Novos tratamentos apontam bons resultados para
síndrome que afeta vários aspectos da comunicação e do comportamento do
indivíduo
O
Transtorno do Espectro Autista (TEA), conhecido popularmente como autismo, é
uma síndrome que provoca problemas na comunicação, na socialização e no
comportamento. Diagnosticado geralmente entre os dois e três anos de idade,
atinge mais de 70 milhões de pessoas no mundo, segundo dados da Organização das
Nações Unidas (ONU).
"O
TEA envolve atrasos e comprometimentos do desenvolvimento, seja da linguagem ou
no comportamento social. Os sintomas podem ser emocionais, cognitivos, motores
ou sensoriais. Desde os primeiros meses de vida, os sinais e sintomas já podem
ser percebidos e as intervenções devem ser iniciadas de imediato. O diagnóstico
definitivo, em geral é confirmado em idades variadas, baseado na evolução de
cada caso. No entanto, muitas crianças ainda são diagnosticadas tardiamente,
seja por desinformação ou resistência da família e dos médicos", explica o
Dr. Jair Luiz de Moraes, neuropediatra com vasta experiência no diagnóstico
precoce do TEA.
Dr.
Jair explica que há uma série de diferentes manifestações do TEA, que têm em
comum: maior ou menor limitação na comunicação, seja linguagem verbal e/ou não
verbal; e comportamentos caracteristicamente estereotipados, repetitivos e com
gama restrita de interesses. "O grau de gravidade varia desde pessoas que
apresentam um quadro leve e com total independência e discretas dificuldades de
adaptação, até aquelas que serão dependentes para as atividades de vida
diárias, ao longo de toda a vida", explica.
Estudos com
cannabis medicinal
Até
o momento, o uso da cannabis medicinal para o manejo de sintomas de TEA
se baseia em relatos de casos ou ensaios clínicos abertos, não controlados, e
com número restrito de participantes. Seu objetivo principal tem sido para o
tratamento das comorbidades, principalmente auto e heteroagressividade,
hiperatividade, ansiedade e distúrbios do sono.
Uma
publicação de outubro de 2019 do BMC Psychiatry, periódico que reúne artigos
sobre transtornos psiquiátricos, apontou que existem três ensaios clínicos em
larga escala e cinco estudos pequenos que avaliaram o uso de cannabis para
autismo. Um destes estudos, realizado em Israel, avaliou a eficácia da cannabis
rica em cannabidiol em 60 crianças. A pesquisa constatou que 61% dos
problemas comportamentais entre os participantes foram muito melhorados,
segundo relatos dos pais. Também houve melhora nos níveis de ansiedade em 39%
das crianças e 47% na comunicação.
"Tenho
relatos no meu consultório de melhoras efetivas em relação as comorbidades em
pacientes com TEA, imediatamente após a troca da medicação convencional, que
muitas vezes provocam diversos efeitos colaterais", reforça o
neuropediatra, que desde 2019 passou a adotar produtos à base de cannabis em
suas prescrições.
Direitos da pessoa com TEA
De
acordo com o Center of Deseases Control and Prevention (CDC), órgão
ligado ao governo dos Estados Unidos, em uma pesquisa realizada de dois em dois
anos no País, existe hoje um caso de TEA a cada 54 crianças de oito anos. No
Brasil, os dados ainda são muito limitados, mas informações do Censo Escolar
mostram que o número de alunos com autismo que estão matriculados em classes
comuns aumentou 37,27% entre os anos de 2017 e 2018.
Para
efeitos legais, os autistas são considerados pessoas com deficiência. De acordo
com a Lei nº 12.764/12, é direito da pessoa com TEA o acesso a ações e serviços
de saúde, incluindo identificação precoce, atendimento multiprofissional,
terapia nutricional, medicamentos e informações que auxiliem no diagnóstico e
no tratamento.
Health
Meds
Referências:
McGuire P,
Robson P, Cubala WJ, Vasile D, Morrison PD, Barron R, et al. Cannabidiol
(CBD) as an Adjunctive Therapy in Schizophrenia: A Multicenter Randomized
Controlled Trial. Am J Psychiatry. 2018;175(3):225-231.
Salgado
CA, Castellanos D. Autism Spectrum Disorder and Cannabidiol: Have We Seen This
Movie Before? Glob Pediatr Health. 2018;Nov 29;5:2333794X18815412.
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