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segunda-feira, 24 de setembro de 2018

Cuidado paliativo: 5 dúvidas esclarecidas pelo especialista


Ao longo de sua carreira, o médico geriatra e paliativista do Grupo Oncoclínicas André Filipe Junqueira dos Santos se acostumou a realizar o acompanhamento de pacientes ao longo do tratamento oncológico, com foco no controle de seus sintomas, conforto e qualidade de vida.

O médico, que ganhou em 2017 o Prêmio de Educação e Desenvolvimento Internacional em Cuidados paliativos (IDEA-PC), da American Society of Clinical Oncology (ASCO), esclarece a seguir cinco dúvidas sobre os Cuidados paliativos:


No que consiste o cuidado paliativo?

A atual definição de cuidado paliativo é de 2002, feita pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Trata-se de uma abordagem que promove a qualidade de vida para pacientes e familiares diante de uma doença que ameaça a continuidade da vida, isso através da prevenção e alívio do sofrimento.
Isso requer uma avaliação precoce para tratar a dor e qualquer problema de natureza física, social e espiritual. O cuidado paliativo integra tratamentos em qualquer área da medicina, inclusive na pediatria, mas tendo mais impacto em situações como doenças como o câncer.


Quando o cuidado paliativo deve entrar em cena?

Sempre que uma pessoa enfrente uma doença que ameace a sua vida os Cuidados Paliativos devem participar dos cuidados oferecidos a essa pessoa, sendo que em caso de piora da saúde dessa pessoa e consequentemente uma possibilidade maior dela falecer, os Cuidados Paliativos devem assumir um papel maior no tratamento oferecido.

Um ponto essencial a ser esclarecido é que a morte é um evento que vai ocorrer para todos, porém como desejamos morrer é algo que evitamos falar. A visão de cuidado paliativo está na mudança da maneira de morrer. Às vezes não é possível evitar a morte do paciente. Mas quando o cuidado paliativo é bem feito, consegue modificar o fim de vida para que ele tenha o menor sofrimento possível e possa trabalhar outros aspectos, vivenciar outros momentos que a pessoa não teve a oportunidade de realizar.

A chave de tudo é entender que os cuidados continuados envolvem uma serie de fatores e que a doença continuará sendo tratada para que o paciente viva da melhor forma possível com essa condição - e apesar dela. Isso não significa uma sentença de morte, é apenas um complemento das estratégias para uma vida plena. E o momento de buscar essa alternativa depende de uma decisão particular do paciente, apoiada por toda a equipe multidisciplinar envolvida no tratamento.


No caso do paciente com câncer, há uma recomendação específica relativa ao cuidado paliativo?

O objetivo maior de qualquer tratamento é curar o paciente, com o menor impacto possível das terapêuticas adotadas em sua vida. Quando falamos de Cuidados paliativos e câncer, a American Society of Clinical Oncology (ASCO) recomenda cuidados paliativos para todos os pacientes com câncer avançado ou em caso de sintomas de difícil controle, sendo que esse atendimento deve ser feito por uma equipe interdisciplinar, concomitante ao atendimento oncológico, sendo o ideal ser iniciado em até oito semanas depois do diagnóstico da doença em fase avançada.

Inicialmente o Cuidado Paliativo pode atuar no controle de sintomas e apoio emocional, porém caso a doença infelizmente progrida, ela irá crescer dentro do tratamento, procurando conciliar o tratamento oncológico disponível com os desejos da pessoa acometida por uma doença em fase avançada. O cuidado paliativo precoce na oncologia já foi provado em ter impacto na qualidade de vida e em alguns casos aumentar também a sobrevida.

Dessa maneira, a chave do paliativo é o equilíbrio. Unir o conhecimento do médico e de toda a equipe com os valores do paciente. Por exemplo: qual o benefício diante de uma quimioterapia para tratar um câncer em estágio avançado? O tratamento pode ajudar a ganhar tempo de vida, mas eventualmente resultar em efeitos colaterais que o paciente não quer.


Basta um médico com formação em cuidado paliativo para cuidar de um paciente?

O cuidado paliativo é muito novo no Brasil. E infelizmente ainda não temos regulamentação juridica e nem suporte financeiro. Independente disso, ele é considerado desde 2012 pelo Conselho Federal de Medicina como área de atuação e já existem cursos no Brasil que oferecem capacitação.

É um trabalho que exige uma relação de confiança plena e é impossível ser feito apenas pelo médico. É preciso de uma equipe com vocação e treinamento para atuar nesse trabalho. Esse grupo é formado geralmente por um médico, enfermeiro e psicólogo como equipe mínima, sendo sempre possível ter a presença de nutricionista, fisioterapeuta e outros profissionais de saúde.

Isso porque não existe um ser humano capaz de lidar sozinho com uma pessoa nessa condição. Oferecer o cuidado paliativo requer uma visão de fortalecimento.

Dentro do Grupo Oncoclínicas, no modelo de Cuidados Continuados, o atendimento é feito sempre em conjunto, com a presença em um mesmo ambiente de todos os profissionais. Esse é o grande diferencial: ter uma equipe inteira à disposição do paciente e da família num lugar só e ao mesmo tempo. É uma forma de acolhimento maior e permite uma interação muito maior entre a equipe, o paciente e a família.


Existem dados que mostrem o quanto os cuidados paliativos influenciam na resposta do paciente, seja no aumento da vida ou na aceitação da morte?

No Brasil não temos grandes trabalhos que avaliem isso e contribuam para a criação de uma forma de medir o impacto dessa atividade no país. Mas na literatura internacional já existem trabalhos que comprovam três resultados comuns no momento em que a equipe agrega o paliativo ao tratamento do paciente: aumento da qualidade da vida, alívio dos sintomas e melhora do gerenciamento dos recursos de saúde.

Ou seja, você evita a realização de tratamentos que para aquela pessoa não estão adequados as suas expectativas e valores. Uma frase que sempre falamos em cuidado paliativo é: "Não é que não existe mais nada que fazer, o que muda é a maneira de fazer". Ao invés de apontar a cura como único tratamento, trabalhamos com outras opções para essas pessoas.





Grupo oncoclínicas 


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