Estudo também constatou que
71,4% dos estados brasileiros descumprem normas de monitoramento da qualidade
do ar
O Instituto Saúde e Sustentabilidade estudou a presença de
material particulado MP10 e MP2,5 e ozônio durante a paralisação dos
caminhoneiros para averiguar os efeitos da imobilidade veicular sobre a qualidade
do ar em todo o país. Porém o objetivo inicial de averiguar o impacto da greve
em todas as unidades federativas brasileiras não pode ser cumprido: o instituto
constatou que 71,4% dos Estados não apresentavam dados confiáveis de
monitoramento. O Instituto obteve dados referentes apenas aos Estados de São
Paulo (região metropolitana, baixada santista e interior) e Espirito Santo.
Em ambos, foi possível observar uma queda de até 78% na concentração dos poluentes analisados.
Na região metropolitana de São Paulo, todos os poluentes em todas estações e locais, tiveram sua
concentração reduzida aos patamares preconizados pela Organização Mundial de
Saúde (níveis que reduzem o risco para efeitos em saúde da população) durante a
greve. A concentração de MP10 caiu de 72,8% a 43,5% durante os dias da greve.
As estações que apresentaram maior queda foram Guarulhos Pimentas (72,8%) e
Marginal Tietê/Ponte dos Remédios (61,7%). No caso da concentração de
MP2,5 foi possível constatar uma retração de 70,6% a 47,5%, que foi mais
acentuada em Guarulhos Pimentas (70,6%) e Pq. Dom Pedro I (59%). A queda nos
níveis de concentração de O3 variaram de 59,6 % a 32,6%, sendo que os
decréscimos mais acentuados ocorreram em Nossa Senhora do Ó (59,6%). As
concentrações ultrapassaram esses níveis a partir do dia 30/5, quando se
iniciou o enfraquecimento da greve.
Na Baixada Santista, foi possível comprovar quedas entre
48,1% e 40% para MP10. As maiores ocorreram em Cubatão – Vale de Mogi (48,1%) e
Santos (47,1%). No caso do MP2,5, só foi possível obter informações de uma
única estação - Santos - na qual a primeira redução foi de 50%. Para o O3, a queda
ficou entre 43,7% a 25,4% para todas as estações durante os dias da greve. Os
maiores decréscimos ocorreram em Santos (43,7%) e
Cubatão – Centro (32,9 %). Durante a greve, 4 estações registraram
níveis do poluente abaixo dos limites preconizados pela OMS (níveis que
asseguram um menor risco de impactos para a saúde da população). Também foi possível notar clara tendência de aumento na concentração dos
poluentes com o fim da greve.
No interior de São Paulo, os níveis de concentração de MP10 recrudesceram de 65,2% a 15,5%, sendo que as maiores quedas
foram registradas em Araraquara (65,2%), Paulínia – Sta Terezinha (60,4%),
Jundiaí (58%), Campinas - Taquaral (56,8%), Ribeirão Preto - Centro (56,5%).
São José dos Campos registrou a menor queda, 15,4%, seguida por Presidente
Prudente (22,4%), Marília (24%) e Araçatuba (24,4%). Santa Gertrudes, a estação com maior nível de concentração do poluente, manteve-se acima do
limite preconizado pela OMS (máxima 97 mcg/m3, mínima 49 mcg/m3) em todos os
dias, com exceção de 27/06, quando chegou ao nível de 49 mcg/m3.
No caso da MP2,5, foi possível observar uma retração de 50% a
23,5% durante os dias da greve. As maiores quedas foram registradas em
Ribeirão Preto – Centro e São José do Rio Preto (ambos 50,0% de queda),
Campinas – Vila União (47,1%), Piracicaba (37,5%), São José dos Campos
(31,6,3%) e Taubaté (23,5%). A única estação que apresentou valores acima do limite preconizado pela OMS no
período estudado foi Campinas – Vila União, nos primeiros dias, até́ dia 24/06. As demais estações se mantiveram abaixo dos limites da OMS (níveis que
asseguram menor risco de impactos sobre a saúde da população). No dia 01/06, nenhuma estação havia ainda ultrapassado este
limite.
