãe passa para o bebê", esclarece a médica.
"Para hepatite B,
ainda não podemos falar em cura, somente controle, com tratamento seguro e
eficaz com antivirais. Já no caso da hepatite C, tivemos um avanço imenso nos
últimos anos e, hoje, temos drogas chamadas ‘antivirais de ação direta’ que,
têm taxa de cura de 96% a 98%, além de poucos efeitos colaterais", adiciona.
A OMS tem como meta a
eliminação da Hepatite C até 2030, mas a infectologista explica que, para que
isso aconteça, todos precisam ser testados e tratados. "É importante que
as pessoas procurem por um médico para saber como está a saúde, se precisam se
imunizar ou para ter um tratamento e acompanhamento seguro e adequado. Nós
sabemos que o tratamento é muito eficaz e consegue prevenir o agravamento e as
complicações tardias tão temidas", conclui.
Dra. Vera Rufeisen - Infectologista do Vera Cruz Hospital
Nenhum comentário:
Postar um comentário