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segunda-feira, 8 de março de 2021

Vamos falar sobre o Mieloma Múltiplo?

Março é o mês da conscientização desta doença, que é o segundo tipo de câncer de sangue mais comum. Conhecer seus sintomas e diagnosticar precocemente é uma maneira de reduzir as complicações que ela causa

 

Março é o mês de conscientização sobre o mieloma múltiplo – uma doença pouco falada, mas de muita importância. Trata-se do segundo câncer de sangue mais comum (o primeiro é o linfoma) e atinge a medula óssea - tecido encontrado no interior dos ossos (o tutano) , responsável por produzir as células sanguíneas. Ocorre devido a uma proliferação anormal dos plasmócitos – células que produzem anticorpos que combatem infecções. Os plasmócitos malignos (células do mieloma) acumulam-se progressivamente em vários locais do tutano, levando ao quadro do mieloma múltiplo.  

“A causa da doença é desconhecida, acomete com um pouco mais de frequência os homens e afeta principalmente os locais onde a medula óssea está mais ativa, como ossos da coluna vertebral, crânio, pélvis e caixa torácica. E conhecer o problema é importante porque muitas vezes, os sintomas do mieloma são confundidos com sinais do envelhecimento, como cansaço e dores nas costas”, diz a hematologista Vania Hungria, professora adjunta da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.  

Segundo a médica, isso ocorre também porque a doença acomete principalmente pessoas acima de 60 anos e é menos frequente abaixo dos 50. “É importante que o mieloma múltiplo seja diagnosticado o mais cedo possível. Quanto mais precoce o diagnóstico, maior a chance de reduzir as complicações decorrentes da doença”, afirma ela. Pelo menos 80% dos pacientes têm comprometimento ósseo, 60%  anemia e 20% alteração renal. Isso resulta nos sintomas de dores ósseas e fraturas espontâneas, além de palidez e fraqueza”, diz a doutora Vania Hungria.

 

Diagnóstico 

 

Por conta desses sintomas, o paciente costuma ir a vários especialistas, como ortopedista, geriatra, nefrologista e reumatologista. Portanto, é importante que esses médicos estejam atentos aos sinais e encaminhe para um hematologista. “Muitas vezes, a jornada é longa e o paciente chega ao hematologista já com a doença em fase avançada”, alerta a dra. Vania Hungria. 

 Além da avaliação clínica, o hematologista pedirá alguns exames essenciais -  entre eles o mielograma. Aspira-se a medula óssea, onde será encontrado o aumento dos plasmócitos. Como esses produzem anticorpos (imunoglobulinas), esse aumento poderá ser identificado por meio de outros exames, entre eles o mais simples é  a eletroforese de proteínas, que deve ser feita com amostra de sangue e de urina. “É necessária ainda a realização de exames para avaliar as complicações da doença, como hemograma para checar anemia, dosagem de cálcio, exame de creatinina para avaliar a função dos rins e exames de imagens dos ossos, como radiografias, ressonâncias e tomografias”, diz a médica.

 

Tratamento 

Com exames feitos e diagnóstico correto, é hora de iniciar o tratamento. O mieloma múltiplo não tem cura, mas com os avanços da ciência, hoje existem importantes opções para tratá-lo, o que possibilita prover um aumento da sobrevida, com melhor qualidade de vida ao paciente. A quimioterapia é o tratamento mais comum e existem hoje vários medicamentos potentes para destruir, controlar ou inibir o crescimento das células  do mieloma. “O transplante de medula óssea é uma opção de tratamento para pacientes com mieloma múltiplo, geralmente recomendado para pacientes abaixo dos 70 anos sem comorbidades”, explica a médica. “É bom reforçar que com o diagnóstico precoce e tratamento adequado, o paciente tem um aumento da sobrevida com qualidade. A evolução do tratamento nas últimas duas décadas foi veloz, o que acarretou num aumento na sobrevivência dos pacientes”, finaliza ela. 

 

 

Vania Hungria - Tem graduação em Medicina pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, Mestrado e Doutorado em Medicina (Hematologia) pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. É professora Adjunta da Disciplina de Hematologia da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. Co-Fundadora, Diretora Técnica e Presidente do Conselho Científico do International Myeloma Foundation Latin America. Membro do International Myeloma Working Group. Membro do Conselho Diretor International Myeloma Society. Co-fundadora e presidente do Grupo Brasileiro de Mieloma (GBRAM). Este ano irá presidir  o HEMO 2021 e no ano que vem irá presidir o International Myeloma Workshop, que virá para a América Latina pela primeira vez e será sediado no Rio de Janeiro.


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