Vivemos uma experiência completamente inversa da realidade de muitos millennials até hoje. O tempo em casa, antes cronometrado e calculado com trânsito e muitas horas no escritório, se tornou mais fluido.
Refeição, atividade
física, trabalho e lazer se encontram no mesmo cenário. Antes, o que passava
batido pela correria do dia a dia, agora é percebido com a vivência diária
constante. Estamos vulneráveis ao nosso contato mais presente no momento - a
relação com tudo o que nos cerca. Uma pesquisa nos EUA mostra que 47,4% das pessoas afirmam que irão
manter os novos comportamentos relacionados à limpeza mesmo após a pandemia.
Este cuidado, apreço e percepção dos ambientes existia? Ou foi adaptado pela
vivência atual? O que mais ganhou tanta importância em nosso espaço? Talvez
isso seja permanente, em uma nova rotina que teremos com menos dias no
escritório e, por um tempo, sem aglomeração?
A aceleração do
trabalho remoto se deu sem a nossa possibilidade de escolha. Tivemos que nos adaptar
à realidade de reuniões diárias por videoconferência, o trabalho invadiu o
espaço pessoal e muitas vezes se misturou com a família. Já quem mora sozinho
foi obrigado a lidar com a falta de contato social físico. Nosso escritório
virou a escrivaninha, a mesa de jantar, a cama, o balcão da cozinha, onde der.
Além disso, a pandemia revelou que não precisamos trabalhar de casa, mas sim de
onde quisermos - o "anywhere office".
Não podemos dissociar
a arquitetura desse impacto. Ela deve proporcionar espaços que reflitam nossos
valores, sejam os que já estavam aqui, sejam os novos, que adquirimos na
pandemia.
Por esta razão, as
disposições dos espaços precisam ser mais flexíveis e abrangentes. Uma sala que
possui multi-funções durante o dia, pode proporcionar maior aproveitamento no
trabalho remoto. Um tapete que pode ser facilmente retirado, o sofá deslocado e
qualquer obstáculo recolhido, cria um espaço de aproveitamento para atividade
física. Ou até mesmo um novo cenário para as recorrentes chamadas de vídeo .
Não somente as
configurações de paredes e mobiliário nos afeta, mas as cores e formas que nos
cercam, podem ajudar ou dificultar algumas atividades e transmitir sensações
diferentes. Um espaço com pé direito muito alto que não seja amplo pode proporcionar
sensação de aprisionamento. Criar uma pintura escura no teto e em faixa na
parte alta da parede pode criar um acolhimento neste mesmo espaço. A
intensidade dos pigmentos aos nossos olhos pode influenciar em nosso humor,
contribuindo para tranquilidade ou irritabilidade. Os tons de cores mais
quentes podem nos estimular e criar uma atmosfera de energia intensa. Já as
cores mais frias e neutras tendem a transmitir tranquilidade e quietude.
Imaginar essa composição de estímulos e relaxamento na vivência intensa de
poucos ambientes pode ajudar ou dificultar as diferentes atividades no período
de reclusão.
Há
7 meses não imaginávamos nada parecido com o que vivemos esse ano. Estamos
lidando com o desconhecido e tendo que nos adaptar a novas formas de viver e a
arquitetura pode ser uma aliada nesse momento, nos ajudando a moldar os espaços
e, assim, nos habituar a essa realidade híbrida que ganha contornos cada vez
mais claros.
Paula Blankenstein -
líder de arquitetura da Yuca
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