Ao longo de sua carreira, o médico geriatra e
paliativista do Grupo Oncoclínicas André Filipe Junqueira dos Santos se
acostumou a realizar o acompanhamento de pacientes ao longo do tratamento
oncológico, com foco no controle de seus sintomas, conforto e qualidade de
vida.
O médico, que ganhou em 2017 o Prêmio de Educação e
Desenvolvimento Internacional em Cuidados paliativos (IDEA-PC), da American
Society of Clinical Oncology (ASCO), esclarece a seguir cinco dúvidas sobre os
Cuidados paliativos:
No que
consiste o cuidado paliativo?
A atual definição de cuidado paliativo é de 2002,
feita pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Trata-se de uma abordagem que
promove a qualidade de vida para pacientes e familiares diante de uma doença
que ameaça a continuidade da vida, isso através da prevenção e alívio do
sofrimento.
Isso requer uma avaliação precoce para tratar a dor
e qualquer problema de natureza física, social e espiritual. O cuidado
paliativo integra tratamentos em qualquer área da medicina, inclusive na
pediatria, mas tendo mais impacto em situações como doenças como o câncer.
Quando o
cuidado paliativo deve entrar em cena?
Sempre que uma pessoa enfrente uma doença que
ameace a sua vida os Cuidados Paliativos devem participar dos cuidados
oferecidos a essa pessoa, sendo que em caso de piora da saúde dessa pessoa e
consequentemente uma possibilidade maior dela falecer, os Cuidados Paliativos
devem assumir um papel maior no tratamento oferecido.
Um ponto essencial a ser esclarecido é que a morte
é um evento que vai ocorrer para todos, porém como desejamos morrer é algo que
evitamos falar. A visão de cuidado paliativo está na mudança da maneira de
morrer. Às vezes não é possível evitar a morte do paciente. Mas quando o
cuidado paliativo é bem feito, consegue modificar o fim de vida para que ele
tenha o menor sofrimento possível e possa trabalhar outros aspectos, vivenciar
outros momentos que a pessoa não teve a oportunidade de realizar.
A chave de tudo é entender que os cuidados
continuados envolvem uma serie de fatores e que a doença continuará sendo
tratada para que o paciente viva da melhor forma possível com essa condição - e
apesar dela. Isso não significa uma sentença de morte, é apenas um complemento
das estratégias para uma vida plena. E o momento de buscar essa alternativa
depende de uma decisão particular do paciente, apoiada por toda a equipe
multidisciplinar envolvida no tratamento.
No caso do
paciente com câncer, há uma recomendação específica relativa ao cuidado
paliativo?
O objetivo maior de qualquer tratamento é curar o
paciente, com o menor impacto possível das terapêuticas adotadas em sua vida.
Quando falamos de Cuidados paliativos e câncer, a American Society of Clinical
Oncology (ASCO) recomenda cuidados paliativos para todos os pacientes com
câncer avançado ou em caso de sintomas de difícil controle, sendo que esse
atendimento deve ser feito por uma equipe interdisciplinar, concomitante ao
atendimento oncológico, sendo o ideal ser iniciado em até oito semanas depois
do diagnóstico da doença em fase avançada.
Inicialmente o Cuidado Paliativo pode atuar no
controle de sintomas e apoio emocional, porém caso a doença infelizmente
progrida, ela irá crescer dentro do tratamento, procurando conciliar o
tratamento oncológico disponível com os desejos da pessoa acometida por uma
doença em fase avançada. O cuidado paliativo precoce na oncologia já foi
provado em ter impacto na qualidade de vida e em alguns casos aumentar também a
sobrevida.
Dessa maneira, a chave do paliativo é o equilíbrio.
Unir o conhecimento do médico e de toda a equipe com os valores do paciente.
Por exemplo: qual o benefício diante de uma quimioterapia para tratar um câncer
em estágio avançado? O tratamento pode ajudar a ganhar tempo de vida, mas
eventualmente resultar em efeitos colaterais que o paciente não quer.
Basta um
médico com formação em cuidado paliativo para cuidar de um paciente?
O cuidado paliativo é muito novo no Brasil. E infelizmente
ainda não temos regulamentação juridica e nem suporte financeiro. Independente
disso, ele é considerado desde 2012 pelo Conselho Federal de Medicina como área
de atuação e já existem cursos no Brasil que oferecem capacitação.
É um trabalho que exige uma relação de confiança
plena e é impossível ser feito apenas pelo médico. É preciso de uma equipe com
vocação e treinamento para atuar nesse trabalho. Esse grupo é formado
geralmente por um médico, enfermeiro e psicólogo como equipe mínima, sendo sempre
possível ter a presença de nutricionista, fisioterapeuta e outros profissionais
de saúde.
Isso porque não existe um ser humano capaz de lidar
sozinho com uma pessoa nessa condição. Oferecer o cuidado paliativo requer uma
visão de fortalecimento.
Dentro do Grupo Oncoclínicas, no modelo de Cuidados
Continuados, o atendimento é feito sempre em conjunto, com a presença em um
mesmo ambiente de todos os profissionais. Esse é o grande diferencial: ter uma
equipe inteira à disposição do paciente e da família num lugar só e ao mesmo
tempo. É uma forma de acolhimento maior e permite uma interação muito maior
entre a equipe, o paciente e a família.
Existem dados
que mostrem o quanto os cuidados paliativos influenciam na resposta do
paciente, seja no aumento da vida ou na aceitação da morte?
No Brasil não temos grandes trabalhos que avaliem
isso e contribuam para a criação de uma forma de medir o impacto dessa
atividade no país. Mas na literatura internacional já existem trabalhos que
comprovam três resultados comuns no momento em que a equipe agrega o paliativo
ao tratamento do paciente: aumento da qualidade da vida, alívio dos sintomas e
melhora do gerenciamento dos recursos de saúde.
Grupo oncoclínicas
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