A partir de uma
análise do mercado e dos principais fatos ocorridos em 2020, Melitha Novoa
Prado e Thaís Kurita, advogadas especializada em Direito Empresarial, que
acompanham importantes redes varejistas, traçaram um panorama do segmento e
apontaram dez tendências que podem acontecer no próximo ano
2020 foi um ano que nem os maiores especialistas em varejo poderiam prever. A crise econômica causada pela pandemia, sem precedente histórico, fez com que varejistas precisassem ser extremamente rápidos, criativos e adaptativos para sobreviverem. Passados alguns meses, muita coisa mudou no varejo e, agora, é possível realizar um balanço do que aconteceu, podendo fazer-se uma previsão do cenário que se desenha para o próximo ano.
Melitha Novoa Prado e Thaís Kurita, advogadas
especializadas em Direito Empresarial, que acompanham o varejo e o franchising
há mais de 30 e 20 anos, respectivamente, atendendo redes de variados portes e
segmentos, atuaram com seus clientes em momentos variados da Economia
brasileira. E, agora, nesta pandemia, participaram ativamente das estratégias
que os fizeram atravessar a crise. “Surgiram novas modalidades de negócios,
foram reforçados conceitos e estratégias, rotas foram mudadas e, claro,
tendências surgiram para que adaptações ao novo contexto fosse realizadas”,
explica Thaís Kurita.
As advogadas detectaram dez tendências para o ano
de 2021, a partir de uma análise do varejo, que acreditam que nortearão a ação
das empresas para adequarem-se a um novo e desafiador ano. São elas:
- 1-
Fusões e aquisições – Na busca pela sobrevivência e necessidade de
reestruturação dos negócios, as fusões e aquisições surgem como uma opção
importante para as empresas varejistas. Para se ter ideia, segundo a
consultoria PwC Brasil, em agosto, foram registradas 112 operações do tipo
no Brasil, volume 65% maior do que o mesmo período em 2019. Em
franchising, as marcas Arezzo e Reserva mostraram que é possível unir
forças, sendo um exemplo emblemático da estratégia, realizada neste ano.
Para que as aquisições e fusões sejam realizadas com sucesso, é preciso que
as marcas passem pelo processo de valuation, que é a mensuração da marca.
Saber quanto uma marca vale está bastante relacionado aos contratos
assinados, sejam eles de franquia e de locação, por exemplo, bem como seu
fundo de propaganda organizado. Uma marca sem contratos assinados tem seu
valor reduzido. Por isso, é preciso ter toda a documentação em dia.
- 2-
Proteção de caixa – Verdadeiro ‘mantra’ de 2020, proteger o caixa
foi imprescindível para que as empresas tivessem a saúde financeira
minimamente preservada. Isso incluiu controle de gastos, estudos de novos
investimentos baseados na criatividade (e não em recursos financeiros), e
na recuperação de crédito, na pausa em novas contratações, e entre outras
ações que devem ser mantidas em 2021.
- 3-
Revisão de políticas – A Lei Geral de Proteção de Dados – LGPD
trouxe essa necessidade às empresas. Foi necessária uma verdadeira
‘limpeza dentro de casa’, com resgate, revisão e implantação de políticas
que determinam como será o relacionamento com clientes, fornecedores e
equipe e como são tomadas as decisões dentro da empresa. A LGPD torna-se
uma oportunidade para levantar o assunto e dar-lhe a importância que o
tema merece: políticas, códigos de conduta e ética, governança, tudo isso
encontrará espaço e será pauta permanente em 2021.
- 4-
Recuperação de crédito – A verdade precisa ser dita: ninguém vendeu o
quanto precisava em 2020 e todas as empresas precisam de dinheiro.
Portanto, é hora de cobrar os inadimplentes, seja por ações judiciais, por
acordos de ações judiciais em curso ou por negociações de dívidas antes
que elas virem ações judiciais. O importante é recuperar o crédito
rapidamente e, assim, proteger o caixa da empresa. Tendência fortíssima
para 2021.
- 5-
Consolidação de novos formatos de negócios – Dark Kitchens, Dark Stores,
Arquitetura Touchless, E-commerce, Delivery... Quantas formas de negócios
surgiram ou consolidaram-se a partir da pandemia? Empresas que atendiam
apenas com lojas físicas viram-se obrigadas a migrar para o e-commerce e,
agora, esse foi um caminho sem volta. Outras passaram a atuar com delivery
e os clientes acostumaram-se a receber produtos no conforto de seus lares,
desejando que essa modalidade seja mantida. E, assim, as marcas foram
incorporando novas formas de atender seus clientes, aprendendo
continuamente sobre o novo comportamento de compra do consumidor. E essa
será uma lição para o ano de 2021, uma tendência que deve se aperfeiçoar.
