Os insetos estão entre os organismos mais disseminados e abundantes no
planeta, com cerca de 30 milhões de espécies, que juntas acumulam o maior
volume de biomassa entre todos os seres vivos. Estima-se haver mais de
200 milhões de insetos para cada ser humano, o que significa 140 quilos de
insetos para cada quilo que cada um de nós acumula. A importância dos
insetos para a humanidade é incalculável, desde a polinização de plantas, a
produção de mel e seda, o controle natural de pragas e o equilíbrio dos
ecossistemas, até suas formas, cores e padrões, que tanto agradam aos nossos
sentidos.
Os insetos estão por aqui há cerca de 400 milhões de anos, e essa
característica conferiu a eles uma capacidade adaptativa extraordinária —
existem cupins da África Oriental capazes de colocar um ovo a cada dois
segundos, totalizando 43.000 ovos por dia, e há gafanhotos que podem voar em
nuvens de até um bilhão de indivíduos, devorando tudo o que encontram. Ao
contrário dos mamíferos e aves, que usam muita energia para se manter
aquecidos, os insetos são eficientes conversores de alimento em massa corporal.
Assim, essa habilidade de converter as mais variadas fontes de
alimentos em proteína de alta qualidade pode dar aos insetos um papel de
destaque na composição das dietas humanas e de rações animais no futuro.
Aproximadamente dois bilhões de pessoas em 130 países já comem insetos
regularmente, e a FAO, Organização das Nações Unidas para Alimentação e
Agricultura, vem promovendo e estimulando a ampliação do seu uso como forma de
prover proteínas, vitaminas e aminoácidos de alta qualidade para reforço das
dietas humanas. Um dos objetivos é explorar a alta taxa de conversão alimentar
de espécies como os grilos, que precisam de seis vezes menos alimento que
bovinos e duas vezes menos que suínos e frangos de corte para produzir a mesma
quantidade de proteína, emitindo menos gases de efeito estufa e outros
poluentes.
Além do uso direto na alimentação humana, outra grande promessa é o uso
de insetos devoradores de lixo e resíduos para produção de adubos orgânicos e
rações animais. A Embrapa e parceiros nacionais e internacionais já
exploram o potencial de espécies como a mosca-soldado-negra (Hermetia
illucens), o besouro-tenébrio (Tenebrio molitor), o grilo-preto (Gryllus
assimilis), entre outros, como componentes de rações para aves e
peixes. E demonstram que é possível substituir gradualmente as rações
convencionais, à base de farinha de peixe e farelo de soja, por uma dieta
equilibrada com insetos, com substanciais benefícios econômicos e ambientais.
Com todo esse potencial a ser explorado, não é surpresa o surgimento de
muitas empresas e startups criando produtos à base de insetos para substituir
componentes de ração animal, um mercado de US $ 400 bilhões/ano. E o
emergente mercado de proteínas de insetos poderá também surfar a onda das
alternativas de carne à base de vegetais, e ampliar a ruptura no mercado de
alimentos, uma vez que já é possível combinar proteína de insetos com
ingredientes à base de plantas para criar produtos contendo todos os nutrientes
essenciais derivados de animais domésticos.
O fato é que não há nada
assegurado para o mercado de alimentos do futuro. Praticamente todos os
estudos prospectivos nos dizem que a distância entre ficção científica e
realidade seguirá se encurtando, e avanços em áreas
inusitadas, até agora consideradas especulativas, podem se tornar realidade em
breve. Fiquemos atentos!
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