Em outubro, alta dos preços na comida, de 8 pontos porcentuais, foi mais sentida na classe E do que na A; varejo e serviços também têm inflações desiguais
O custo de vida tem ficado mais caro para os
estratos de renda mais baixos em comparação com os mais altos na região
metropolitana de São Paulo, mostra um balanço da Federação do Comércio de Bens,
Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP). Os dados apontam para
altas de 5,91% no custo de vida para a classe E, e de 6,22% para a classe D,
entre novembro de 2019 e outubro deste ano – para a classe B, esta elevação foi
de 2,9%, e para a A, de 2,59%.
Para a Federação, a explicação está no aumento significativo dos preços de
alimentos e bebidas em 2020: ainda considerando os 12 meses analisados pela
pesquisa, a expansão desses itens foi de 12,6%, dos quais os ingredientes
básicos da mesa dos brasileiros estão entre os mais atingidos. Em outubro, por
exemplo, o arroz estava 64,3% mais caro do que no mesmo mês do ano passado. O
feijão, por sua vez, registrou elevação de 52,62%. O óleo de soja foi o produto
mais afetado: subiu 93% em um ano.
Os estratos de renda mais baixos sentem os efeitos da inflação dos alimentos
com mais intensidade porque, neles, a distribuição das despesas familiares é
mais concentrada. Além disso, em um momento de pandemia como o atual, são eles
que tendem a aumentar a demanda por produtos de alimentação, já que passam a
cozinhar ainda mais em casa.
Isso se nota, por exemplo, no fato de que o custo de alimentação dos estratos
inferiores foi cerca de 8 pontos porcentuais maior do que o dos estratos mais
altos no mês de outubro: enquanto essa elevação foi de 17,25% para a classe E,
foi de 9,01% para a classe A – a maior diferença entre todas as atividades
analisadas.
Custo de Vida por Classe Social (CVCS) – Outubro de
2020
Como já argumentou em outros momentos, a Federação também justifica a inflação de itens como o arroz e o feijão pelo aquecimento da demanda externa que, em paralelo à valorização cambial, faz com que os produtores privilegiem vender suas safras para o mercado internacional. O preço do dólar, por outro lado, também encarece a importação de materiais utilizados na produção agrícola brasileira.
Varejo e serviços também têm inflação desigual
Além dos alimentos, outras atividades varejistas na região metropolitana de São
Paulo também tiveram altas significativas nos preços, como mostra o Índice de
Preços no Varejo (IPV) da FecomercioSP. No acumulado entre novembro de 2019 e
outubro de 2020, a inflação é de 6,38%, segundo o indicador. Considerando
apenas os 10 meses deste ano, é de 3,84%.
O grupo mais inflacionado, assim como nos outros indicadores, é o de alimentos e bebidas (19,9%), mas chamam atenção também os aumentos nos preços da habitação (6,18%) e dos artigos domésticos (5,44%) -– demandados especialmente em meio à quarentena.
Da mesma forma que o custo de vida, os estratos mais baixos sentiram o peso da
inflação do varejo com mais contundência: para uma pessoa da classe E, por
exemplo, o aumento dos preços do setor foi de 1,41% em relação aos rendimentos
no mês de outubro; enquanto, para alguém da classe A, foi de 0,92%.
O mesmo acontece observando o Índice de Preços de Serviços (IPS): nas classes D
e E, as variações foram de 1,81% e 1,70%, respectivamente. Nas classes A e B,
foram de 0,40% e 0,64%.
O indicador, porém, apresenta mais estabilidade do que os outros elaborados
pela Entidade: aumento de 1,32% no acumulado entre novembro de 2019 e outubro
deste ano. Considerando apenas os dez meses de 2020, esta elevação é de 0,17%.
Nota metodológica
CVCS
O Custo de Vida por Classe Social (CVCS), formado pelo Índice de Preços de
Serviços (IPS) e pelo Índice de Preços do Varejo (IPV), utiliza informações da
Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) do IBGE e contempla as cinco faixas de
renda familiar (A, B, C, D e E) para avaliar os pesos e os efeitos da alta de
preços na região metropolitana de São Paulo em 247 itens de consumo. A
estrutura de ponderação é fixa e baseada na participação dos itens de consumo
obtida pela POF de 2008/2009 para cada grupo de renda e para a média geral. O
IPS avalia 66 itens de serviços e o IPV, 181 produtos de consumo.
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