Para o médico,
especialista em emagrecimento, Rodrigo Bomeny, as pessoas devem entender que se
trata de um momento excepcional e que não podem se cobrar demais
Perseverar em uma dieta depende de muitos fatores.
Um dos que tem mais influência é o aspecto emocional. Não comemos apenas por
fome, mas também por ansiedade. A pandemia de Covid-19 é um momento muito
complicado nesse sentido, já que a mudança repentina na rotina, causada pelo
isolamento e confinamento social e o risco de contaminação e adoecimento, fazem
com que as pessoas descontem o estresse e o medo que sentem comendo mais e com
menos qualidade do que deveriam.
O médico endocrinologista, especialista em
emagrecimento, Rodrigo Bomeny, comenta sobre como emoções, sentimentos, pensamentos
e julgamentos interferem no processo de emagrecimento e o que deve ser feito
para identificar as situações de gatilho que levam a furos na dieta. As
explicações também podem ser encontradas no Você+, método de acompanhamento
multidisciplinar desenvolvido por Bomeny que foca no desenvolvimento de 5
níveis considerados essenciais para a mudança do estilo de vida e
emagrecimento.
Bomeny pondera que, se por um lado, os efeitos da
pandemia geram ansiedade e impelem as pessoas a comerem desregradamente, por
outro, justamente por causa do novo coronavírus, é preciso prestar mais atenção
no que se ingere. “Ter uma alimentação saudável é essencial para manter a
imunidade alta e evitar desenvolver um quadro ruim da doença em caso de
infecção”, explica.
Contudo, ao iniciar uma nova dieta em um período
tão complicado, seja qual for, deve-se tomar cuidado para que ela não se
transforme também em uma fonte de estresse. Afinal de contas, mudar
drasticamente um estilo de vida numa época tão atípica talvez não seja algo
fácil. É de suma importância nessa hora cuidar de duas qualidades:
autoconhecimento, para saber qual estratégia alimentar servirá melhor; e o
contato direto com as emoções, para lidar com os “nãos” que será preciso dizer
aos outros e a si mesmo.
De acordo com Bomeny, aqueles que sofrem com o
efeito sanfona podem ter uma vantagem nessa hora, isto porque já adquiriram uma
competência em saber quais dietas funcionam melhor para eles próprios. “Saber
analisar o passado é essencial para emagrecer de uma forma saudável em tempos
de confinamento, pois evita adotar uma estratégia alimentar que cause
sofrimento e seja muito difícil de seguir à risca”, afirma.
O especialista em emagrecimento recomenda que as
pessoas entendam que se trata de um momento excepcional na vida de todos.
Enclausurados, sem muitas opções de divertimento e escape, muitas pessoas se
entretêm por meio da comida. “Dessa maneira, por mais que se tente manter uma
rotina no que se refere à alimentação, ela não será a ideal. Aceitar isso
contribui para não gerar expectativas irreais”, diz.
Obviamente, segundo Bomeny, isso não significa que
ansiedade, tristeza, medo e outros sentimentos negativos não emergirão em um
período tão delicado. Sentimentos muito fortes, como ansiedade, por exemplo,
são refletidos no corpo, - através de palpitações, tremores, inquietação -
mesmo sem que se tenha ciência deles. Quando isso ocorre, ignorar o que se está
sentindo ou lutar contra é o pior caminho. Isso faz com que a pessoa continue
reagindo a essa ansiedade – alimentando-se compulsivamente, por exemplo – sem
entender o porquê. Assim, a melhor saída é refletir e compreender o que está
gerando o sentimento ruim e aceitá-lo para poder não repetir as ações que
buscam compensá-lo.
“Uma boa estratégia para auxiliar na identificação
dos sentimentos negativos e facilitar a luta contra suas consequências é
registrá-los em uma espécie de diário”, afirma Bomeny. A pessoa deve
inicialmente anotar suas emoções, que são caracterizadas por sensações físicas,
como tremedeira, sudorese, dor de cabeça etc. Depois, descrever os sentimentos
(medo, tristeza, ansiedade etc.) atrelados a estas respostas
fisiológicas. Sentimentos são elaborações mentais, nomeações das emoções.
Em uma fase posterior, buscar entender que tipos de situações desencadearam
esses sentimentos.
Recomenda-se ainda anotar os pensamentos que surgem
durante essas situações desencadeadoras de sentimentos negativos. Eles costumam
gerar outras emoções e sentimentos negativos e também julgamentos e críticas,
que contribuem para que as pessoas desenvolvam hábitos nocivos à saúde,
como alimentar-se de maneira compulsiva. Tudo isso deve ser registrado,
conforme o médico endocrinologista.
Para aprender a lidar com a autocrítica e os
julgamentos alheios, Bomeny sugere que as pessoas abracem suas imperfeições.
“Colocar-se na posição de vulnerável é extremamente libertador”, diz. O
especialista em emagrecimento relata que muitas pessoas obesas evitam
frequentar eventos sociais ou ir à praia por terem medo das opiniões alheias e vergonha
do próprio corpo. Nesse sentido, conhecer-se e entender que diversos fatores -
problemas hormonais e vivência em um ambiente estressante etc. – favorecem o
ganho de peso pode ser a chave para que a pessoa não sofra tanto com que os
outros dizem ou pensam sobre ela.
Segundo o médico endocrinologista aceitar-se obeso
não é conformar-se com o próprio corpo. A mudança só ocorre de fato quando se
aceita a realidade atual. É nesse momento que a pessoa percebe que, apesar de
não ser culpada por sua situação, é a grande responsável por tentar sair dela.
Desse modo, ela dá um grande passo para agir e modificar hábitos que sabotam o
processo de emagrecimento. “Quando a pessoa se dá conta disso, ela torna seu
dia mais assertivo, produtivo e feliz”, destaca.
Compreender-se como o principal responsável pela
mudança não significa, contudo, que não é preciso buscar ajuda profissional.
Muitas vezes, um psicoterapeuta será o único capaz de jogar luz e descontruir
padrões pré-determinados, que fazem com que você sabote sua dieta e não consiga
a perda de peso e uma vida mais saudável.
Rodrigo
Bomeny - Especialista em emagrecimento, Rodrigo Bomeny é
graduado em Medicina pela Universidade de São Paulo (USP), com residência em
clínica médica e em endocrinologia e metabologia pela mesma instituição de
ensino.
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