- 6-
Adoção de estratégias de curto prazo – Não é mais possível pensar
em diretrizes sólidas para o ano ou business plan de cinco anos.
Obviamente, toda marca precisa traçar planos, mas, atualmente, é
necessário que se tenham estratégias de curto prazo, o famoso ‘plano B’.
Em 2020, as empresas varejistas viram que é fundamental que se implementem
ações rápidas. Não teremos um retorno ao ponto anterior ao da pandemia
porque quem passou a comprar em e-commerce não voltará 100% ao varejo
físico e o dinheiro que antes circulava não foi acumulado para encher o
varejo agora. Portanto, existirá uma nova realidade e a retomada será
encadeada, necessitando-se de mudanças rápidas, conforme o comportamento
do consumidor a cada ação.
- 7-
Oportunidades mercadológicas – Dizem os mais velhos que ‘é na crise que se
ganha dinheiro’. Por que eles falam isso? Porque quem já tem capital
aproveita-se de situações das empresas menos favorecidas para negociar
melhor. Assim, na crise, surgem oportunidades de locação de pontos sem
luvas, por exemplo; fusões e aquisições (conforme citado acima);
recuperação de crédito; compra de imóveis, entre outras oportunidades.
Saber negociar, neste momento, sem se aproveitar da situação, porém, fará
com que a qualidade do que se contrata não caia.
- 8-
Microfranquia – É uma super tendência para 2021. Com muitas pessoas desempregadas,
as franquias de baixo investimento tornam-se atrativas por terem
justamente valores interessantes para quem tem fundo de garantia a receber
e outros valores indenizatórios. Além disso, as franquias são negócios com
riscos reduzidos, por terem sido testadas pelo franqueador e oferecerem
suporte para quem nunca operou um negócio e não tem experiência.
- 9-
Indústria varejando – Para comercializar seus produtos, a indústria
sempre precisou de canais de distribuição, como o varejo. Porém, com a
crise, tal canal mostrou-se frágil, necessitando-se de ser encarado como
um parceiro. Assim, acredita-se que a estratégia do co-branding, no qual a
indústria cede ao varejo sua marca forte, tendo em troca a capilaridade e
o dinamismo do varejo para escoar produtos será uma tendência para 2021.
Marcas como Omo e Ariel, em redes de lavanderias; Havaianas, em lojas
multimarcas; Bauducco, em rede própria de cafeterias; entre outras, são
exemplos de indústrias que cedem suas marcas ao varejo, por meio de
franquias ou licenciamento de marca, para se fazerem mais presentes junto
ao consumidor.
- 10-
Reflexos da mudança de comportamento do consumidor – O varejo sempre foi
dinâmico, com alta capacidade adaptativa e soube que é preciso antever-se
aos desejos do consumidor para lhe atender plenamente. Porém, em 2020,
surgiram situações que extrapolaram os simples anseios do consumidor por
um novo produto, atendimento personalizado ou preços competitivos: o
cliente possui outras inseguranças; sofre com a ansiedade financeira de
não saber como será sua situação amanhã; sente-se sozinho, pelo isolamento
social e busca confiar em empresas que supram (ainda que, minimamente)
essa pluralidade emocional. Portanto, em 2021, será imprescindível
pensar diferente para atender esse consumidor e superar suas expectativas.
A loja física surge como um atrativo para mesclar experiências completas
de consumo de produtos, serviços e entretenimento, de forma a trazer o
consumidor para perto, novamente. Será necessário privilegiar o heartset,
em vez do mindset, para que as marcas aproximem-se de seus
Melitha Novoa Prado e Thaís Kurita acreditam que
essas dez tendências para o varejo e o sistema de franchising sejam um reflexo
do novo momento do mercado brasileiro. “Poderemos presenciar outros aspectos,
conforme o decorrer dos meses, já que vivemos um momento atípico e muito
dinâmico. Com o advento da vacinação e da volta do consumidor às ruas,
poderemos ter uma movimentação diferente da Economia e, quem sabe, outras novidades
a acrescentar a essas tendências. Então, valerá uma revisão da lista daqui a
alguns meses”, finaliza Thaís Kurita.
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