Alterações no reflexo podem estimular acidentes de trânsito e favorecer comportamentos que podem relaxar a etiqueta para evitar contágio, como esquecer da máscara, do álcool em gel e do distanciamento social
O toque de recolher, entre 23h e 5h em todo o
Paraná, foi prorrogado até 28 de
dezembro, com possibilidade de continuidade. Para
reduzir a contaminação e propagação do novo coronavírus, está suspenso o
funcionamento de bares, casas noturnas, casas de shows, espaços fechados e
também a venda de bebidas alcoólicas nesse horário em qualquer estabelecimento
comercial, inclusive em serviços de conveniência em postos de combustíveis,
clubes sociais e desportivos e áreas comuns de condomínios.
Segundo a Polícia Militar (PM), a medida diminuiu
em 39% no Paraná o número de
acidentes de trânsito com vítimas que acontecem entre 23h e 5h. E, em tempos de
colapso no sistema de saúde devido à pandemia do novo Coronavírus, o esforço é
válido para reduzir a ocupação em hospitais.
O consumo abusivo de bebidas alcoólicas é ainda
mais perigoso, durante a pandemia, por vários motivos, que extrapolam os
limites do sistema de saúde. “As pessoas que bebem mais têm mais processos
inflamatórios e tendem a ter menos imunidade, essencial para se proteger do
Coronavírus e do agravamento da infecção”, conta Alessandra Diehl, psiquiatra e
vice-presidente da Associação Brasileira de Estudos Sobre o Álcool e Outras
Drogas (ABEAD).
Ela ressalta ainda que, sob o efeito do álcool,
as pessoas têm reflexos diminuídos e tendem a ter menos atenção às medidas de
distanciamento e higiene que servem para prevenir a transmissão e o contágio
pelo coronavírus. “Sem falar no compartilhamento de copos, que é altamente
contagioso”, argumenta Alessandra.
Mais do que nunca, o conselho da especialista é
de que, neste fim de ano, a bebida entre na nossa casa apenas num momento de
celebração, na hora do um brinde. “Passamos por um ano difícil e temos que
agradecer que estamos vivos, com saúde. Precisamos tomar cuidado nesse que é o
momento mais delicado da pandemia, com vistas ao Natal de 2021. Para comemorar
no próximo ano, precisamos nos preservar agora, com festas íntimas, que não
extrapolem a nossa bolha familiar. Essa é a recomendação da ciência, das
autoridades médicas e das prefeituras e devemos segui-la”, destaca Alessandra.
Mesmo em pequenas celebrações, em casa, as
pessoas devem tomar cuidado com o uso do álcool e não esquecer de beber
bastante água para evitar os efeitos da desidratação provocado pelas bebidas.
“A intoxicação pelo álcool e a desidratação causam
aquele desconforto que muitos conhecem: dor de cabeça, náusea, diarreia, dores
musculares, tontura, confusão mental e a enorme sede que sentimos no dia
seguinte. Outra dica é não beber de estômago vazio, fator que potencializa os
efeitos da substância por aumentar a absorção do álcool no estômago”, aconselha
a especialista.
Álcool e pandemia
O consumo de álcool está indo bem
além da ressaca em tempos de Covid-19 e está se tornando nocivo à saúde no
mundo todo. Depressor do sistema nervoso central, a substância induz a sensação
de relaxamento, euforia, diminui a coordenação motora e a tomada de decisões
acaba sendo dificultada. Por isso, está longe de ser a tábua da salvação para
atenuar os efeitos colaterais do Coronavírus em nossas emoções. “Usar o álcool
como forma de enfrentar problemas associados ao período pandêmico, como
angústia e ansiedade, não é aconselhável. Há risco de que as pessoas sigam
bebendo num padrão alto, o que pode evoluir para uma dependência”, alerta
Alessandra.
Estudos revelam o aumento do consumo
de bebidas alcoólicas durante a pandemia do coronavírus em diversos países,
incluindo o Brasil. Um estudo realizado pela Organização Pan-Americana da Saúde
(OPAS) em 33 países e dois territórios, entre maio e junho, apontou que 42% dos
entrevistados brasileiros relataram alto consumo de álcool. “Eles começaram a
beber na quarentena, nas lives, e a tendência é seguirem nesse padrão
pós-pandemia. As pessoas estão começando a beber mais cedo durante o dia, e
seguem bebendo por mais tempo”, afirma a vice-presidente da ABEAD.
Na opinião de Alessandra Diehl não existe como estabelecer uma
quantidade de bebida que seja segura, pois nenhum consumo de álcool está totalmente
isento de riscos. “A bebida pode provocar alterações no sistema cerebral e
estimular acidentes e violência, por exemplo. Além disso, o hábito pode ser
prejudicial quando uma pessoa começa a colocar a bebida em detrimento de outros
afazeres da vida dela, o que prevalece o surgimento de danos, sejam físicos ou
mentais. Ela pode não beber todos os dias, mas beber durante todo o final de
semana, ficar ausente no cuidado dos filhos, se atrasar para o trabalho na
segunda-feira, por exemplo”, finaliza Alessandra Diehl.
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