Desde que o Banco Central anunciou o novo meio de pagamento instantâneo, muito se fala das funcionalidades e vantagens que o Pix vai trazer. Antes mesmo do início de seu funcionamento, muitas especulações começaram a surgir. Há discussões que vão desde como esta nova forma de realizar transferências, pagamentos de contas, boletos e compras poderá afetar o mercado com sua adesão, até debates sobre o possível fim da utilização de maquininhas. Muitas mudanças acontecerão de fato, mas as maquininhas não devem desaparecer.
Pode parecer estranha essa afirmação. Pensar que,
com um novo jeito de pagar e receber dinheiro, não haverá mais a necessidade de
utilizar maquininhas. Então, com a adesão do Pix, como elas poderão sobreviver
a esse novo meio de pagamento? Os motivos são diversos e precisamos pensar em
fatores culturais e econômicos, além do simples fato de as maquininhas não
servirem apenas para receber pagamento em cartão.
Hoje, 80% da economia do país é formada por
pequenas e médias empresas, e a grande maioria é aderente à maquininha por
desconhecimento tecnológico e desconfiança. Outro ponto importante: muitos
brasileiros ainda são reféns do crediário e de compras parceladas, e o Pix
ainda não traz a possibilidade de pagamentos em crédito parcelado.
O Brasil possui cerca de 46 milhões de
desbancarizados e um número incalculável de pessoas que possuem contas apenas
para receber salário ou algum benefício, que são os chamados
semi-desbancarizados. Isso porque há também uma grande questão em relação ao
acesso/medo da tecnologia para elas.
Agora, para entendermos um pouco mais sobre as
diversas funcionalidades de uma maquininha, precisamos voltar em 2009, quando o
Banco Central liberou a competição entre as bandeiras e aumentou o acesso das
adquirentes aos cartões. Neste ano, Cielo e Rede começaram uma grande disputa
para atrair mais clientes. Os anos passaram, a tecnologia avançou e fintechs
com soluções de pagamento começaram a nascer, e junto com elas surgiu a “guerra
das maquininhas”, uma busca por menores taxas e diferentes funcionalidades.
A busca acirrada por um diferencial tornou a
maquininha muito mais que uma forma de receber pagamento, mas também fonte de
outros produtos e serviços. Por ela é possível realizar recargas de celular,
parcelar tributos como o IPVA, IPTU e ITBI, emitir nota fiscal, entre outras
tantas funcionalidades. Um estabelecimento que possui uma maquininha consegue
controlar tudo e simplificar tarefas complexas, por exemplo.
Um estacionamento de carros, consegue substituir
facilmente um computador. Não há necessidade de anotar placas e horários, a
própria maquininha, além de receber o pagamento, consegue ler o modelo e a
placa, gravar o horário de entrada e gerar o comprovante ao motorista. Na hora
da cobrança, ela mesma calcula o tempo e o valor a ser pago, emitindo o cupom
fiscal.
Outro exemplo são os restaurantes, quando o garçom
chega para nos atender, todo procedimento pode ser feito pela maquininha, desde
anotar o nosso pedido, que chega direto até a cozinha ou bar do
estabelecimento, cobrar pelo consumo já “splitando” a taxa de serviço, emitir o
cupom fiscal, integrado com o SEFAZ e ainda estar integrado também com o
sistema de administração do estabelecimento, controlando o estoque e
abastecendo em tempo real toda informação.
Por enquanto, o Pix não trará o fim da maquininha,
até mesmo porque a própria maquininha pode receber o pagamento através do Pix,
substituindo a transação de débito, onde é gerado um QR Code e o cliente pode
optar por pagar lendo este QR através do seu smartphone.
Haverá um estímulo cada vez maior pela competição
entre os players desse mercado. A quantidade de serviços que é possível alocar
é muito grande, indo muito além. Receber pagamento é apenas uma de suas tantas
funcionalidades.
Patrick Burnett - fundador e CEO do InoveBanco,
fintech de soluções em meios de pagamentos, fundada em 2019.
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