Enfim chegamos aos jogos olímpicos, um evento que já começa marcado por superação mental, física para organizadores e atletas que tiveram que adaptar as condições impostas pela pandemia. Esta provavelmente será a Olimpíada de mais histórias de superação do que de recordes e performance.
Fato ou lenda, o curioso é que a primeira disputa
olímpica, do que hoje seria próximo ao atletismo, foi vencida por Corobeu,
cidadão de Olímpia, que correu despido por crer que assim teria melhor
desempenho. O desafio da performance com menor ou melhor impacto por meio da
roupa nasceu com a própria competição e este desafio vem sendo o propulsor de
inovação tecnológica no vestuário atlético se expandindo para outros segmentos.
A moda absorve todos estes movimentos e transforma
em estilo, é o caso da roupa para a prática do skate, antes um esporte
marginalizado e agora oficialmente olímpico, com isso ela ganha maior evidência
na moda por meio das marcas sportswear.
A demanda por peças confortáveis, levaram os
skatistas a usar o moletom, logo no final da década de 70, quando Norma Kamali
estilista nova-iorquina, começou a fazer roupas com o tecido, já usado desde a
década de 30 para aquecer os trabalhadores de frigoríficos de Nova York, porém
com modelagem e design mais atual para a época. O moletom que oferecia
conforto, mas não resistência, passa a dar lugar as calças cargo e jeans
pesados bem amplos, já que não existia jeans stretch e nada poderia impedir
seus movimentos. Logo, foi redefinido a cara do esporte de rua. É obvio que
isso foi absorvido pela moda que aos poucos passou a oferecer cada vez mais
atributos necessários de resistência, conforto térmico e flexibilidade à
detalhes de costura, entre outros.
A construção dessa estética acontece nos espaços
olímpicos e esportivos, mas também nas academias e ruas que revelam os atletas
urbanos com seus corpos normais, seus sobrepesos, ou seus músculos conquistados
com muita disciplina. O esporte tomou nossas vidas numa busca pelo equilíbrio,
saúde e bem-estar; e a moda abraça seu papel nessa empreitada. Uma pesquisa
realizada pela agência Grey mostrou quatro estilos predominantes de beleza, o
esportivo está entre eles e representa para os adeptos o autocontrole, num
mundo que pouco podemos controlar. O esporte é mais que uma onda, é um
norteador permanente que tem a ver com estilo de vida e com valores
comportamentais que evolui e avança para as principais marcas.
Cada vez mais nossas identidades são múltiplas, o
belo é mais do que um estado físico -- descontruir o belo o corpo escultural
que tanto perseguimos, é um desafio nada fácil, mas esta olimpíada promete ser
palco desta nova inclusão de atletas como Ana Patrícia Ramos, jogadora de
vôlei de praia, que sofria bullying quando criança pelo seu tamanho e na equipe
era vista com limitação pelos seus 1m94cm de altura. Ana distingue-se da
barriga tanquinho e do corpo de beleza simétrica impecável idealizada, mas
despontou entre as atletas, sendo a primeira a garantir a vaga nas olimpíadas
de Tóquio.
Por outro lado, a atleta amadora Ellen Valias
(@atleta_de_peso) luta para conscientizar a sociedade de que é possível ser
gorda e praticar esportes. Ellen não se profissionalizou por não se “enquadrar”
no padrão imposto. Hoje ela é patrocinada pela Adidas, uma marca
esportiva que entendeu que o corpo gordo tem o direito de se movimentar e que
como outras marcas vêm atendo estas demandas que, além de gerar bem-estar,
geram grandes negócios e movimentam toda a cadeia.
A indústria têxtil também corre atrás da alta
performance. Hoje vemos tecidos com quase 100% de power stretch, se adaptando
aos mais diversos corpos e reproduzindo as roupas esportivas, seja com aspectos
do moletom ou leggings, permitindo que a roupa caia como uma luva, inclusive
nos tamanhos ofertados em PMG, como na moda esportiva.
Entre as mídias e atletas dando voz ao diverso, o
movimento da positividade corporal vem crescendo e atingindo o mainstream,
marcas American Eagle, Nike e Torrid ofertando tamanhos estendidos. A rede
americana Athleta, do grupo Gap treinará todos os funcionários de suas lojas
com a certificação bodySTRONG® para ensinar linguagem corporal positiva além de
um grande plano para clientes plus size, com oferta de tamanhos em todas
categorias até 2022, o que representará 70% da oferta da marca sem
diferenciar as linhas convencionais de plus size.
Enquanto isso, os atletas americanos usarão Skims,
a marca de shapewear lançado por Kim Kardashian em 2019, por baixo de sua Ralph
Lauren e Nike. Com mensagem corporal e racialmente inclusiva, a marca está
firmando sua reivindicação como a abordagem americana da próxima geração
E falando em skims, retomo à Corobeu, séculos se
passaram e o seu desafio ainda está na pauta do têxtil, desenvolver tecidos que
façam as pessoas sentirem-se tão leves e confortáveis como em suas próprias
peles, independente da forma e contexto, numa espécie de simbiose.
A moda vai além da necessidade de vestir
construindo entre performance e identidades, entre o corpo físico e emocional,
sendo grande condutora da transformação e acolhimento do diverso. E você ainda
acha que a moda é apenas um jogo estético ou sistema poderoso que mobiliza
massa como os jogos olímpicos?
Sueli Pereira - tem mais de 20 anos de experiência no setor têxtil
e formada em jornalismo, história da moda e gestão empresarial, e um estudiosa
do comportamento humano.
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