Joãozinho, não bastante ser muito rico, tinha sonhos de grandeza. Queria ser presidente. Dinheiro sem poder é só dinheiro. Poder, sem dinheiro é só poder. E Joãozinho sofria com isso. Os anos passavam e ele circulava assiduamente em meio aos poderosos. Entre suas muitas organizações se incluía a LIDE – Grupo de líderes empresariais que reunia anualmente empresários e poderosos figurões da política nacional num paraíso de Comandatuba (BA). Mas poder, mesmo, ele não tinha. Toda noite, ao contemplar estrelas pela janela do quarto, Joãozinho antevia crescer ali fora um gigantesco pé de feijão que o levaria até elas. Ele queria ser uma estrela luminosa na constelação do poder.
Foi assim que, depois de ocupar alguns cargos, Joãozinho se elegeu prefeito de
São Paulo. Glória pequena para os anseios que lhe abrasavam o coração. Assumiu
com aprovação de 44% e abandonou o posto, 16 meses depois, com apenas 18%.
Queria ser governador de São Paulo.
Havia, porém, uma dificuldade. Como eleger-se governador, se rejeitado pelo
povo da capital onde fora prefeito? Joãozinho tinha sua fada protetora. Como
todas as fadas, bruxas e gnomos, a fada madrinha de Joãozinho Doria sabia, em
2018, o que apenas os grandes meios de comunicação e institutos de pesquisa,
batendo pé no chão, se recusavam a ver: Bolsonaro, tapado de votos, seria
presidente da República. E a fada levou-o até ele. Nasceu, ali, para Joãozinho,
o que ele imaginava ser o pé de feijão que o levaria aos píncaros do poder
político.
Eleito governador, graças ao apoio do capitão, que fez mais da metade dos votos
em São Paulo no primeiro turno da eleição, e quase 70% dos votos no segundo
turno, Joãozinho marcou território e tomou por inimigo aquele a quem devia sua
vitória.
O pé de feijão, porém, em vez de crescer, encolheu. Em seguida sua rejeição
voltava a superar sua aprovação. O coronavírus secara a terra? Joãozinho ficou
muito triste vendo seu pé de feijão fenecer e flexionar até voltar ao chão.
Enquanto isso acontecia, resolveu adotar como modelo o pior ministro do governo
Bolsonaro, idolatrado, apesar disso, pela grande imprensa. Se o Mandetta usa o
vírus para aparecer diariamente na TV e encanta esse jornalismo de poucas
luzes, eu posso fazer a mesma coisa, deve ter pensado ele. E armou palanque
paulistano com o noticiário do vírus. Era a exaustiva e depressiva receita da
moda.
E o pé de feijão de Joãozinho Doria continuava, claro, sem tomar corpo.
Certo dia, a fada madrinha, já á beira de um ataque de nervos, enviou-lhe um
comerciante chinês. O esperto mercador falou de uma vacina capaz de fazer o pé
de feijão sarar seus males e crescer a perder de vista. No alto, haveria à sua
espera uma harpa encantada, uma galinha poedeira de ovos preciosos, um gigante
a derrotar e, claro, a ambicionada faixa de usar no peito.
***
As
duas últimas pesquisas presidenciais são desalentadoras para Joãozinho Doria.
Segundo Paraná Pesquisas (04/12), enquanto o atual presidente tem 36% das
intenções de votos, seguido por Ciro Gomes com 12%, ele tem apenas 5%; a
pesquisa Poder Data/Band (23/12), posterior, mostra Bolsonaro com 36%, Haddad
com 13% e ele, Joãozinho, com apenas 3%. E a Coronavac do mercador chinês parece não ser lá essas coisas. Mas isso é outra
história.
Percival Puggina -
membro da Academia Rio-Grandense de Letras e Cidadão de Porto Alegre, é
arquiteto, empresário, escritor e titular do site Conservadores e Liberais
(Puggina.org); colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de
Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões;
A Tomada do Brasil pelos maus brasileiros. Membro da ADCE. Integrante do grupo
Pensar+.
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