Os níveis de concentração de O3 mostraram a queda de 62,6% a 28,2% para todas as
estações do interior de São Paulo durante
os dias da greve. As maiores quedas ocorreram em Paulínia (62,6%), Americana – Pq Nações (62,2 %); São José do Rio Preto (59,8%); Campinas -
Taquaral (59,2%); Jundiaí e Araraquara (ambas com 59%). Das 23 estações analisadas, em 11 (47,8%) delas as quedas situam-se acima de
50%. De forma geral, 12 estações estavam com níveis do poluente acima dos limites
preconizados pela OMS (níveis que asseguram a saúde da população) no dia 23/05 e apenas 3 no dia 24/06. A partir do dia 25/5,
nenhuma delas. As concentrações ainda não haviam ultrapassado os níveis mais
seguros até́ o dia 01/06, último dia do
levantamento de dados do estudo do Instituto Saúde e Sustentabilidade
No Estado do Espírito Santo, as concentrações
de MP10 e MP2,5 e ozônio sofreram maior queda nas estações de Vila Velha IBES
e Cariacica Vila Capixaba. Para MP10, observou-se -se a queda de medidas entre
78% e 52%, e os níveis de concentração de O3 mostram queda de 70,6% a 44,2%
para todas as estações durante os dias da greve.
Para a Dra. Evangelina, “os dados comprovam a necessidade de
revisão e elaboração de políticas públicas e o cumprimento de resoluções ou leis já existentes para uma série de ações, tais como avanços no Programa Proconve para a Fase P8 ou Euro VI, nas quais se
reduz drasticamente as emissões de MP E NOx, substituição de combustível fóssil, principalmente o diesel por
combustíveis mais limpos, realização de inspeção veicular, melhoria no transporte público e estímulo à
mobilidade ativa, reduzindo a circulação de veículos. Todas estas
iniciativas são extremamente importantes para o
avanço na redução de emissões de poluentes danosos para a saúde”, conclui.
QUASE TRÊS DÉCADAS DE DESCUMPRIMENTO DA LEI
A intenção original de mapear o impacto da greve em todo o país
foi frustrada porque quase três décadas depois do estabelecimento do PRONAR,
(Resolução CONAMA 05/1990), três em cada quatro estados brasileiros não
realizam monitoramento de qualidade do ar, ou realizam de forma obsoleta
(poluentes desatualizados) ou ineficiente. Em cinco estados os dados não se
encontravam disponíveis nos seus órgãos ambientais estaduais: Distrito Federal,
Mato Grosso, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. No caso do INEA,
no Rio de Janeiro, o site encontrava-se em manutenção.
“É alarmante constatar que os governos estaduais descumprem uma
norma que existe há quase 30 anos, ainda mais quando ela tem relação direta com
a saúde dos cidadãos”, afirma a Dra. Evangelina Vormittag, diretora do
Instituto Saúde e Sustentabilidade, lembrando que a Organização Mundial de Saúde já constatou que a
poluição do ar é responsável por mais de 50 mil mortes por ano apenas
no Brasil e mais de 9 milhões em todo o mundo. No total do continente
americano, ela é responsável por 35% das mortes por doenças pulmonares, 15% das mortes por doenças cérebro vasculares, 44% das mortes por doenças do coração e 6% das mortes por câncer de pulmão. Segundo o Instituto Saúde e
Sustentabilidade, a poluição atmosférica é responsável por 17 mil mortes no
Estado e 4.700 mortes ao ano na cidade de São Paulo, ultrapassando o número de mortes por homicídios,
acidentes de trânsito, AIDS, câncer
de mama e câncer de próstata. “Apesar disso, os Estados abriram mão de ter
dados confiáveis para planejar ações e políticas de saúde pública, em um
flagrante desrespeito ao cidadão e contribuinte brasileiro”, completa.
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