Neste período de isolamento social, muitas pessoas adotaram o trabalho remoto e, simultaneamente, também foram implementadas aulas online para as crianças. Desta forma, não só os adultos ficaram totalmente conectados dentro de casa através de smartphones, tablets e computadores, mas também as crianças, que, hoje em dia contam com ajuda da tecnologia para estudar.
Se antes da pandemia, a conectividade já estava
presente no mundo dos pequenos, agora, o contato com os eletrônicos se expandiu
para além dos momentos de diversão e está presente durante a maior parte do
dia. Hoje, a presença da tecnologia na vida das crianças se tornou tão ampla,
que arrisco chamá-la de ‘a nova chupeta’, pois possui o papel até mesmo de
distrair e acalmar.
Obviamente que o uso da tecnologia entre os
pequenos traz muitos ganhos, mas também é preciso observar os perigos. Com mais
tempo em frente a computadores e celulares, crianças e adolescentes ficam ainda
mais vulneráveis nas redes sociais e correm risco dentro destes ambientes
quando não possuem o devido acompanhamento dos responsáveis.
O abandono digital se caracteriza pela
negligência dos pais com relação à segurança dos filhos no ambiente virtual, o
que pode gerar efeitos nocivos e irreversíveis aos menores. Sendo mais clara,
se não é prudente que uma criança saia de casa sem supervisão de um
responsável, o mesmo pode ser dito sobre deixá-lo à própria sorte navegando na
internet e suscetível à interação com estranhos que possuem as mais variadas
intenções possíveis. A internet é a rua da sociedade atual.
As crianças e adolescentes não possuem grande
experiência de vida e, por isso, não têm ideia do que é considerado ameaça. O
perigo pode estar nos chats dos jogos online, nos grupos de mensagens, no bate
papo das redes sociais... A partir disso, sem monitoramento, eles podem estar
expostos e correndo risco mesmo estando sentados no sofá da sala, a poucos
metros dos pais.
Além disso, ainda estão sujeitos a propagandas
enganosas, ao cyberbullying, a troca de imagens impróprias, a realizar compras
indevidas no cartão de crédito e ao compartilhamento de conteúdos falsos e
inadequados para menos de 18 anos como pornografia e violência. Como se tudo
isso já não fosse o bastante, outro fator a ser considerado deve ser o tempo de
acesso à internet. Como estão em fase de desenvolvimento é fundamental que
pratiquem a socialização - com os familiares e, depois da volta às aulas
presenciais, com colegas da mesma faixa etária.
Dever dos pais
É absolutamente normal os pais e responsáveis
estarem cansados e exaustos e deixarem os filhos acessarem a internet, mas
compete a eles assegurar educação e controle para a vida digital, assim como
fazemos em relação ao mundo real.
Para isso, há aplicativos que monitoram os
acessos dos filhos na internet, além de softwares, antivírus e configurações de
privacidade. Mas alerto que tudo isso deve ser usado com cautela, já que haverá
algum momento em que o adolescente precisa ter a individualidade respeitada
pelos pais e responsáveis.
À medida que os filhos crescem, os adultos
devem aprimorar o diálogo, de forma que possam não apenas monitorá-los e
estabelecer limites, mas abordar os riscos que eles podem correr na internet e
construir um ambiente de uso responsável da tecnologia.
Em termos Jurídicos, o Estatuto da Criança e do
Adolescente assevera o direito à preservação de imagem, da inviolabilidade
psíquica e moral, o dever de se velar pela dignidade pondo-os a salvo de
qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor
devendo todos prevenirem a ocorrência de ameaça ou violação dos direitos da
criança e do adolescente dentre outras determinações legais. Essa obrigação
deve se estender em todos os campos de convívio da criança, incluindo o
digital.
Deste modo, o abandono parental que já fazia
parte do âmbito do Direito de Família, de uns tempos pra cá abrangeu também o
abandono virtual que deve ser encarado com a mesma seriedade e atenção. Ou
seja, os pais têm responsabilidade civil de vigilância sobre seus filhos também
no ciberespaço e, caso ignorem esta questão, podem ser punidos.
Debora Ghelman - advogada especializada em Direito Humanizado nas áreas de
Família e Sucessões, atuando na mediação de conflitos familiares a partir da
Teoria dos Jogos.
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