Estudo australiano mostrou que há pelo menos 509 genes que influenciam tanto no desenvolvimento da depressão quanto da ansiedade
De repente, bateu um sentimento de tristeza intensa
e parece que a vida está passando em branco e preto. E a sensação não é
passageira: ela dura semanas, meses e parece que tudo perdeu o sentido, até
mesmo das atividades que antes eram muito prazerosas. Esta é uma descrição
muito comum de pacientes que sofrem de depressão, doença que acomete 16,3
milhões de brasileiros, segundo dados do Instituto Brasieiro de Geografia e
Estatística (IBGE). Já para o quadro de ansiedade, os números são ainda mais
alarmantes: 86,5% da população, de acordo com o Ministério da Saúde.
“Embora a depressão e a ansiedade sejam doenças
similares e que costumam surgir juntas, elas são diferentes. A primeira está
associada à perda de prazer, enquanto a segunda gera irritabilidade
constante”, revela a Dra. Lívia Salomé, médica especialista em Medicina do
Estilo de Vida pela Universidade de Harvard e vice-presidente da Regional Minas
Gerais do Colégio Brasileiro de Medicina do Estilo de Vida (CBMEV).
Segundo a médica explica, a mente humana é
subproduto da atividade cerebral em relação a um outro sistema do corpo. A
depressão e a ansiedade representam o adoecimento deste subproduto, traduzida
em um transtorno mental. “Sabemos que as causas de ambas as doenças são
multifatoriais. Elas incluem desde eventos de estresse, características da
personalidade, conflitos familiares até mudanças na composição química dos
neurotransmissores e genética – ou seja, quem tem histórico familiar, tem maior
probabilidade de desenvolver a doença”, explica a especialista.
Um estudo recente liderado pelo QIMR Berghofer
Medical Research Institute, na Austrália, disponibilizado no periódico Nature Human
Behaviour, mostrou que há pelo menos 509 genes que influenciam tanto no
desenvolvimento da depressão quanto da ansiedade. Este foi o primeiro estudo a
identificar tamanha quantidade de genes compartilhados por ambos os
transtornos, indicando uma relação genética entre eles.
Conforme esclarece a Dra. Lívia, o tratamento da
depressão e da ansiedade são baseados em antidepressivos e psicoterapia. “Tudo
vai depender da intensidade da doença. Somente um especialista pode determinar
se há necessidade de tomar medicamentos ou o tempo necessário de terapia para
que haja uma melhora significativa do quadro”. Ela lembra que os remédios
funcionam como um apoio para uma recuperação mais acelerada, de modo que depois
de um determinado período, o paciente consiga levar a sua vida por si só, sem a
necessidade deles.
Mas, para a médica, vencer o distúrbio significa
voltar a ser uma pessoa de hábitos saudáveis. “Realizar atividades físicas e
investir em uma alimentação balanceada são exemplos de iniciativas importantes
para combater a depressão e a ansiedade”, diz ela. Isso porque a prática
esportiva traz mudanças bioquímicas no organismo e colabora para uma maior
liberação de endorfinas, agindo nos neurotransmissores. Além, é claro, de
possibilitar o contato social.
A médica indica ainda alguns alimentos que
contribuem no combate às doenças. “São aqueles ricos em magnésio, tirosina,
triptofano e vitaminas B e C. Eles auxiliam na produção de serotonina, o
hormônio ligado à sensação de prazer. Entre eles, estão ovos, mel, frutos do
mar e frutas, como banana, laranja, melancia e mamão”, aconselha Dra. Lívia.
Ela finaliza com orientações sobre outros cuidados
que impactam na qualidade de vida e, consequentemente, no tratamento das duas
doenças. “Uso de álcool e drogas, maus hábitos de sono e poucas relações
sociais ou de má qualidade podem atrapalhar o tratamento, assim como o uso
excessivo de aparelhos eletrônicos. Portanto, devem ser evitados”, alerta a
médica.
“Também acho importante frisar que depressão e
ansiedade não são frescuras, como muitas pessoas ainda dizem. Temos que quebrar
esse tabu e pedir ajuda profissional. Um tratamento precoce é fundamental para
devolver a qualidade de vida do paciente de forma breve e eficiente”,
completa.
Dra. Lívia
Salomé - Graduada pela Universidade Federal de Minas Gerais
(UFMG), tem especialização em Clínica Médica e certificação em Medicina do
Estilo de Vida pelo American College of Lifestyle Medicine.
Atualmente, é vice-presidente da Regional Minas Gerais do Colégio Brasileiro de
Medicina do Estilo de Vida (CBMEV).
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