A pandemia do novo coronavírus teve um impacto gigantesco em diversos setores da sociedade, e podemos afirmar com segurança que a educação foi um dos mais afetados: o fechamento dos espaços escolares para conter a disseminação do vírus impôs a professores, alunos e famílias mais um desafio, entre tantos outros que passaram a enfrentar.
Se o impacto de um ano
letivo sem atividades presenciais é grande para estudantes de todas as etapas
educacionais, tem sido ainda maior para as crianças que estão sendo
alfabetizadas - e, se nada for feito para mitigar esse impacto, ele terá
consequências no longo prazo.
Quando falo de
alfabetização, refiro-me a todo o processo de desenvolvimento de leitura e
escrita, que começa já na educação infantil. Nessa fase, é primordial promover
experiências com a linguagem oral, que é o primeiro passo para a construção da
concepção de língua escrita - com a mediação do educador, o aluno é inserido no
mundo da leitura (através da literatura, da contação de histórias, de cantigas
e brincadeiras etc.) e desenvolve habilidades iniciais da linguagem escrita (em
desenhos e rabiscos e, muitas vezes, usando letras e sílabas). A partir dos 6
anos de idade, quando geralmente entram no ensino fundamental, as crianças
passam à alfabetização formal, com práticas pedagógicas agora focadas na
aprendizagem da leitura e da escrita.
Em outras palavras: a
educação infantil e os anos iniciais do ensino fundamental são etapas de um
mesmo processo (alfabetização); em ambas, as crianças precisam de experiências
concretas, interações e mediações constantes para aprender. Veja: no
desenvolvimento da linguagem oral, a interação é fundamental para aprender a
falar, bem como para se conhecer e conhecer o outro. Na aprendizagem da leitura
e da escrita, além da interação com o professor e com os colegas, são
necessárias práticas sistematizadas de ensino.
Não é difícil entender,
então, por que iniciei este artigo chamando a atenção para os impactos do
ensino remoto especificamente na aprendizagem da leitura e da escrita. Com
poucas interações entre educadores e alunos (e dos alunos com os colegas) e
poucas situações concretas de aprendizagem, inevitavelmente houve uma defasagem
nessas etapas do processo de alfabetização - além do desgaste físico e
emocional gerado em uma criança que, de repente, tem que aprender como se
adulta fosse.
Pois bem, essas
barreiras educacionais foram impostas a todos os estudantes - em maior ou menor
grau, de acordo com a condição familiar e a prontidão da escola - durante a
pandemia. Porém, existem crianças que já apresentavam (ou passariam a
apresentar) dificuldades de aprendizagem no ensino presencial. É o caso dos
alunos com transtornos específicos de aprendizagem, como dislexia e
discalculia, condições persistentes que afetam a aprendizagem. Sem a interação
presencial, como o professor pode ver que a criança está com dificuldade e
oferecer apoios para ajudá-la?
A volta das atividades
escolares presenciais deve considerar os impactos sentidos por todos os alunos
em 2020, incluindo um modelo eficiente de reforço escolar para atender aos que
não tiveram as mesmas possibilidades de estudo. Isso será essencial não só para
resgatar o desenvolvimento de habilidades que são base para novos aprendizados,
mas também para recuperar o vínculo das crianças com a aprendizagem,
reconstruir relações sociais de qualidade com professores e fazer com que se sintam
pertencentes ao grupo, tornando o ambiente escolar propício para a
aprendizagem. E, como sempre fazemos questão de destacar no Instituto ABCD,
identificar alunos com dificuldade de aprendizagem é fundamental. As práticas
pedagógicas planejadas para essas crianças podem trazer benefícios para todos
em sala de aula.
Por fim, é importante
lembrar que os professores não podem percorrer essa jornada sozinhos. Se em
2020 ficou mais evidente a importância da parceria entre família e escola,
agora elas precisam, mais do que nunca, trabalhar juntas para atingir um
objetivo comum: promover a aprendizagem e evitar que qualquer aluno fique para
trás. É fundamental que essa ponte permaneça intacta e fique cada vez mais
forte, pois a boa comunicação será o diferencial no processo de acolhimento e
readaptação às atividades presenciais.
Juliana Amorina,
diretora presidente do Instituto ABCD
Instituto ABCD
Instagram: @iabcd
Facebook: @InstitutoABCD
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