Penalista afirma que faltam verbas federais destinadas a projetos na área de estatística e mapeamento criminal
O Brasil é considerado
o país que mais agride e mata homossexuais e pessoas trans no mundo. Dados do
Anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública - divulgado no último dia 15
de julho- reiteram esta notoriedade, mostrando crescimento superior a 20% no
número de notificações de estupros (88) contra pessoas LGBTQIA+ em 2020, por
exemplo.
O Anuário também chama
atenção para o contexto de subnotificação de casos de violência contra essa
população no Brasil: dados focados nessa comunidade inexistem em sete estados
da federação - Rio de Janeiro, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Maranhão,
Ceará, Rondônia e Rio Grande do Sul - segundo o levantamento, que mapeia o
crime no país.
"Já existem
diversas legislações que obrigam os estados a colherem os dados estatísticos de
segurança pública, mas alguns alegam não fazê-lo por falta de verbas", diz
o advogado e especialista em Direito Penal Matheus Falivene, acrescentando que
"o caminho correto seria a destinação de verbas federais para projetos na
área de estatística e mapeamento criminal".
Diante desta
realidade, Falivene concorda que o Supremo Tribunal Federal acertou ao aprovar
a criminalização da homofobia e da transfobia em 2019, passando a tipificá-las
como racismo - um crime hediondo, inafiançável e com pena de dois a cinco anos
de prisão para o agressor. "Porém, para que haja maior segurança jurídica,
o correto seria que o Congresso Nacional alterasse a Lei de Racismo para que
efetivamente punisse as condutas consideradas homofóbicas ou
transfóbicas", defende o especialista. Para condutas mais graves como
estupro e homicídio, "não é necessária a criação de novos tipos
penais", diz Falivene, que também é professor na pós-graduação da
PUC-Campinas.
O advogado orienta as
pessoas da população LGBTQIA+ que se sentirem agredidas a procurar os canais de
denúncia do Ministério dos Direitos Humanos - o Disque 100 -, aplicativos, a
Polícia Militar e a Polícia Civil, por meio da delegacia mais próxima. A
orientação do especialista para o cidadão que observa um ato de homofobia é a
mesma: denunciar o crime imediatamente às instâncias citadas.
Segundo dados da
Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), 80 pessoas trans foram
assassinadas no Brasil no primeiro semestre de 2021. A expectativa de vida das
mulheres trans no país é de apenas 35 anos.
Fonte:
Matheus Falivene é advogado nas áreas de Direito
Penal e Direito Penal Econômico. Doutor e Metre em Direito Penal, pela
Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP). Especialização em Direito
Penal Econômico pela Universidade de Coimbra/Portugal. Bacharel em Direito pela
Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Professor na pós-graduação da
PUC-Campinas.
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