Médicos-veterinários explicam como animais reagem e dão dicas para tutores evitarem que eles fiquem estressados
Na
noite de réveillon, os fogos de artifício são a atração principal da festa.
Encantam e divertem as pessoas com suas cores, luzes e sons. Porém, esses
artefatos causam efeitos diferentes, muitas vezes negativos, nos animais. É
bastante comum que o barulho estrondoso e os clarões provocados pelos rojões
deixem os pets muito assustados e estressados.
A
médica-veterinária Maria Cristina Reiter Timponi, presidente da Comissão de
Entidades Veterinárias do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado
de São Paulo (CRMV-SP), diz que o barulho dos fogos de artifício costuma ser
bastante irritante não só para cães, mas para gatos, aves e também para animais
selvagens.
“Muitas
vezes, por receio dos fogos, animais acabam abandonando seu habitat e indo em
direção às estradas, correndo o risco de serem atropelados e causarem
acidentes”, afirma.
O
médico-veterinário Eduardo Pacheco, que integra a Comissão Técnica de Clínicos
de Pequenos Animais (CTCPA) do CRMV-SP, ressalta que, “além da queima de fogos,
a mudança de rotina pode ser um fator determinante para o estresse ser ainda
maior, mesmo que seja por um curto período. E a separação do tutor pode
aumentar a inquietação”, afirma.
Audição apurada e acidentes
Nos
cães, o medo de fogos de artifício é muito comum e ocorre porque eles possuem a
capacidade auditiva diferente da nossa, conforme explica o médico-veterinário
Márcio Mota, presidente da CTCPA do CRMV-SP. “O barulho é muito mais alto para
eles do que para nós, o que gera estresse e libera diversas substâncias no
organismo. Com isso, alguns podem ficar agressivos, enquanto outros tentam se
esconder, podendo se machucar.”
Mota
conta que atendeu casos de animais que, ao tentarem escapar dos fogos,
atravessaram portas de vidro para fugir. “O cão ficou preso na porta, tivemos
que anestesiá-lo e chamar os bombeiros para cortar a porta e conseguir tirar o
animal de lá”, lembra.
Outros
perigos para o pet, apontados pelo profissional, envolvem bater a cabeça,
sofrer quedas de varandas e fraturas. “É muito perigoso, pois, na hora do
pavor, os animais não medem esforços para tentar fugir e, muitas vezes, se
machucam gravemente.”
Animais em condições de risco
Os
animais cardíacos, que tenham insuficiência respiratória, doenças renais, assim
como os animais que têm uma doença crônica em curso ou que estão em período
pós-operatório podem sofrer ainda mais, alguns chegam a ter parada
cardiorrespiratória, indo a óbito.
Para Pacheco, os animais mais sensíveis, ou aqueles que sabidamente apresentam
maior sensibilidade aos fogos, devem realizar sem falta um check-up com um
médico-veterinário antes do período de festas. “O profissional fará uma
avaliação do animal e indicará, de acordo com cada caso, os exames necessários,
prestando as devidas orientações. Cada animal pode apresentar necessidades
diferentes”, complementa.
O que fazer para proteger os pets dos fogos
Para
proteger o pet, o ideal é manter sempre o ambiente fechado, evitar deixar o
animal sozinho durante o período de queima de fogos e nunca soltar fogos de
artifício próximos dele. É o que recomenda Pacheco: “se possível, mantenha o
animal sob supervisão sempre, em um local onde o estampido dos fogos não seja
tão audível ou ao menos seja minimizado”.
“É
importante deixar o ambiente o mais calmo possível, mantendo o pet aconchegado,
sem muitas armadilhas onde ele possa se bater e se machucar caso se assuste.
Existe também uma proteção que pode ser feita, envolvendo o animal entre o
peitoral, o tórax e o pescoço com uma toalha. Ele vai se sentir abraçado e
protegido e ficar mais tranquilo”, afirma Mota.
Legislação
Algumas
cidades já possuem leis proibindo o uso de fogos de artifício com barulho. Na
capital paulista, uma lei chegou a ser aprovada na Câmara Municipal, em 2018,
porém foi suspensa pelo Supremo Tribunal Federal, no início deste ano.
“A
passagem do ano é sempre uma data comemorativa que nós gostamos de participar,
porém está mais do que na hora de nós não usarmos fogos de estampido para que
os animais não sofram com esses ruídos que para eles são tão apavorantes”,
conclui a médica-veterinária Maria Cristina Timponi.
10
dicas para seu pet passar a virada do ano com tranquilidade
1. Durante o dia, antes da queima dos fogos, recomenda-se sair com o pet para
passear e estimular brincadeiras para gastar energia.
2.
Vídeos de fogos de artifício podem ser usados antes das festas para o preparo
prévio do animal para o que irá acontecer.
3.
Deixar seu pet dentro de casa, com portas e janelas fechadas, que ajudam a
isolar o local dos ruídos e também para evitar fuga descontrolada.
4.
É importante que o local que o pet fique não dê acesso a varandas e outros,
pois o desespero faz com que o animal salte.
5.
Deixar no espaço tudo que o animal mais gosta, como cama, cobertores e
brinquedos. Deixe à disposição também as caixas de transporte para que eles
possam se refugiar nos momentos de medo.
6.
Não use guias. Eles podem ficar nervosos, correr e se enrolar, elevando o risco
de enforcamento acidental. As coleiras devem ser mantidas, inclusive com
identificação do nome do animal e telefone para contato.
7.
Caso esteja habituado a ouvir sempre TV, rádio ou outros, deixe ligado no
ambiente com o volume alto, pois isso ajuda a disfarçar o som dos fogos e a
fazer com que o animal sinta familiaridade e acolhimento.
8.
Cães e gatos não devem ser postos juntos nesses momentos, pois podem atacar um
ao outro.
9.
Caso seu pet seja muito agressivo, consulte seu médico-veterinário de confiança
e converse sobre a possibilidade de ministrar um calmante neste dia. Porém,
isso deve ser feito apenas em último caso e com acompanhamento profissional.
10.
Transmita tranquilidade e carinho.
Sobre o CRMV-SP
O CRMV-SP tem como missão promover a Medicina Veterinária e a Zootecnia, por
meio da orientação, normatização e fiscalização do exercício profissional em
prol da saúde pública, animal e ambiental, zelando pela ética. É o órgão de
fiscalização do exercício profissional dos médicos-veterinários e zootecnistas
do estado de São Paulo, com quase 42 mil profissionais ativos. Além disso,
assessora os governos da União, estados e municípios nos assuntos relacionados
com as profissões por ele representadas.
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