Acidentes com queimaduras são muito frequentes no cotidiano e, com o isolamento social imposto pela pandemia da Covid-19, houve um aumento sensível de casos ocorridos dentro de casa.
Entre as causas mais frequentes estão água quente, ferro de passar roupas e
panelas, além do álcool 70%, solução mais concentrada que passou a ser
amplamente utilizada neste período.
Queimaduras são lesões provocadas pelo contato direto com alguma fonte de
calor ou frio intenso, produtos químicos (naturais ou sintéticos), eletricidade
ou radioatividade. Considerando que a pele é o maior órgão do corpo humano, cuja
principal função é nos proteger dos agentes externos, a intensidade dos danos
causados por uma queimadura dependerá do grau de acometimento dos tecidos.
É isso também que irá definir o tratamento adequado para cada situação.
Dessa forma, as queimaduras podem ser classificadas em:
1º grau: atinge as camadas superficiais da pele, deixando a
pele avermelhada e causando dor leve. Não há bolhas.
2º grau: fere as camadas mais profundas da pele. Notamos
bolhas, vermelhidão, manchas ou mudança da cor, com dor mais intensa e
descamação.
3º grau: afeta todas as camadas da pele e pode até chegar
aos músculos e ossos. Muitas vezes não há dor e o aspecto é de pele branca
nacarada, ou carbonizada escura. A ausência de dor acontece pela lesão das
terminações nervosas sensitivas.
Em todos os casos, a recomendação é colocar a área queimada sob água fria
corrente e limpa por cerca de 20 minutos ou, quando estiver em ambientes com
muita poeira, insetos ou areia, deve-se cobrir a área com um pano limpo e
úmido. Logo após, a vítima deve procurar atendimento no Pronto-Socorro mais
próximo.
Tratamento para queimaduras
Nas unidades da Rede São Camilo de São Paulo, o primeiro atendimento é
realizado por um cirurgião geral, que poderá avaliar a causa e o grau da lesão
para, então, encaminhar o paciente para o tratamento necessário.
Assim, casos menos graves são acompanhados por um cirurgião plástico, enquanto
as queimaduras mais profundas são direcionadas para internação e tratamento com
uma equipe multidisciplinar formada por enfermeiros estomatoterapeutas,
fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais, fundamentais para uma recuperação
bem-sucedida.
Entre os principais critérios que determinam a necessidade de internação do
paciente estão:
- Queimaduras de 2º e 3º graus com acometimento de mais de 10% da superfície
corpórea total em pacientes com menos de 10 anos de idade ou mais de 50 anos de
idade;
-
Queimaduras de 2º e 3º graus com acometimento de mais de 20% da superfície
corpórea total em todas as faixas etárias;
-
Queimaduras de 3º grau com acometimento de mais de 5% da superfície corpórea
total;
-
Todas as queimaduras de 2º e 3º graus com possível prejuízo a áreas funcionais
ou estéticas, como face, mãos, pés, genitais, períneo ou articulações;
-
Todas as queimaduras elétricas, incluindo lesões por raios;
-
Queimaduras químicas ou envolvendo lesões inalatórias;
-
Queimaduras circunferenciais de extremidades ou do tórax;
-
Queimaduras com outros traumas associados, como acidente de carro, por exemplo;
-
Queimaduras em pacientes com condições médicas pré-existentes que possam
complicar o manejo das mesmas e/ou prolongar a recuperação, como Insuficiência
coronariana, Doença pulmonar crônica ou Diabetes Mellitus.
Vale ressaltar que o sucesso no tratamento desses casos depende de um conjunto
de fatores, aliando uma equipe multidisciplinar qualificada, agilidade no
atendimento e tecnologia avançada.
Tais elementos são fundamentais para garantir a melhor recuperação do paciente
vítima de queimaduras. Em alguns casos, será realizada uma limpeza em centro
cirúrgico, sob anestesia geral, para a retirada do tecido morto.
O paciente ainda pode ser submetido à terapia por pressão negativa, uma técnica
moderna que visa substituir a manipulação diária para troca de curativos, o que
causa dor intensa e desconforto. O procedimento também reduz o tempo de
cicatrização, além de preparar melhor o tecido quando é necessário realizar a
reconstrução da área queimada.
Nestes casos, por exemplo, os pacientes podem ser submetidos à terapia por
pressão negativa, onde evitamos essa manipulação diária, além da aceleração da
cicatrização ou o preparo para a reconstrução da área acometida.
O que não fazer em caso de uma queimadura em casa
É importante frisar que muitas medidas caseiras podem prejudicar o tratamento
da queimadura, algumas vezes até mesmo piorando o quadro.
Portanto, em caso de acidentes desse tipo, independentemente da gravidade, não
se deve tocar na queimadura com as mãos ou furar as bolhas, pois isso poderá
contaminar a ferida, prejudicando sua recuperação. Da mesma forma, deve-se
evitar manipular a área afetada, arrancando tecidos ainda grudados na pele, por
exemplo.
Por fim, jamais deve-se aplicar qualquer produto no local, como manteiga, pasta
dental, azeite, café em pó ou clara de ovo.
Flávio Marques Nogueira - médico cirurgião plástico
na Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo
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